Luanda - A jornalista Manuela Gomes, da Edições Novembro, venceu nesta sexta-feira, em Luanda, a categoria de Imprensa do Prémio Nacional de Jornalismo edição 2024.
A cerimónia de anúncio dos vencedores do prémio de jornalismo, instituído em 2007 pelo Conselho de Ministros, decorreu no Centro de Imprensa Anibal de Melo (CIAM), sob presidência do secretário de Estado para a Comunicação Social, Nuno Caldas Albino.
Segundo a Comissão de Adjudicação do Prémio Nacional de Jornalismo 2024, que tem como presidente o jornalista Anastácio de Brito, Manuela Gomes venceu esta categoria com a reportagem “Drama de crianças que ajudam no sustento da família”, publicada no dia 12 de Junho de 2024, tendo obtido 97 pontos, dos 100 possíveis.
Em resumo, a peça vencedora relata o dia-a-dia das crianças que são expostas ao trabalho infantil e apresenta dados oficiais sobre esta realidade em Angola e as acções para o seu combate no país.
Conforme o júri, a jornalista conseguiu elaborar uma reportagem que contém uma mensagem global, com conteúdo relevante para o país, tendo apresentado um texto fácil de ler, em que mostra ter feito uma profunda pesquisa para chegar a esse resultado.
Com uma escrita simples e objectiva, a profissional mostra um bom fluxo na transmissão da informação e demonstra um bom domínio argumentativo na apresentação da história.
Como segundo classificado ficou o jornalista Augusto Nunes, do Jornal o País, com a reportagem “Rebita em decadência preocupa executantes da sociedade”, publicada no dia 17 de Maio de 2024.
A peça retracta a existência da Rebita ou Massemba, uma dança popular umbigada em vias de extinção, não obstante ter sido classificada como Património Cultural Imaterial Nacional, para evitar, precisamente, o seu desaparecimento e promover a sua valorização e preservação para as gerações futuras.
Segundo o júri, esta é uma ampla e profunda reportagem sobre a crise que atravessa a dança e música tradicional Rebita, parte importante da cultura angolana.
Refere que está uma peça bem elaborada, com uma mensagem relevante para o país, tendo em conta o valor cultural da Rebita, que transcende as fronteiras de Angola.
O júri alega que os níveis de abrangência e de organização do texto são significativos e que o texto resulta de uma pesquisa adequada, significativa e relevante, numa reportagem exclusiva e original.
Com esse texto, indica, a gramática é preservada e garantida a qualidade do vocabulário, com o emprego correcto das palavras, tendo em conta a forma livre, aberta e objectiva como está elaborada.
Na terceira posição sagrou-se o jornalista André Sibi, do Jornal de Angola, com a peça “Familiares de pacientes continuam a pernoitar do exterior dos hospitais”.
O trabalho de André Sibi fala da prática comum em que pessoas, na sua maioria mulheres, não arredam o pé das cercanias dos hospitais, quer faça sol ou faça chuva, principalmente na cidade de Luanda, quando algum familiar está internado, na expectativa de um desfecho favorável e pelo temor de algum infortúnio.
Para o jurado, o conteúdo do texto e a mensagem global da peça são relevantes para o país, porquanto a manutenção dessa situação afecta o normal funcionamento da sociedade. O tema foi tratado de forma imparcial e objectiva.
De igual modo, refere, a história está relatada de forma factual e mostra que foi feita uma pesquisa adequada, significativa e relevante, com recurso à uma linguagem simples, eficaz e convincente. Existe um fluxo de informação que permite a compreensão do tema.
O jornalista da Rádio Nacional de Angola, Paulo Matias, de 32 anos de idade, venceu a categoria Rádio, com a peça “Problemática da invasão de apartamentos nas centralidades construídas com fundos públicos.
Na sua reportagem, o profissional detecta uma rede invasora de apartamentos nas centralidades Vida Pacífica, Sequele, Zango 5 e Kilamba, que troca fechaduras e comercializa imóveis.
O júri considera uma reportagem bastante bem conseguida, "onde há vítimas e predadores, burladores no caso", que configuram um dos dramas sociais a que se assiste no país.
