Cunhinga – A Plataforma Logística a ser criada no Cunhinga, província do Bié, para efectivação do Corredor do Lobito, transformará o município em uma placa giratória do agro-negócio que impulsionará trocas comerciais no país e no exterior.
A afirmação é da administradora municipal do Cunhinga, Jorgina Lumati, que falava à ANGOP, por ocasião dos 59 anos da elevação da sua elevação à vila, que se assinalam hoje, 13 de Dezembro.
De acordo com a administradora, a concretização do projecto é aguardada com muita expectativa, por ser um empreendimento de grande vulto, com o objectivo de garantir o armazenamento e distribuição de mercadorias transportadas pelo Corredor do Lobito.
Segundo a gestora municipal, o seu funcionamento permitirá que todos os municípios localizados ao longo da linha férrea dos Caminhos de Ferro de Benguela (CFB) e outros da província, potencialmente agrícolas, tragam para o Cunhinga os seus produtos para serem transportados para os variados pontos do país e do exterior.
Numa altura em que ainda se debate com algumas dificuldades de escoamento dos produtos do campo paras as grandes superfícies comerciais, continuou, o projecto constitui-se numa solução viável para aproveitar melhor as potencialidades do sector agrícola do município e da província em geral.
"Por estas e outras vantagens, pensamos que é um grande ganho para nós, porque transformará o município numa placa giratória para o fomento do agronegócio na província e impulsionar as trocas comerciais a nível do país e do exterior, sobretudo na região da Comunidade dos Países da África Austral (SADC)", afirmou.
Jorgina Lumati apontou também vantagem para uma maior exploração e transportação dos recursos minerais e demais produtos que a região, localizada no centro de Angola, dispõe nos seus solos.
Segundo a admnistradora, são vários os benefícios esperados com a concretização deste projecto, que, no seu entender, irá alavancar a actividade económica e contribuir para o fortalecimento da economia do município e da província em geral, para além de criar empregabilidade para a juventude local.
Para a sua materialização, Jorgina Lumati assegurou que a administração municipal tem e continuará a cumprir com as suas responsabilidades, tendo já realizado trabalhos, a nível local, de identificação do espaço onde será erguida a infra-estrutura e demais aspectos afins, cujo dossier foi remetido ao Mistério dos Transportes, enquanto órgão de tutela.
Para o efeito, apelou aos investidores nacionais e estrangeiros no sentido de apostarem no município e explorarem, para além da área de agricultura, outros sectores, como o turismo.
“Temos muitas potencialidades e o Corredor do Lobito irá oferecer inúmeras oportunidades de negócio no município, que podem servir de interesse para os investidores e contribuírem na melhoria das condições de vida das populações e no desenvolvimento do município”, enfatizou.
Sector hoteleiro necessidade de investimentos
Referiu que, para além dos sectores-chave, como a agricultura e turismo, dadas as potencialidades da região, a área da hotelaria do município também precisa de investimentos, sobretudo privado.
Disse que a localidade possui algumas hospedarias e pensões, mas em número bastante reduzido para responder às necessidades, já a olhar pela demanda que será imposta pelo Corredor do Lobito.
Tendo em conta a sua localização geográfica, tem servido de transição para muitos turistas que se deslocam aos municípios do Cuito, Andulo, Nharea e à província do Huambo e vice-versa, cuja frequência espera-se aumentar com o projecto do Corredor do Lobito, abrindo várias oportunidades de negócios, descreveu.
Para além dessas áreas, apelou ao investimento no sector comercial, de modo a garantir maior oferta dos bens de primeira necessidade aos 89 mil e 440 habitantes, uma cifra que poderá aumentar com a disponibilização dos dados do Censo Geral da população e habitação, recentemente realizado no país.
Quanto ao balanço sobre a realidade socioeconómica da vila, ao longo dos seus 59 anos de existência e do município em geral, disse registar-se um desenvolvimento significativo.
