Luanda - O satélite angolano ANGOSAT-2, lançado em órbita na quarta-feira, 12, em Baikonur, no Cazaquistão, já emitiu os primeiros sinais que dão conta do posicionamento do painel solar em direcção ao sol, carregando as baterias, e o funcionamento de os seus subsistemas.
O satélite, ao enviar os primeiros dados na estação terrena em menos de 24 horas, indica que a missão foi um sucesso e doravante começam os testes que culminarão, em 90 dias, e só depois a contraparte russa procederá a entrega oficial ao Estado angolano.
“Após quatro anos de trabalho duro e contratempos, lançamos, com sucesso, o satélite ANGOSAT-2. O painel solar girou em direcção ao sol e estamos em controlo do ANGOSAT-2. Todos os subsistemas estão em pleno funcionamento (...) Carregando”, escreveu na sua página oficial o director do Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional (GGPEN), Zolana João.
Trata-se de um projecto que do Executivo para diminuir a exclusão digital de Angola e do continente, permitindo expandir serviços de telecomunicações às zonas mais recônditas do país a preços competitivos.
O satélite angolano comporta uma série de serviços, que vai cobrir o continente africano, com maior ênfase para a região sul, e parte significativa do sul da Europa.
O ANGOSAT-2 tem uma capacidade de transmissão sete vezes mais do que o primeiro aparelho, que tinha 16 “transponders” (retransmissores) na Banda C e seis na Banda KU.
O ANGOSAT-2 tem ainda seis “transponders” na Banda C, 24 na Banda KU e, como novidade, um retransmissor na Banda KA.
Com o peso total de duas toneladas, é um satélite de Alta Taxa de Transmissão (HTS) e disponibilizará 13 gigabytes em cada região iluminada (zonas de alcance do sinal do satélite). O satélite será baseado na plataforma Eurostar-3000 e com 15 anos de tempo de vida útil.
Este satélite começou a ser construído a 28 de Abril de 2018, nas instalações da Airbus, em França, onde foi instalada toda a carga útil do satélite, todos os componentes que estão a permitir o seu funcionamento.
A estrutura foi depois transferida para a fábrica da ISS Reshetnev, na cidade "fechada" de Zheleznogorsk, próximo de Krasnoyarsk, na região da Sibéria, onde foi produzida a carcaça e instalado o mecanismo de arranque. Seguiu-se a transferência para o local de lançamento, na estação aeroespacial de Baikonur, no Cazaquistão, de onde saiu para a órbita espacial.
Na ocasião o ministro das Telecomunicações, Tecnologia de Informação e Comunicação Social, Mário Oliveira, salientou que o foco principal do satélite é a expansão dos serviços de telecomunicações de onde advém a Telemedicina, o Teletrabalho, baseado no serviço de internet que é capaz de exportar.
Conforme Mário Oliveira, já têm sido contactados por países africanos, sobretudo os da SADC, para prover serviços a estes estados, com destaque para os serviços de telecomunicações.
O ANGOSAT-2 surgiu com a missão de substituir o ANGOSAT-1, o primeiro satélite angolano que foi lançado em órbita a 26 de Dezembro de 2017, mas desde então enfrentou problemas.
A construção é consequência do protocolo complementar entre Angola e a Federação Russa ao contrato de fabricação do Angosat-1, lançado em Dezembro de 2017, mas que depois se perder telemetria no espaço e apresentar problemas após a sua recuperação.
Após o lançamento houve uma perda primária de contacto devido a uma falha no subsistema de alimentação do satélite logo após este entrar em órbita, embora as comunicações tenham sido recuperadas, houve problemas na fonte de alimentação do satélite.
ANGOSAT-1
Foi um investimento do Estado angolano de 320 milhões de dólares (269,6 milhões de euros), foi lançado a 26 de Dezembro de 2017.
O contrato prévia, no caso da impossibilidade de se colocar em órbita o ANGOSAt-1, a obrigação da outra parte em repor os serviços. É o que foi feito e culminou com o lançamento do AngoSat2, que agora tem 90 dias de teste até começar a servir o país e o mundo.
O documento (contrato) prevê também que, enquanto se esperava pela construção do novo satélite, a contra parte deveria compensar. Daí estar disponível um sinal de um satélite russo para Angola.
Durante estes anos de construção do AngoSat2 o país está a beneficiar dos serviços de telecomunicações no âmbito da compensação. “Neste âmbito Angola está a ser compensada com sinal de dois satélites, sendo o AM7 que envia sinal na banda C e o E3B que envia sinal para a banda KU, seja um da Rússia e outro da Europa até que seja oficialmente entregue às autoridades angolanas o Angosat2”, daqui há 90 dias.
São compensações que visam colmatar os problemas verificados no Angosat 1, à luz do contrato que obriga a parte russa a assumi-las na totalidade, incluindo as reservas feitas pelos interessados na compra do sinal. E por sua vez, traduzem-se na atribuição, sem qualquer custo para Angola, de 216 Megahertz na Banda C, e 216 Megaheartz na Banda Ku.
Benefícios do ANGOSAT-2
Entre os benefícios, destaca-se a geração de receitas, tendo em vista que cobre todo o continente africano, parte significativa do Sul da Europa e cobertura quase total da região Sul de África, diminuição da exclusão digital de Angola e do continente africano, expansão dos serviços de telecomunicações às zonas mais recônditas do país a preços competitivos, possibilidade de maior desenvolvimento da telemedicina à nível nacional e a criação de novas oportunidades de emprego nas áreas ligadas à tecnologia espacial, como exemplo, manutenção e instalação de antenas VSAT.
ANGOSAT-3
No âmbito da entrada de Angola na indústria espacial, o país tem ainda um contrato comercial de construção, lançamento e colocação em órbita de um satélite de observação da terra, o ANGOSAT-3, segundo um despacho presidencial publicado no Diário da República.
No despacho 62/19, datado de 08 de Maio, o Presidente da República, João Lourenço, autoriza o Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação e Comunicação Social a assinar o contrato, bem como a tratar de "toda a documentação relacionada com o projecto em nome e em representação de Angola".
No preâmbulo do despacho presidencial é escrito que o ANGOSAT-3 surge no quadro da "Estratégia Espacial da República de Angola 2016-2025" e da "importância vital da utilização do espaço para fins pacíficos" para o desenvolvimento socioeconómico e o posicionamento estratégico de Angola.
"A utilização do espaço contribui de forma transversal para o desenvolvimento dos sectores produtivos e não produtivos que permite uma gestão eficiente dos recursos minerais, navegação marítima e aérea, bem como para um melhor planeamento territorial, controlo e defesa das zonas transfronteiriças", argumenta-se no documento.