"É uma abordagem escorreita, como que se de um filme se tratasse, tem personagens e cenas reais, com imagens claras e audíveis, não fáceis de se obter e que, conjugadamente com a narrativa havida, é uma coreografia em rádio como que quase impossível de se fazer muito melhor", explica.
Para o júri, a presença sonora das vítimas e bandidos trouxe um realismo quase inexcedível. Desde a revelação do modus operandi dos burladores, aos ouvidos das autoridades, passando pelas queixas dos lesados, tudo pareceu como que feito em tempo real.
Nesta categoria, o segundo classificado é o jornalista Alberto Segunda, da Rádio Zaire, com a reportagem “Testemunho de quem um dia tentou o suicídio”.
A peça traz testemunhos de pessoas, sobretudo de jovens, que um dia tentaram pôr fim às suas vidas. A ideia foi saber sobre as principais motivações que as levaram a tentar o suicídio, tendo o jornalista ouvido especialistas ligados à sociologia e à psicologia e familiares que viveram esse drama.
Sobre o trabalho, o júri considera uma boa peça, bem arranjada, ao obter testemunhos de autores e de vítimas colaterais de tentativas de suicídio. Exalta a importância da produção, principalmente da pré-produção, na detecção dos casos reais e obtenção dos seus testemunhos.
Alega que o jornalista soube fazer a retrospectiva da situação, recorrendo, igualmente, a especialistas, tendo conseguido criar um retrato bastante amplo e incisivo no tema suicídio, tal como tem sido, a par da depressão, um flagelo principalmente para a juventude.
Argumenta que a abordagem foi, ainda, instrutiva e formulou um alerta para a denúncia precoce de aspectos, comportamentos e traços que fazem antever o risco de suicídio, deixando conselhos das próprias “vítimas não consumadas”.
O jornalista Diambanza Eduardo, de 31 anos de idade, colocado na Rádio Zaire, posicionou-se em terceiro lugar com a peça “Exploração sexual de adolescentes e jovens”.
A sua reportagem aborda a prática da prostituição no seio de adolescentes e jovens, que ganha contornos alarmantes em Mbanza-Kongo, capital da província do Zaire. A falta de assistência familiar, para combater as adversidades do dia-a-dia, é apontada como uma das causas da evolução dessa prática.
Para o júri, o esforço do jornalista, de tentar fazer compreender, de maneira mais profunda, o fenómeno da exploração sexual de adolescentes e jovens na cidade de Mbanza-Kongo e revelar uma nova perspectiva sobre o seu entendimento, valoriza a reportagem.
O facto de o repórter ter-se deslocado a mercados populares e a prostíbulos, em busca de testemunhos na primeira pessoa, associado a riscos que teve de correr em tais circunstâncias, aprecia a produção dessa reportagem, de forma irrecusável.
No somatório, é um material que se destaca, merecendo a terceira posição.
Na categoria de Televisão, venceu o jornalista da TV Zimbo, Carlos Capitango, de 39 anos de idade, com a reportagem “Corredor do Cuanza”, exibida no dia 30 de Outubro de 2023, tendo obtido 95 pontos dos 100 possíveis, que retracta o percurso da escravatura que se desenrolou em Angola.
O jornalista foi a busca das marcas e memórias a partir da localidade de Massangano, município do Cambambe, província do Cuanza-Norte.
Conforme o júri, trata-se de 44 minutos retractados com mestria e talento que permitiu voltar ao passado e fazer uma reconstituição, quase inédita, dos caminhos percorridos, sob grilhetas, por milhares de angolanos levados para lá do continente africano, numa epopeia silenciada pelo "majestoso Corredor do Cuanza".
O repórter leva a conhecer lugares inóspitos, por onde transitaram os milhões de angolanos transformados em escravos, sítios cheios de crueldade e dor, combinando o estilo com a técnica.
A leveza da narrativa e a beleza das imagens transportam para o imaginário da barbaridade, que foi a escravatura em Angola. E, nesse andar, o Corredor do Cuanza conduz a descendentes directos de escravos angolanos e a todo um processo na complexidade da vida nas Américas.
