Luanda – O Presidente do Conselho de Administração do Memorial António Agostinho Neto, António Fonseca, defendeu, este sábado, em Luanda, a necessidade de a nova geração procurar ler e se informar mais sobre o pensamento do Fundador da Nação e da história de Angola.
Em entrevista à ANGOP, a propósito da preparação das comemorações do centenário de Neto, que se assinala a 17 de Setembro, António Fonseca referiu ser necessário se perceber mais sobre o pensamento, estratégia e visão de Neto para o país.
Para António Fonseca, alguns jovens fazem uma leitura dos factos de hoje, à luz de outras realidades, mas afirma ser necessário aprender a perceber o país, à luz da sua história.
“A visão do primeiro Presidente era criar o Estado e estrutura-lo, bem como relançar a economia angolana, mas isso não se deu devido o contexto da guerra fria naquela época”, sublinhou.
O responsável falou ainda que o Estado angolano surgiu sobre as cinzas da implosão da administração e da economia colonial, onde o angolano era um simples funcionário subalterno ou um operário.
António Fonseca considerou o primeiro Presidente como sendo uma figura de personalidade ímpar em qualquer das suas múltiplas facetas, como político, médico e poeta, sublinhando que doou-se para os mais pobres.
Reforçou que, como político, começou, desde muito cedo, a estruturar um pensamento cultural e económico, tomando posições anti-assimilacionismo, defendendo a cultura nacional, com o pensamento de desenvolvimento social, onde a célebre frase sempre ecoava “O mais importante é resolver os problemas do povo”.
Já como libertador, o PCA do Memorial disse que o Neto teve um papel preponderante em África, celebrizado na frase na “da Namíbia, África do Sul até ao Zimbabwe está a continuação da nossa luta”, tornando-se, assim, o mote de que Angola se bateu para a libertação destes países.
Sobre o centenário, a decorrer sob o lema “Angolanos de mãos dadas para o futuro”, António Fonseca referiu que a data irá marcar uma viragem positiva para o país em vários sentidos, como o bem-estar social, da justiça social, desenvolvimento cultural e promoção das artes.
A nível do programa das festividades está em carteira no Memorial António Agostinho Neto, o colóquio – Sagrada Esperança a Renúncia Impossível – olhares sobre a poética de Agostinho Neto, a publicação das Actas do Colóquio “O Pan-africanismo e a libertação cultural no pensamento de Agostinho Neto, a 25 de Maio.
Esta ainda agendado, o festival – Conexões Letras e Artes, que decorrerá de 16 a 19 de Junho, no qual o responsável do Memorial convida a todos os artistas a contactar a instituição para fazerem as suas inscrições, uma vez que será realizada na praça da República.
Para manter patente o legado de Neto, o Memorial tem desempenhado um trabalho de pesquisa profundo, para dar a conhecer com maior ênfase a obra do Presidente Neto do ponto de vista social, político e literário.
Para se ter uma ideia, segundo a fonte, a primeira obra literária publicada pelo Presidente Neto, não foi Sagrada Esperança, mas sim a “Plaquete Quarta Poema”, editada em 1957, na Póvoa de Varzim (Portugal), com a chancela da casa dos estudantes do império e coordenação de Augusto Ferreira.
Seguiu-se o livro poemas em 1961, editado também pela casa dos estudantes do império, com capa de Luandino Vieira, em 1963 foi saiu em Milão a obra “Com os Olhos Secos” em italiano, finalmente, em 1974 com a compilação destes poemas e alguns inéditos, surgia a obra Sagrada Esperança, com chancela da Livraria Sá da Costa.
António Fonseca lembra, com nostalgia, a chegada do Presidente Neto a Luanda. “No meio daquele mar de gente é algo inesquecível até agora, mas sobretudo acompanhei os seus discursos, onde temos a honra de os preservar e dar a conhecer as novas gerações, porque é útil para hoje e para amanhã”, sublinhou.
António Agostinho Neto fez parte da geração de estudantes africanos que viria a desempenhar um papel decisivo na independência dos seus países, naquela que ficou designada como a Guerra Colonial Portuguesa.
Nasceu em Icolo e Bengo a 17 de Setembro de 1922 e morreu a 10 de Setembro de 1979, foi médico, escritor e político, principal figura do país no século XX, sendo o primeiro Presidente de Angola até 1979.
Em 1975-1976 foi-lhe atribuído o Prémio Lenine da Paz.