Universidades "obrigadas" a promover estágios curriculares

     Educação              
  • Luanda • Segunda, 14 Novembro de 2022 | 10h52
Vista parcial da Universidade Agostinho Neto (UAN)
Vista parcial da Universidade Agostinho Neto (UAN)
Angop

Luanda - As instituições do ensino superior em Angola passam a estar obrigadas a apresentar os protocolos estabelecidos com empresas locais para estágios curriculares de estudantes, informou esta segunda-feira, o director Nacional do Ensino Superior, Emanuel Catumbela.

Em entrevista exclusiva à ANGOP, o responsável fez saber que o estágio não pode ser apenas no final do curso, para três meses, e deve começar desde o início da formação.

“É ponto assente que existem estágios no ensino superior, não na dimensão que gostaríamos, mas existem. Variam em termos de instituição, há as que estão mais avançadas, melhor organizadas e aquelas que ainda estão incipientes”, salientou.

Esclareceu que, nos últimos cinco anos, foi feito um trabalho para melhorar a legislação, de tal forma que em Agosto de 2020 foi aprovada e publicada a lei de bases do subsistema de ensino superior.

Adiantou que o Decreto 332/22, de 10 de Agosto, estabelece as regras e os procedimentos para a criação e o licenciamento de Instituições de Ensino Superior, bem como para a criação de Cursos de Graduação e Pós-Graduação no Subsistema de Ensino Superior.

Explicou que, doravante, as instituições para o efeito deverão apresentar os protocolos estabelecidos com as entidades empresariais, citando como exemplo o Instituto Superior Politécnico do Bengo que teve de passar por este processo antes da sua aprovação, bem como a Escola Superior de Saúde Castelo (ESCA), em Luanda.

Considerou que quanto às mais antigas, está em curso o processo de reavaliação institucional, além das visitas de orientação metodológica que o ministério de tutela faz às instituições, para estimular a aprofundar os instrumentos de cooperação que têm com as empresas privadas.

“Algumas têm, mas não é suficiente pela quantidade de estudantes que vão à instituição, nem pela qualidade, nem no tempo em que as empresas recebem os estudantes”, referiu.

Realidade

Fez saber que o Ministério do Ensino Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação constatou, nestes últimos, que vários estudantes não tiveram estágios durante a sua formação superior, o que representa uma lacuna na componente prática pretendida para um quadro competente.

"O que se nota é que muitos estudantes frequentam os quatro ou cinco anos de licenciatura e não têm a possibilidade de frequentar um estágio curricular, dificultando o ingresso na vida profissional do licenciado", sustentou.

Por sua vez, o estudante de Comunicação Social, da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Agostinho Neto (UAN), Ismael Diniz, considerou a falta de estágios uma barreira à falta de estágios, pois fica-se limitado à teoria e não se consegue aliar a prática.

Finalista do referido curso, explicou que nunca conheceu nenhuma redacção de um órgão de comunicação social, constituindo um entrave para suas pretensões futuras, pois deseja ser um profissional de imprensa.

Otoniel Augusto, estudante de jornalismo, do Instituto Superior Metropolitano de Angola, não teve estágio e isso dificultou a sua inserção, apesar da instituição possuir uma rádio universitária para práticas.

Já Gilberto Oleque, licenciado em Engenharia Hidráulica na UAN, diz que a sua experiência foi frustrante por não ter tido estágio, apenas algumas visitas de estudo à Barragem de Cambambe.

Para ele, o ciclo de formação superior deve preceder de um estudo do perfil de entrada às necessidades de estágios e actividades desempenhadas pelas empresas.

"O que se tem visto são planos curriculares antiquados ou desajustados a essa realidade, factor relevante para que as empresas neguem estagiários por não agregarem valor à sua actividade", disse.

Salientou que o estágio como forma de aplicação na prática dos conhecimentos adquiridos é imprescindível para, não só a consolidação dos conhecimentos, mas como a melhor transição do ciclo de formação para o profissional.

Professor no Instituto Politécnico Industrial do Nova Vida, Gilberto Oleque, sublinhou que na prática são raríssimas as empresas que disponibilizam estágios, por não haver uma estreita relação interministerial (Educação, Ensino Superior, Trabalho e Finanças).

Já Suzana Alfredo, licenciada em Enfermagem pelo Instituto Superior de Ciências da Saúde (ISCISA), da UAN, pode dar-se por satisfeita porque teve estágio curricular ao longo da sua formação, começando no segundo ano.

É dos cursos em que o estágio é praticado, por isso os estudantes de saúde podem se considerar privilegiados, afirmou.

Gestores

Para o chefe de departamento de Ciências Auxiliares e Práticas Profissionais da Faculdade de Ciências Sociais da UAN, Minguede Zinga, com o desmembramento da Faculdade em 2010, entendeu-se que era preciso, por razões de organização, introduzir outro departamento para acudir a situação dos estudantes no quesito estágio. 



Explicou que as ciências auxiliares são as que complementam os currículos de outros cursos das disciplinas já existentes, e sempre que possível os alunos frequentam os estágios.

Deu a conhecer que a instituição tem a responsabilidade de orientar e coordenar os estudantes a realizarem os mesmos, mas encontram dificuldades da parte das empresas.

Considerou que a grande dificuldade é encontrar vagas nas instituições empresariais, porque recebem promessas de que vão garantir, mas muitas vezes não acontece porque, de acordo com a Lei Geral do Trabalho, o estagiário tem direito a um subsídio.

Recordou que a faculdade recebeu várias promessas de assinatura de convênios, mas actualmente não tem acordo nenhum e não conseguiu obter razões plausíveis para não realização dos mesmos.
 

Por sua vez, o Chefe do Departamento de Arquitectura da Faculdade de Engenharia da UAN, Adélio Chiteculo, disse que tinham protocolo com várias instituições, até 2014, período que havia um "boom" em obras de construção civil no país. 



Salientou que houve alguma baixa na área da construção, sobretudo depois de 2017, e as empresas reduziram pessoal qualificado que podia acompanhar os estágios, assim como reduziu também a colaboração através de seminários.

Há também gabinetes de arquitectura nacionais, mas não tão grandes para absorver alunos para grandes contratos, mas individualmente os estudantes têm feito e conseguem estágios, garantiu.

Referiu que os alunos, a partir do 3º ano, propõem estágios, fazem algum trabalho e isto dá aos estudantes alguma robustez. Mas o que fez mesmo que baixasse os protocolos de estágio foi a baixa de obras de construção civil.
 

“Talvez agora com alguma estabilidade com projectos que tenham a ver com o Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM), isso volte a acontecer, mas actualmente estamos em banho maria, os acordos não têm sido assinados devido a baixa de construção no país”, disse.

Angola possui 183 instituições de ensino universitário, no sector público existem 11 universidades, 51 faculdades, 15 institutos, cinco escolas superiores e uma academia de ciências, e no ensino privado 10 universidades, 37 faculdades, 52 institutos e duas escolas superiores.





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