Luanda - O combate à seca no Sul de Angola fica reforçado com o novo sistema de recolha e transmissão de dados via satélite sobre os recursos hídricos e sobre a localização dos assentamentos populacionais mais vulneráveis do país apresentado hoje.
O método, designado por “Sistema de Apoio às Políticas de Combate à Seca no Sul de Angola”, funciona com três satélites norte-americanos especializados na radiografia dos solos, particularmente, na avaliação dos recursos hídricos.
A iniciativa, orçada em 550 milhões de dólares, é financiada pela Agência Espacial Americana (NASA).
O objectivo desse projecto, que tem duração de três anos, é fornecer dados ao Governo angolano sobre o estado dos recursos hídricos e a localização das populações mais vulneráveis ao impacto da seca.
Com recurso à tecnologia espacial, este sistema fornecerá, igualmente, informações sobre os locais ideais para a implementação de projectos estruturantes, como o Canal do Cafú.
Assim, o “Sistema de Apoio às Políticas de Combate à Seca no Sul de Angola” servirá como fonte de informação para o apoio na tomada de decisão sobre as políticas a curto, médio e longo prazo.
Na apresentação do referido projecto, a gestora, a norte-americana Danielle Wood, disse que o mesmo já está em funcionamento e a ser desenvolvido com quadros angolanos, particularmente, do Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional (GGPEN).
A especialista norte-americana adiantou que um software (snap) fornecerá dados que vão gerar informações precisas que vão ajudar a resolver o problema da seca cíclica no sul do país.
De acordo com a gestora do projecto vai poder estimar a intensidade da seca, a partir das avaliações feitas a terra, pelos três satélites, sobre as quantidades de água nos solos de Angola.
Por sua vez, Osvaldo Porto, gestor de projectos do GGPEN disse que neste projecto não será possível utilizar o Angosat2 devido às suas características centradas nas telecomunicações.
“Não vamos utilizar o Angosat2 porque se trata de satélite exclusivo de telecomunicações e não um de observação da terra. Para o efeito estão a ser usados satélites de sensores remotos que gravitam numa órbita inferior ao de telecomunicações ”, asseverou o especialista.
Por isso, esclarece o cientista angolano, Angola viu-se obrigada a terceirizar este serviço à NASA por necessitar de imagens de alta resolução e um satélite de telecomunicação não providencia.
Na ocasião, o secretário de Estado para as Telecomunicações e Tecnologias de Informação, Pascoal Alé Fernandes, considerou o projecto como uma importante plataforma de recolha, organização e partilha de informações sistematizadas e permanente.
“Este projecto é uma iniciativa dos sectores das TIC, em parceria com o instituto de engenharia norte-americano “Massachusetts Institute of Technology (MIT), que se junta a outras iniciativas do Governo angolano, no sentido de reduzir significativamente o impacto resultantes das cíclicas situações de seca, em particular na parte sul de Angola.
Segundo o responsável, em 2019, Angola sofreu a pior seca dos últimos 40 anos, o índice pluviómetro fixou-se abaixo dos 65 por cento dos níveis normais, deixando mais de mil e 300 pessoas das províncias do Cunene, Huíla e Namibe, com elevadas perdas financeiras, bem como o agravamento dos problemas sociais das populações locais.
O secretário de Estado afirmou que iniciativas do género catapultam Angola a posicionar-se entre os países emergentes na área espacial mundial e África. Neste momento, Angola está entre os 11 países africanos que nos últimos 10 anos mais avanços fizeram no sector espacial, facto comprovado pelo satélite Angosat2.
Já o director provincial do gabinete para as infra-estruturas da província do Cunene, Édio Gentil, considerou que o “Sistema de Apoio às Políticas de Combate à Seca no Sul de Angola”, lançado esta quinta-feira, vai ajudar na tomada de decisões ligadas às secas e às cheias que assolam o Cunene.
Nesta altura, há um contraste com os números observados em 2019, normalmente, a província só recebe chuvas entre os meses de Fevereiro e Março, mas a província está desde os finais do ano passado a sofrer cheias e com famílias a serem realojadas.