Benguela – A construção de barreiras e o desassoreamento dos rios Cubal da Hanha, Coporolo e Cimo, para prevenir as cheias no litoral de Benguela, estão entre as recomendações da Conferência Provincial de Acesso à Água e Alterações Climáticas, realizada nesta sexta-feira.
O objectivo do encontro, que reuniu 121 participantes, foi debater sobre as principais preocupações das populações no domínio do acesso à água potável, as consequências das alterações climáticas e reforçar a capacidade de resiliência das comunidades.
O comunicado final do encontro, promovido pela ONG Acção para o Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), indica essas acções para evitar o transbordo dos rios que afectam as áreas de produção e infra-estruturas na província de Benguela, propensa a fenómenos naturais como fortes chuvas e descargas eléctricas.
Na base das inundações que afectam significativamente o litoral de Benguela, está a falta de diques ou barreiras e o desassoreamento dos rios, entre os quais o Coporolo, na comuna do Dombe Grande, município da Baía Farta.
Essas recomendações surgem numa altura em que as fortes chuvas, acompanhadas de descargas eléctricas, entre Agosto de 2023 e Maio de 2024, destruíram na província de Benguela duas mil infra-estruturas familiares, deixando dez mil famílias em estado de vulnerabilidade.
A isto juntam-se 62 mortos por descargas eléctricas atmosféricas e inundações, sendo o município do Balombo o mais afectado com 13 vítimas por esse fenómeno natural, segundo as estatísticas das autoridades apresentadas no encontro.
Numa parceria com o Instituto Superior Politécnico de Benguela (ISPB), o encontro também sugere investimentos em pesquisa, infra-estrutura resiliente, sistemas de alerta precoce e cooperação inter-institucional para enfrentar os impactos climáticos na região.
Relativamente às descargas eléctricas, os participantes apelam à população que evite o uso de telemóveis e outros equipamentos que produzem campos magnéticos, não caminhando também sob as linhas de tensão alta quando se verificar fortes chuvas.
O comunicado final sublinha, igualmente, a necessidade da sensibilização dos produtores para não cultivarem nas margens dos rios nas épocas chuvosas, sujeitos a inundações.
A conferência concluiu que esses fenómenos têm causado impactos negativos sobre a riqueza das famílias, como perdas de terras e produção agrícola, do gado, ravinas, desabamento de residências e infra -estruturas, mortes humanas, alterações nos preços dos produtos, emigração das famílias e bens.
Acesso à água
Relativamente ao acesso à água para as comunidades, os presentes tomaram conhecimento sobre o défice na distribuição nas quatro cidades do litoral, que dependem de três fontes de captação, com uma capacidade de produção 92.370 m3/dia, sendo a distribuição de 73.429m3/dia.
Na sequência da partilha de experiências de mitigação do acesso à água através de tecnologias e infraestruturas adaptadas, os representantes das comunidades apresentaram soluções práticas de pequenos sistemas de aproveitamento de água das chuvas e abastecimento por cisternas.
Porém, o desafio, como acentuaram os participantes, é que as administrações locais não fazem o devido acompanhamento e abastecimento dos referidos tanques/cisternas.
Das conclusões do encontro constam ainda que a capacidade de produção de água não é suficiente para alimentar os municípios, devido à densidade populacional e a capacidade de captação instalada.
Por essa razão, o abastecimento para os bairros em Benguela e Lobito é de 36 e 44% (25 e 22 bairros), respectivamente, comparado aos 100% da necessidade.
Na ocasião, o director provincial da ADRA, Justino Nunda Figueiredo, aproveitou para realçar a importância da conferência como um espaço privilegiado para reflexões conjuntas para influência e advocacia social, para mitigar os efeitos das alterações climáticas no país.
Já o director do Gabinete Provincial de Serviços Técnicos e Infraestruturas, Fernando Ucuma, aponta a seca, as dificuldades do acesso à água e as alterações climáticas de forma geral como uma realidade em Angola, sobretudo na região Sul do país, afectando a província de Benguela.
Dos participantes, 63 dos quais mulheres, destaque para membros das comunidades da Ganda, Cubal e Baía Farta, do Governo Provincial, das instituições académicas, das administrações municipais, associações e cooperativas, da sociedade civil e sector privado.
O encontro foi apoiado pela organização alemã Pão para o Mundo, no âmbito da implementação do projecto NaturAngola pela ADRA nos municípios de Lobito, Catumbela, Benguela e Baía Farta.
Além de Benguela, o projecto NaturAngola, que visa contribuir para a implementação e difusão de iniciativas de gestão sustentável do meio ambiente em áreas periurbanas de Angola, também está a ser implementado em Luanda.
Sob tema “Impactos das alterações climáticas nas comunidades”, o painel I abordou sobre as “Consequências e as medidas de mitigação das cheias e das descargas atmosféricas nos municípios da Baía Farta e Ganda”, “Situação geral das descargas atmosféricas e das cheias na província de Benguela” e “A visão da academia sobre as cheias e descargas atmosféricas”.
Já o painel II teve como tema “Acesso à água nas comunidades”, com reflexões em torno do “Acesso à água potável na comunidade da Boa Esperança, município da Baía Farta”, “Programas Públicos em curso na província sobre o acesso à água nas comunidades” e “Panorama da distribuição da água na província de Benguela”. JH/CRB