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Subida do preço do cimento aperta no bolso de consumidores em Benguela

     Sociedade              
  • Benguela • Quarta, 18 Dezembro de 2024 | 18h51
Interior de uma fábrica de cimento em Benguela
Interior de uma fábrica de cimento em Benguela
DR

Benguela – Cada vez mais consumidores, na província de Benguela, ressentem das dificuldades de aquisição do cimento, devido à subida crescente do preço no mercado, principalmente nos últimos três meses do ano, apurou a ANGOP.

Até Setembro deste ano era possível comprar um saco de 50 quilogramas de cimento a pouco mais de cinco mil kwanzas. Mas o valor subiu para 6.600 kz, 7.500 kwanzas, chegando a custar oito mil em alguns pontos, no mercado informal.

O gerente de uma loja no bairro da Graça, nos arredores da cidade de Benguela, Benedito Ndoluca, confirma que, há duas semanas, o preço do produto foi ajustado, passando de 6.800 Kz para 7.500 kz.

Benedito Ndoluca aponta como razão o aumento do preço por parte dos fornecedores nos últimos meses, o que, a seu ver, está a deixar os revendedores sem alternativa.

“Os fornecedores estão sempre a subir o preço. Isso obriga-nos a alterar o valor”, afirma o gerente, notando que essa alteração não tem a ver com a quadra festiva, mas está directamente ligada aos fornecedores.

Para a gerente de uma loja à entrada do bairro do Tchipiandalo, junto à Estrada Nacional EN100, Maria de Lurdes, o saco de 50 kg de cimento Yetu está a custar sete mil kwanzas contra os anteriores 6.800 kz.

Maria de Lurdes também frisou que os fornecedores alegam, por sua vez, o aumento do preço do produto nas cimenteiras, nomeadamente nas províncias de Benguela (Cimenfort e Secil), Cuanza-Sul (Yetu) e Luanda (Cimangola).

Apesar de reconhecer que esta realidade pesa no bolso do cidadão, a gerente justifica que à medida que a situação se mantém inalterável, os revendedores irão ajustar o valor de venda do produto para ter algum lucro.

Já no centro da cidade de Benguela, a ANGOP constatou que na maioria das lojas, detidas maioritariamente por estrangeiros, sobretudo malianos, mauritanianos e eritreus, o saco de 50 kg de cimento custa, no mínimo, 6.600 kz, ligeiramente mais acessível do que na periferia.  

Um responsável de uma loja junto ao histórico largo da Peça revelou, sob anonimato, que a cada semana o preço do cimento aumenta entre 200 e 300 kwanzas nas cimenteiras do país, daí a subida galopante no mercado.

Esse gerente, por sinal um estrangeiro, lamenta que essa situação esteja a afugentar os clientes e, consequentemente, a reduzir as vendas de cimento nas lojas.

Sindicato fala em momento difícil

A propósito, o secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Construção e Habitação de Benguela, Cândido Victorino, associa a oscilação do preço aos elevados custos de produção do cimento.

Até porque, disse, as cimenteiras nacionais queixam-se constantemente de dificuldades na aquisição da matéria-prima, nomeadamente o clínquer para a produção do cimento.

Visto ser uma preocupação para o sector, o sindicalista apelou ao Governo que ajude o empresariado com políticas que facilitem a aquisição não só da matéria-prima, mas também das peças sobressalentes para as máquinas das fábricas.

O responsável diz que o sector está a atravessar um momento menos bom, por conta da crise, o que está a paralisar muitas obras e a criar desemprego.

É que, para Cândido Victorino, a subida do preço do cimento tem um impacto bastante negativo na economia nacional, porquanto paralisa muitas obras e, consequentemente, atira ao desemprego centenas de jovens.

Consumidores agastados

Com a obra paralisada há quase um ano, o cidadão António Candele queixa-se de que o preço do cimento no mercado está a subir de forma assustadora.

“Já parei a minha obra e não consigo fazer mais nada há quase um ano”, admite o consumidor, denunciando que, a essa altura, o saco de 50 kg de cimento já está a ser vendido a oito mil kwanzas em alguns pontos de distribuição em Benguela, facto que considera absurdo.

Além disso, António Candele adianta que o preço de outros materiais de construção, como o bloco e o ferro, também estão desajustados da realidade actual, levando muitas pessoas a suspender obras.

 “Vamos voltar ao adobe. Tudo está caro a cada dia que passa”, reclamou, visivelmente agastado com o valor muito alto do cimento e por isso sugere que as autoridades coloquem um travão nesta subida cada vez mais galopante.

Quem partilha o mesmo calvário é o mototaxista Fernando António, para quem esta subida vertiginosa do preço do cimento nos últimos anos matou o sonho da casa própria por parte de muitos jovens, principalmente de baixa renda.

“O cimento está mesmo muito alto e nós não conseguimos construir a casa própria”, referiu, afiançando que está na altura de o Governo rever a situação do cimento, uma vez que é produzido no país e merecia um preço mais acessível ao bolso do consumidor.

A anciã Teresa Domingos, que faz a venda do cimento por quilo, cada um a 250 kwanzas, lembrou que, até antes de Setembro deste ano, comprava o saco de cimento a 4.500 kwanzas contra os 6.800 kwanzas actuais. 

Com a clientela às moscas, a cidadã, que pratica a sua actividade junto ao largo da Peça, conta que leva até três semanas para vender um saco de 50 quilos de cimento e, assim, vai sobrevivendo penosamente. 

Atraída, há um mês, pelo negócio do cimento para fugir ao desemprego, Isabel Esperança mostra-se descontente com as constantes oscilações do preço do material de construção.

Esta jovem, que tem um bebê ao colo, diz que quando iniciou a actividade de venda por quilo, um saco custava cinco mil kwanzas, mas saltou para seis mil e 800 kwanzas.

“Só comecei a vender o cimento em quilo porque estou desempregada. Mas esse tempo o cimento está muito dificil”, finalizou a jovem, enquanto atendia um cidadão.  

No entanto, a ANGOP tentou ouvir algum responsável da Cimenfort sobre o assunto, cuja fábrica localiza-se nos arredores da cidade de Benguela, mas sem sucesso. JH/CRB 





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