“Se antigamente o município tinha sido apelidado como portão de ferro, fruto dos variados conflitos que ocorriam na localidade, hoje, com a paz, é alcunhado como terra da felicidade. Isso vem confirmar que o Cunhinga está a dar passos largos para o desenvolvimento, ganhando, desde 2002, equipamentos sociais, que estão a beneficiar a sua população, desde o sector da educação, saúde, energia e água, infra-estruturas rodoviárias, ferroviárias, fruto da execução das políticas públicas que têm sido desenvolvidas pelo Governo angolano", afirmou.
Entre as políticas públicas, destacou o Programa Integrado de Desenvolvimento Local e Combate à Pobreza (PIDLCP) e o Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM).
Mencionou a saúde como o sector social mais beneficiado, contando, actualmente, com um total de 18 unidades sanitárias, em que se destacam um hospital municipal e um centro materno infantil, com capacidade para 60 camas cada.
Já a educação conheceu o surgimento de mais de 100 estabelecimentos de ensino, dos 27 de carácter definitivo.
Energia com baixa taxa de cobertura
O sector da energia do município enfrenta inúmeros desafios, tudo porque a sede municipal ainda é abastecida por grupo de geradores e que, em função do seu tempo de vida útil expirado, vai apresentando algumas avarias.
Com o actual grupo, com uma capacidade instalada de 850 kva, ainda não é possível atender a demanda do casco urbano e zonas periféricas da vila, beneficiando apenas 750 consumidores.
Para se alterar o quadro, disse ser necessário uma capacidade igual ou superior ao antigo gerador, avariado há quatro meses, com capacidade de dois mil kva, que permitia o fornecimento normal e regular na sede, abrangendo mais de mil e 300 ligações domiciliares.
Para o efeito, fez saber da existência de um projecto de reprodução do Cunhinga a partir da rede nacional, que irá beneficiar outros municípios do corredor norte da província, como o Andulo e Nharea, a partir do sistema eléctrico da barragem de Laúca, cujo sistema será ligado a partir do município do Cuito.
No que diz respeito à água, assegurou que o município está bem servido, sobretudo na sede, que conta, desde 2018, com um centro de captação e tratamento de água, onde estão feitas cerca de 150 ligações domiciliares.
A nível das aldeias, adiantou que 94, das 142 que o município dispõe, já contam com sistemas de águas potável e que a meta é contemplar, paulatinamente, as restantes para que a população tenha acesso a esse bem e contribuir na erradicação das várias enfermidades de origem hídricas.
Adiantou que as mesmas infra-estruturas serão construídas no âmbito do eixo água para todos do PIDLCP.
PIIM consolida restauração da imagem do Cunhinha
Totalmente destruído durante o conflito armado, o município do Cunhinga viu na implementação do PIIM, aprovado em 2019, a oportunidade de reconstrução e consolidação da reestruturação da sua imagem, particularmente da sua vila municipal.
A administradora fez saber que o Cunhinga beneficiou de um total de 17 acções, sendo 10 de âmbito municipal, dois provinciais e cinco nacionais.
Assegurou que todos foram executados a 100 por cento de forma física e financeira, já entregues à população que está a usufruir dos seus benefícios, impactando positivamente nas suas vidas, em que se destacam a asfaltagem dos primeiros cinco quilómetros de estradas na sede municipal e a construção de uma escola de 12 salas de aula.
Também disse constar a construção e apetrechamento do edifício autárquico do município, do centro materno infantil com 60 camas e a reabilitação e apetrechamento do hospital missionário do Vouga, com capacidade para 300 camas.
Ressaltou que foram terraplenadas três vias que dão acesso às comunas do Belo Horizonte, à povoação da Tunda Chivava e Capeio, assim como uma acção de saneamento básico e aquisição de uma ambulância para o Centro materno Infantil.
