Luanda – As assimetrias, a falta de protecção à biodiversidade e a ausência de infra-estruturas de apoio são apontadas como os principais factores que atrasam o desenvolvimento do turismo transfronteiriço na região do Okavango-Zambeze, segundo a investigadora científica angolana Amélia Cazalma.
Na visão da também docente universitária, constam, igualmente, das dificuldades a falta de participação dos cidadãos na vida pública dos países, a inexistência de estradas, serviços de telecomunicações, transporte, a harmonização das culturas dos povos locais e a segurança.
Falando à imprensa, à margem da apresentação sua obra científica intitulada “O Contributo do Desenvolvimento Sustentável do Turismo nas Aéreas Transfronteiriças de Conservação, para a Inclusão das Comunidades e Promoção da Paz”, disse que Angola precisa passar os seus pontos de riqueza turística para produto turístico.
Amélia Cazalma recordou que o país possui um enorme potencial turístico, mas não consegue explorar nem obter receitas significativas por falta de infra-estruturas e de serviços de apoio, como factores para a atracção dos turistas do mundo.
Para alterar o actual quadro, a estudiosa sugere que o Governo angolano continue a construir infra-estruturas como estradas, hotéis, risorts, centros hospitalares, serviços de telecomunicações, entre outros equipamentos que promovam a atracção do turismo.
Quanto à apresentação da sua obra, que comporta 700 páginas, a autora afirmou que o livro trás uma abordagem crítica sobre o contributo do turismo para o desenvolvimento regional e para a paz nas áreas transfronteiriças de conservação da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), com enfoque na área transfronteiriça de conservação Okavango-Zambeze.
Na obra, a autora trás o modelo de desenvolvimento centrado nas comunidades locais e no turismo de natureza como ferramenta para inclusão social, económica, desenvolvimento do nível de vida das comunidades, preservação da natureza e para a sustentabilidade.
Para a investigadora, é consensual que o desenvolvimento sustentável do turismo seja um dos caminhos para o sucesso do país, através de uma competitividade e cooperação continuada nas áreas transfronteiriças.
Amélia Cazalma aponta ainda que o desenvolvimento sustentável do turismo nas áreas transfronteiriças de conservação poderá proporcionar o desenvolvimento das comunidades locais, bem como a diminuição das assimetrias e protecção da biodiversidade e da geodiversidade.
Segundo a especialista, as áreas transfronteiriças de conservação da SADC representam um factor impulsionador de dinâmicas positivas, no quadro de um turismo sustentável e da protecção ambiental, para além do desenvolvimento das comunidades, da redução da pobreza, minimização da insegurança e integração das comunidades rurais.
Por isso, Amélia Cazalma espera que a sua obra contribua na consciencialização da indústria do turismo para um desenvolvimento sustentável nas zonas transfronteiriças de conservação, assim como a inclusão das comunidades rurais, a estabilização e de promoção da paz regional e planetária.
Entre as qualificações, a professora doutora Amélia Cazalma é PhD em Ciências da Educação pela Universidade de Granada (Espanha), PhD em Turismo, Lazer e Cultura Coimbra - Portugal). Actualmente, a docente e investigadora angolana da Universidade Metodista de Angola (UMA) está a preparar a terceira tese de doutoramento em Medicina Integrativa, numa das academias da África do Sul.
Projecto ATFC-KAZA
A Área Transfronteiriça de Conservação do Okavango/Zambeze (ATFC-KAZA) é um projecto que abrange uma zona de aproximadamente 520 mil quilómetros quadrados. Desta área, Angola detém a segunda maior parcela, com 90 mil quilómetros quadrados, superada pela Zâmbia, com 97 mil, enquanto as restantes 98 mil quilómetros pertencem ao Zimbabwe, Botswana e Namíbia - este último com a menor parcela territorial.
Em Angola, a ATFC-KAZA está situada na província do Cuando Cubango, abrangendo os municípios do Cuito Cuanavale, Dirico, Mavinga e Rivungo, onde estão localizados os parques nacionais de Mavinga e Luengue-Luiana.
A ATFC-KAZA tem como objectivo impulsionar a criação de uma colaboração transnacional, a cooperação entre os Estados- membros da SADC, promover alianças na gestão de recursos biológicos e culturais, encorajar a cooperação social e económica.
Essa área inclui, do lado angolano, os parques nacionais de Luengue-Luiana e Mavinga, que se interligam com várias atracções turísticas dos outros países integrantes, como as quedas de Victória Falls (Zimbabwe), Delta do Okavango (Botswana), parque do Bwabwata (Namíbia) e parque do Kafue na Zâmbia.
O programa é o maior destino eco-turístico a nível mundial, ligando 36 áreas de conservação dos cinco países, tem a maior reserva de água doce do universo, a maior população contígua de elefante africano, mais de 200 mil, mais de 600 espécies de aves, 128 de répteis, 50 de anfíbios e diversos tipos de invertebrados, bem como várias tipologias de animais em vias de extinção. OPF/QCB