Luanda – O politólogo e analista político Adálio Francisco disse, em Luanda, que o Sudão do Sul entrou para a categoria dos “Estados falhados” pelo facto de não ser capaz de garantir aos seus cidadãos uma “tríade” específica de um Estado.

O analista falou à Angop sobre a situação política actual no Sudão do Sul, após a detenção do vice-presidente deste país, Riek Machar, pelas forças leais ao Presidente sul-sudanês, Salva Kiir.

Segundo Adálio Francisco, os Estados falham quando não são capazes de garantir aos seus cidadãos a segurança, justiça e bem-estar social, que são especificamente da criação de um Estado de direito, e, no Sudão do Sul, não existem esses três elementos, como Estado.

“O Estado sudanês não está em condições de perseguir esses fins. Quando assim não acontece, estamos diante de um Estado que falhou e, por isso, submete a sua população, a sua própria existência, numa perspectiva de caos”, disse.

A seu ver, “um estado de falha” quando não consegue garantir a sua supervisão territorial, ter capacidade de defesa contra as agressões externas e o Sudão do Sul encontra-se nesta situação.

Referiu que, a par de todas as questões internas, ainda existem forças externas, com outros interesses, que aproveitam-se do caos para piorar ainda mais a situação.

Quando muitos grupos se rebelam quando vão actuar em Estados como Sudão do Sul, Etiópia, Somália, entre outros, fazem-no porque encontram condições adequadas para sua actuação.

Segundo referiu, antes mesmo de sua divisão, o Sudão sempre foi um estado instável, com uma sociedade difícil e complexa, com muitos factores de conflitualidade e índice de desenvolvimento humano muito baixo.

Para o politólogo, a situação do Sudão do Sul é equiparada ao que se vive na República Democrática do Congo (RDC), onde existe um problema de “construção do Estado”, enquanto instituição, no contexto africano.

“O que assistimos hoje no Sudão do Sul não vai alterar significativamente a situação no país. Porque o Sudão vive um regime que em ciência política chamamos de timocracia (uma forma de governo onde a honra é o princípio dominante), um regime militar, que não tem uma liderança política propriamente dita, mas sim político-militar”, sustentou.

De acordo com a fonte, no Sudão do Sul existe uma disputa de poder entre dois generais, que perseguem interesses pessoais e de grupos.

Por outro lado, adiantou que o conflito neste país parece ser um “problema meio esquecido”, um conflito do qual o mundo desistiu.

Referiu que a União Africana tem na sua agenda uma questão muito séria por tratar, mas que sozinha não será capaz de resolver esta situação, até mesmo pela escassez dos seus recursos.

Reconheceu igualmente a importância das partes beligerantes quererem sentar-se à mesa para a busca de soluções para o conflito.

Entretanto, a Missão das Nações Unidas no Sudão do Sul afirmou que a detenção do primeiro vice-presidente coloca o país à beira da guerra civil e apelou à contenção de todas as partes.

O Sudão do Sul, país que se tornou independente em 2011, tem uma história marcada por conflitos, incluindo a Guerra Civil Sul-Sudanesa (2013-2018) e preconceitos étnicos que persistem, com a violência étnica e a disputa por recursos naturais como factores importantes.

Guerra Civil Sul-Sudanesa (2013-2018)

Um conflito que opôs as forças do governo, liderados pelo Presidente Salva Kiir, e as forças rebeldes, comandadas pelo então vice-presidente Riek Machar, com causas complexas que incluem disputas políticas, étnicas e por recursos.

Conflitos Étnicos

A violência étnica tem sido um problema recorrente no Sudão do Sul, com conflitos entre grupos como os Dinka e os Nuer, que são os maiores grupos étnicos do país. CS/ADR