Aposta na agricultura diversificada
Conhecida como terra do ananás, devido às suas terras férteis na produção desta fruta, no Cunhinga, o sector agrícola está virado no cultivo de outros produtos, como o milho, feijão, arroz, trigo, batata, batata doce, mandioca e hortícolas diversas.
A administradora considerou satisfatório os níveis de produção e produtividade que a região tem alcançado, apesar de ainda ser na sua maioria familiar, dando provas inequívocas das suas potencialidades agrícolas, antes às inúmeras incertezas tendo em conta a sua localização.
Explicou que os resultados positivos são fruto das políticas de incentivo aos agricultores, executadas através do eixo da agricultura, pecuária e pesca do PIDLCP, com a aquisição e distribuição de fertilizantes e todos os materiais necessários para poder massificar o sector agrícola a nível do município.
Declarou que a administração tem dado uma atenção especial neste sector, considerado a principal fonte de sustentabilidade das famílias da municipalidade e com importância fundamental no desenvolvimento da economia.
"Temos consciência que a maior produção ainda é familiar e estamos a incentivar as famílias agrícolas no sentido de se organizarem em cooperativas e associações, para que, com o apoio técnico das 108 escolas de campo, sejam facilmente munidas de técnicas adequadas para a prática da agricultura", acrescentou.
Empreendedorismo e alfabetização entre os desafios
Conforme a gestora, os principais desafios actuais da administração municipal passam pela aposta ao empreendedorismo e combate ao analfabetismo.
No capítulo do empreendedorismo, informou que meta é continuar a realizar diversos cursos profissionais dirigidos aos jovens, mulheres e demais franjas da sociedade, como ex-militares.
Depois da formação, continuou, os formandos serão beneficiados com kits para o desenvolvimento sustentável das actividades comerciais.
Ainda nesta vertente, anunciou a construção, nos próximos meses, de uma escola técnico-profissional para o combate ao desemprego no seio da juventude, que exige, antes de tudo, a capacitação técnica para que possam contribuir, com o seu conhecimento, na promoção do auto-emprego.
No que diz respeito ao analfabetismo, referiu que, apesar da taxa não ser elevada, o seu combate é um desafio tendo em conta a necessidade de se ter uma população cada vez mais letrada e com uma visão diferente sobre o mundo e com conhecimentos suficientes para a sua contextualização e inserção na sociedade.
Nesta conformidade, informou que foram capacitados, desde o princípio do ano lectivo, em que foram matriculados 30 mil alfabetizando, 150 alfabetizares voluntariados, que estão a trabalhar em variadas localidades do município, com turmas criadas no seio das comunidades, cooperativas e associações agrícolas, no sentido de ensinarem as pessoas a ler e escrever para se ter famílias emponderadas.
Apontou como perspectiva, a construção de mais infra-estruturas sociais e a terraplenagem das vias terciárias.
As jornadas comemorativas dos 59 anos, abertas no passado dia 05 e com encerramento previsto no dia 15, estão a ser marcadas com a realização de diversas actividades sociais, culturais e desportivas.
O destaque recai para uma feira de exposição dos produtos locais, com a participação de mais de 60 expositores, um fórum económico municipal, show de musico-cultural e circuito motorizado.
O município do Cunhinga, anteriormente chamado de Tchicala Changongue, dista 30 quilómetros a norte do centro da cidade do Cuito, capital do Bié.
A sua sede ascendeu à categoria de vila ao abrigo da portaria número 14.061 de 13 de Dezembro de 1965.
Com uma superfície de mil e 509 quilómetros quadrados, possui duas comunas, sendo a comuna Sede e Belo Horizonte, duas povoações, de Tunda Chivava e Capeio, 10 embalas grandes e 140 aldeias.
É limitado a norte com o município do Andulo, a nordeste com o município de Nharêa, a sul com o município do Cuito, a oeste com o município do Chinguar, e Mungo este último pertencente à província do Huambo. VKY/PLB