Luanda – Com o início efectivo das operações da Africell, a 7 de Abril último, o mercado das telecomunicações e de telefonia móvel tornou-se mais competitivo e dinâmico em Angola, obrigando as operadoras a inovarem, para alargarem ou preservarem a sua rede de clientes.
Por Leopoldino Pertence e Moisés da Silva
Apesar das inovações, registam-se, nos últimos meses, perturbações quase sistemáticas na rede das diferentes operadoras: a nova “patente” britânica, a Unitel e a Movicel, situação que gera dúvidas junto dos utentes em relação às melhores e mais fiáveis opções do mercado.
Sendo certo que as três operadoras são válidas e estão a ser solicitadas, não deixa de ser assinalável, por esta altura, o facto de o surgimento da Africell forçar as concorrentes directas a “reinventarem-se”, para não perderem clientes e verem reduzir, paulatinamente, as receitas.
Desconhecida de grande parte dos utentes nacionais, a Africell tem vindo a investir forte na sua campanha de marketing, nos serviços (planos de voz/dados), praticando baixos preços, gratuidade na comunicação entre utentes da mesma rede, entre outros serviços.
É, pois, irrefutável, que a empresa trouxe motivação extra às operadoras concorrentes, que ainda estão a comunicar em 3G e 4G, apesar de receberem do INACOM (entidade reguladora), recentemente, as licenças para o serviço 5G, considerado, por muitos, de sistema tecnológico invasivo e que promete mudanças na vida social em 5D.
Trata-se, efectivamente, de uma nova revolução nesse dinâmico sector em Angola, onde ainda paira a dúvida sobre quem será a primeira operadora de telefonia móvel a proporcionar aos seus clientes este serviço tão aguardado pelos clientes.
Pretende-se com a tecnologia 5G, assegurar maior rapidez da Net, custos mais baixos e facilidade de acesso e durabilidade dos planos.
Além da Africell, o teletrabalho também está a fomentar essa renhida disputa entre as operadoras, que vão ajustando os planos de voz e dados, assim como praticando preços mais ou menos ao alcance dos “bolsos” dos cerca de 15 milhões de utentes de telemóveis.
Para lançar-se no mercado angolano e dar cobro à concorrência, a Africell investiu cerca de 100 milhões de dólares norte-americanos, contabilizando já cerca de 2 mil clientes desde o início de operações, e 400 mil kwanzas pelos contratos com os cidadãos.
Trata-se de uma firma criada no Líbano, dirigida actualmente a partir da capital britânica, que angariou, nos últimos cinco anos, 324 milhões de Euros de entidades como a Agência de Investimento norte-americana US International Development Finance Corporation.
Segundo informações, estes valores resultaram, também, dos fundos Gemcorp e Helios Investment Partners e da International Financial Corporation, que faz parte do Banco Mundial.
Em Angola, tornou-se na terceira operadora de telefonia móvel e a quarta, no geral, depois da Movicel, da Unitel e da Angola Telecom.
Números, produtos e planos
Dados apontam que 15 milhões, dos quase 32 milhões de habitantes em Angola, têm um telefone com capacidade para aceder à internet, subida percentual de 46% comparando com o ano anterior.
Contudo, o país tem perto de 2,20 milhões de usuários activos nas redes sociais, gastando em média/dia 3 horas e 43 minutos na internet.
Os números indicam que cerca de 55% dos usuários acedem à internet por via dos aparelhos móveis, enquanto computadores portáteis e de mesa correspondem a 43,3% de utilizadores.
Entretanto, ainda é bastante reduzido o número dos usuários que acedem via Tablet, correspondendo apenas a 1,7% dos internautas.
Enquanto isso, o Instituto Angolano das Comunicações indica que em 2019 o número de subscritores de serviços de telemóvel tinha recuperado, pela primeira vez, em cinco anos, aumentando 12% relativamente a 2018, para 14,8 milhões.
Por sua vez, a taxa de penetração passou de 45% para 49%.
A Unitel domina o mercado, com cerca de 80%, à frente da Movicel, que tem cerca de 20%, enquanto que a Angola Telecom (empresa estatal em processo de privatização) possui apenas uma posição residual, num mercado que se espera crescer muito mais, com a competitividade a aumentar lealmente.
