Luanda – O sector agrícola de Angola recebeu uma doação de 8,8 milhões de euros (mais de oito mil milhões de kwanzas) da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), para reforçar o aumento da produção do café robusta no país, através do projecto “Mukafe”.
O projecto Mukafe prevê beneficiar famílias produtoras de seis municípios das províncias do Uíge, Cuanza Norte e Cuanza Sul, regiões com elevada produção do “bago vermelho”.
Com um período de cinco anos de implementação, a partir do corrente, 2023, o projecto foi apresentado esta segunda-feira, em Luanda, pelo Ministério da Agricultura e Florestas, um evento que contou com a presença de produtores nacionais e representantes do corpo diplomático acreditado em Angola.
Segundo a coordenadora do Mukafe, Júlia de Carvalho, com o referido financiamento, o sector da Agricultura espera abranger aproximadamente 500 mil agricultores familiares, uma meta alcançada em 1973, período em que Angola foi um dos maiores produtores de café no mundo.
Júlia de Carvalho disse que um dos principais desafios do sector passa pelo alcance da produção de cerca de mil quilogramas por hectare de café comercial, prevendo cultivar num espaço de 100 mil hectares, com vista a superar a actual produção de perto de 200 quilogramas/hectare.
Por outro lado, a embaixadora da UE em Angola, Jeannette Seppen, referiu que o Mukafe faz parte de um programa mais amplo lançado em 2020, para apoiar a diversificação da economia angolana, a "primeira prioridade do Governo".
Afirmou que essa iniciativa permitirá relançar a cadeia de valor desse produto, com a criação de empregos dignos para os mais vulneráveis, particularmente as mulheres e os jovens, assim como colocar Angola no ranking dos cafés de especialidade.
De acordo com a diplomata, o apoio financeiro às cadeias de valor do café facilitará a transição de Angola de um produtor histórico de grande escala de café robusta comum para um produtor especializado de alta qualidade.
Para Jeannette Seppen, o objectivo subjacente a essa transição é obter um retorno económico mais elevado das exportações do café angolano, permitindo uma melhor remuneração dos produtores e canalização de mais recursos à economia local.
A embaixadora assegurou que a União Europeia está a finalizar um acordo com a AFD para expandir o Projecto de Apoio à Formação Agrícola e Rural (PAFAR), para apoiar a capacitação de mulheres e jovens do Mukafe.
Já o embaixador da França em Angola, Daniel Vosgien, garantiu que AFD, em parceria com a UE, pretende prestar um apoio mais abrangente e pragmático possível à cultura do café, por ser de capital importância para a diversificação da economia angolana e criação de empregos de qualidade nas zonas rurais, em particular.
Por seu turno, o secretário de Estado para as Florestas, André de Jesus Moda, assegurou que, a partir de Outubro deste ano, o sector prevê distribuir cerca de três milhões de mudas de café, sendo a prioridade os produtores familiares.
Entre vários objectivos do Mukafe, destaca-se, igualmente, a melhoria da qualidade do “bago vermelho”, contribuição do crescimento diversificado, sustentável e inclusivo, bem como a melhoria do desempenho e crescimento da cadeia de valor do café, identificar e corrigir as dificuldades existentes para o aumento da produção e produtividade.
Até 1973, Angola produzia cerca de 243 mil 780 toneladas de café, tendo, em 1974, exportado 223 mil 800 toneladas, que resultaram na arrecadação de 182 milhões 400 dólares norte-americanos, tornando-se no quarto maior exportador de café a nível mundial.
O declínio dessa produção e qualidade do café angolano foi inviabilizado,fundamentalmente, pela guerra civil que assolou o país durante 27 anos. QCB/NE