Cuito – Os mártires da resistência do Cuito, que impediram a divisão do país, durante a guerra pós-eleitoral de 1992 na província do Bié, pediram hoje, quarta-feira, mais reconhecimento do governo, para que os seus feitos sejam honrados condignamente.
O facto foi manifestado pelo presidente da Associação dos Mártires da Resistência do Cuito, Fernando Massi Argentino, durante as celebrações do 28 de Junho (Dia dos Mártires da Resistência do Cuito), em acto orientado pela governadora em exercício do Bié, Alcida de Jesus Sandumbo.
Na ocasião, Fernando Massi Argentino disse ser necessário que o governo e outras instituições a fins, trabalhem para melhorar a vida socioeconómica dos seus filiados, já que, muitos deles ainda vivem na pobreza extrema.
Para colmatar a situação, segundo o responsável, a associação fundada em Outubro de 2022, pretende ainda este ano iniciar com o processo de cadastramento dos mártires, viúvas e órfãos, com o objectivo de incorporá-los na lista de pensionistas dos antigos combatentes para beneficiarem igualmente de subsídios.
Assegurou, no entanto, ser missão da associação, resgatar todos os mártires que vivem na linha da pobreza extrema e inseri-los nas diversas cooperativas a serem criadas a partir deste ano.
Entre os objectivos, indicou ainda a luta por mais enquadramento social, respeito, consideração e unidade deste grupo, que sem meios, tudo fez para impedir a divisão do país, durante uma guerra que durou nove meses no Bié.
Até ao momento, informou que a organização controla perto de cinco mil associados que se encontram a viver nas dezoito províncias do país e outros no estrangeiro que, com suor e sangue, resistiram a grande batalha, cujo palco foi a comuna do Cunje, no município do Cuito.
Com 56 anos de idade, contou que viu a cidade do Cuito a ser destruída por completo em 1994, agora, passados 29 anos vê a mesma cidade, a ser reconstruída, por isso, apelou ao incentivo do perdão para continuar a se preservar a paz duramente alcançada.
Recordou a bravura dos comandantes, Alfredo Cussumua, Simione Mucune, Cataleco, Madaleno, Cayundo, Massota, Gil, Martins, Amuti e outros que com a sua bravura, o país tornou-se único e indivisível.
Por isso, disse que a associação sugere a terciarização do Cemitério Mártires, construído pelo Governo angolano, em 2003, na comuna do Cunje, numa área de 75 mil metros quadrados, na perspectiva de não só honrar a memória dos heróis, mas, também, para gerar receitas públicas, pois no espaço estão sepultados mais de sete mil corpos, anteriormente enterrados em jardins, quintais e outros locais impróprios.
O processo de exumação e enumação decorreu, entre Outubro de 2003 e Novembro de 2004, num custo de 510 milhões de kwanzas.
Em Agosto de 2022, o cemitério beneficiou de requalificação, no âmbito do Plano Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM) que permitiu a colocação de serviços administrativos, memorial, parque de exposição simbólica do armamento utilizado durante o conflito armado, casa de acomodação para o pessoal de apoio e de segurança, torre de observação, reservatório de água, assim como o melhoramento e cravação das campas em mármores e arranjos exteriores.
No entender do presidente da Associação dos Mártires da Resistência do Cuito, Fernando Massi Argentino, é oportuna a terciarização do espaço, visando a sua rentabilização e, consequentemente, mais valorização por servir de fonte de pesquisa.
Referir ser necessário a contínua preservação do local, de modo a passar o testemunho vivo às novas gerações e, ao mesmo tempo, incuti-las sobre a necessidade de se continuar a preservar a paz e a unidade nacional.
O local foi elevado em 2022, à categoria de Sítio de Interesse Histórico Nacional pelo Ministério da Cultura eTurismo.
Apela à reflexão
Ao intervir no acto, após assinatura do livro de condolências no cemitério Mártires e da deposição de uma coroa de flores, a governadora em exercício do Bié, Alcida de Jesus Camati Sandumbo, apelou à população no sentido de aproveitar a data para reflectir nos momentos difíceis vividos.
Disse ser necessário que a juventude e outras franjas da sociedade se abstenham das más práticas, consubstanciadas nas revoltas contra o Estado, destruição dos bens públicos, entre outros males.
Neste sentido, a governante apelou ao fortalecimento da democracia,com vista a honrar os valorosos mártires que conduziram a guerra até a libertação da província do Bié e do país, em geral.
Sublinhou que a bravura dos Mártires da Resistência do Cuito deve servir de exemplo para todos, reforçando cada vez mais a consciência patriótica dos jovens para a construção de uma sociedade próspera e mais paciente.
Contudo, Alcida de Jesus Sandumdo espera por uma província melhor em todos os domínios, numa altura em que o governo tem trabalhado para a construção de mais as estradas, hospitais, escolas e outros bens essenciais na vida da população. LB/ALH