Portanto, desde o dia 7 de Abril último, o subsector das telecomunicações Angola está muito mais animado, com a estreia da terceira telefonia móvel, que traz, entre outras novidades, comunicação gratuita entre intervenientes da mesma rede e preços reduzidos até 50%, em comparação aos praticados actualmente.
Singularmente, a Unitel oferece o Tarifário Baza (fala a custo zero na mesma rede), os planos Redes Sociais 1GB (válido por 7 dias, 500 km); “Mais ágil” (7dias por 2000 km); “Mais leve” (7 dias por 500 km), além do “Semana laranja, Navega a dobrar” (net ao dia 100 MB por 1000kz, 200 MB por 200kz, 400 MB por 350kz, 1GB por 700kz).
A Movicel dispõe dos planos “karga Nice” (30 dias por 2000kz); “Flex” por 500kz; “Kamba 3” (por 1.500kz, 30 dias), “Kamba 10” (30 dias por 5000kz), “Karga tudo” (30 dias com 10, 40 e 50 unidades de voz), e outros planos mensais a partir 2500 (“Kuia”, “Kuia mais” e “Tá-kuiá”, a partir de 100, 200 e 500 km, respectivamente).
Já a Africell tem planos de voz, SMS e dados, distribuídos pelos pacotes “Combo Semana” (15GB+500mns+500sms por apenas 1200kz durante 7 dias); “Fala Bué Mensal” (500MB+1000mns+1000sms por 1800 kz, durante 30 dias); “Mega Fala Bué Mensal” (3GB+1500mns+1500sms por 3200 kz durante 30 dias).
Como nova e com vista a apresentar serviços diferenciados face aos concorrentes directos, essa firma, cujo sócio maioritário é norte-americano, colocou também ao dispor dos “telecomunicadores” o plano “Net Essencial Mensal” (4GB+1500mns+1500sms por 4000 Kz durante 30 dias), com o chip a custar 200 Kwanzas.
Guerra económica e tecnológica
Segundo o economista Alberto Borges, com a entrada da nova operadora vai-se assistir a uma possível guerra de preços entre três dos quatros players do mercado, impulsionando a melhoria dos serviços e a reengenharia dos modelos de criação e entrega de valores pelas operadoras, além de promover o bem-estar dos consumidores.
“O que estamos a ver é que a nova operadora se apresenta com uma política de penetração muito agressiva, baseada no preço. Normalmente, uma estratégia desta natureza pode estribar que esta venha a operar um modelo de criação e entrega de valores ao mercado que é relativamente mais eficiente e económico”, antevê.
Porém, alerta para o facto de, diferente dos concorrentes que já se estabilizaram, poder ser apenas uma medida temporária para forçar a uma redistribuição da quota de mercado, tendo em conta que esse mosaico já é mais ou menos saturado.
Neste último cenário, comenta o especialista, não é expectável que os preços que está a praticar actualmente se mantenham por muito tempo.
Entretanto, embora a Unitel e a Movicel sejam as pioneiras, tem-se notado algum desequilíbrio em termos de qualidade de sinal, com a primeira empresa a evidenciar-se positivamente, porque, segundo especialistas, não bastam os melhores pacotes.
Os investimentos técnicos e tecnológicos são importantes para a garantia da qualidade do sinal.
Sustentam que, com a entrada da Africell, está-se agora diante de um verdadeiro palco para mostrarem todo o poder de penetração e criatividade, com vista a oferecerem serviços aliciantes como o “fala grátis”, desta última companhia, que obrigou a Unitel a lançar o plano “Baza”, num segundo chip e não acoplado aos em uso.
Conforme especialistas, mais do que venderem produtos e serviços, estas devem, de igual modo, redobrar a aposta nos recursos humanos, um dos pontos fortes da Unitel, que dispõe de uma academia onde são formados estudantes dos cursos de engenharia/tecnologia, para, progressivamente, irem sendo inseridos no quadro de pessoal técnico.
A esse respeito, a Angola Telecom (a primeira de facto no país e a única que não possui serviço móvel) parece ser privilegiada e estar bem servida nesse quesito, uma vez que tem “prioridade absoluta” no recrutamento de estudantes formados ou em formação no Instituto Médio de Telecomunicações (ITEL) e nas várias faculdades públicas.