Adis Abeba - Vários camiões que transportam ajuda alimentar crucial para a região de Tigray, na Etiópia, estão bloqueados num posto de controlo na região vizinha de Afar, disseram hoje fontes humanitárias.
O Governo etíope e os rebeldes da Frente de Libertação do Povo de Tigray (TPLF, na sigla em inglês), que lutam entre si há mais de 14 meses no norte do país, culpam-se mutuamente pela situação.
Na semana passada, a ONU disse que as distribuições de alimentos estavam no nível mais baixo de todos os tempos em Tigray, onde o conflito armado empurrou centenas de milhares de pessoas para "condições de quase inanição".
No domingo, 27 camiões transportando 800 toneladas de alimentos partiram de Afar para a capital de Tigray, Mekele, usando a única rota terrestre funcional, segundo o Programa Alimentar Mundial (PAM).
Entretanto, o comboio de camiões está bloqueado desde segunda-feira num posto de controlo na cidade de Serdo, disseram hoje à agência de notícias AFP dois funcionários humanitários, que ainda não sabem se os veículos poderão continuar o seu caminho.
Na noite de segunda-feira, o porta-voz do Governo etíope, Legesse Tulu, disse que os rebeldes "atacaram" vários locais, incluindo a cidade de Abala, na fronteira entre as duas regiões, "cortando a principal via de ajuda humanitária".
Dezenas de milhares de pessoas foram deslocadas em três dias e "não há forças de defesa do Governo nesta área", acrescentou o porta-voz.
Por outro lado, a TPLF acusou as forças pró-governo de provocarem confrontos na região. As alegações das partes não puderam ser verificadas de forma independente.
No domingo, a Etiópia anunciou que permitiria mais voos "para reforçar o transporte terrestre" de alimentos e medicamentos para Tigray.
A guerra no Tigray eclodiu em 04 de Novembro de 2020, quando o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, enviou o exército federal para aquele estado no norte do país, com a missão de retirar pela força as autoridades locais da TPLF que estavam a desafiar a autoridade de Adis Abeba há muitos meses.
O pretexto específico da invasão foi um alegado ataque das forças estaduais a uma base militar federal no Tigray, e a operação foi inicialmente caracterizada por Addis Abeba como uma missão de polícia, que tinha como objetivo restabelecer a ordem constitucional e conduzir perante a justiça os responsáveis pela sua perturbação continuada.
Abiy Ahmed declarou vitória três semanas depois da invasão, quando o exército federal capturou a capital estadual, Mekele. Em Junho deste ano, porém, as forças afectas à TPLF já tinham retomado a maior parte do território do estado do Tigray, e continuaram a ofensiva nos estados vizinhos de Amhara e Afar.
Em Novembro, as forças do Tigray e forças insurgentes aliadas da Oromia (outro estado etíope) começaram a retirar das áreas ocupadas para a região de origem. Em contrapartida, o poder em Adis Abeba comprometeu-se em não voltar a invadir o Tigray.
O exército federal assentou posições nas fronteiras de Tigray e retomou o controlo de várias posições anteriormente nas mãos das forças da TPLF em Amhara e Afar. Entretanto, forças de Amhara invadiram já partes do Tigray ocidental.
O conflito na Etiópia provocou a morte de vários milhares de pessoas e fez mais de dois milhões de deslocados, deixando ainda centenas de milhares de etíopes em condições de quase fome, de acordo com a ONU.