Em segunda posição está a jornalista Carla Miguel, de 32 anos de idade, da Televisão Pública de Angola (TPA), com a reportagem sobre o “Reino do Bailundo: Tradição e modernidade”, exibida no dia 3 de Junho de 2024.
A jornalista embrenha-se no coração do Reino do Bailundo, na província do Huambo, onde o Rei Tchongolola Tchongonga, herdeiro da linhagem de Ekuikui, mantém viva a tradição e a cultura ancestral local. A reportagem explora a resistência histórica deste Reino contra a colonização portuguesa e a preservação da sua identidade, destacando a liderança da sua monarquia, que continua a adaptar-se às mudanças do mundo moderno.
Para o júri, não há dúvida de que o Reino do Bailundo é um baluarte da resistência política, social e cultural, facto que a jornalista soube explorar e contar com mestria.
Por essa reportagem, descobre-se que o Reino do Bailundo continua a ser um dos maiores impérios do poder tradicional, marcado por processos sucessórios, que se misturam com a modernidade da vida contemporânea.
Considera que a repórter deu a ver que a marca característica do Reino continua de pé, sendo hoje uma instituição de maior respeito, impactante na identidade e na cultura de populações fixadas no planalto central angolano.
Na última posição ficou o jornalista da TPA, Afonso Sassa “Sassex”, de 53 anos de idade, colocado na província de Cabinda, com a reportagem “Garimpo do ouro compromete sustentabilidade ambiental”, apresentado no dia 30 de Outubro de 2024.
A peça denuncia o facto de o garimpo de ouro na região de Buco-Zau, na província de Cabinda, estar a comprometer a sustentabilidade ambiental.
O repórter constatou que essa actividade ilícita é exercida por indivíduos de quase todas as idades, entre crianças e mulheres. A população queixa-se da irritação da pele, por causa dessa prática, após o banho no Rio Luali.
Segundo o júri, o autor da reportagem evidencia sensibilidade, ao analisar comportamentos sociais incomuns das populações de zonas ribeirinhas, nomeadamente, na província de Cabinda.
Reitera que práticas ilícitas nas margens dos rios transfiguram a paisagem e remetem a vida das populações para um verdadeiro dilema sanitário. "É nessa combinação de factos, com a destreza de contar histórias, que o jornalista revela toda a sua competência e habilidade".
O fotógrafo das Edições Novembro Dome Semedo, de 44 anos de idade, venceu a categoria de fotojornalismo, com a peça “Como se um mal Justificasse o outro”, publicada no dia 3 de Agosto de 2024. O profissional obteve 99 pontos dos 100 possíveis.
A foto retracta um facto bastante curioso. Devido a uma avaria não especificada, na via pública, o utente de uma cadeira de rodas recorreu ao apoio, de forma estranha, de um motociclista, ignorando o risco de um desfecho trágico.
O fotojornalista concluiu que um mal não justifica outro.
De acordo com o júri, a fotografia apresenta uma perspectiva interessante e inédita, com muito boa definição, bastante clara e nítida. "A legenda é relevante para o tema em questão, uma vez que ajuda a entender como o assunto solidariedade pode ser visto de forma diversa".
Na segunda posição, está o fotógrafo Joaquim Armando, de 41 anos de idade, também das Edições Novembro, com “O fabricante de fogareiro”, publicada no dia 20 de Abril de 2024.
Joaquim Armado, colocado na província do Huambo, retracta o dia-a-dia de um artesão desta cidade, fabricante de fogareiros, tendo como matéria-prima tambores de lubrificantes em desuso, através dos quais ganha o seu sustento de maneira honesta e que não se queixa da vida.
Na óptica do júri, a fotografia tem bons detalhes, tais como o local em que foi tirada e uma boa definição. O seu conteúdo e mensagem global são relevantes e valorizam a actual realidade do país, em que o empreendedorismo é um caminho seguro de muitos cidadãos para a resolução de problemas ligados ao seu sustento e da sua família.
O fotógrafo Santos Pedro, de 56 anos de idade, também das Edições Novembro, ficou em terceiro lugar com o tema “Vendedora de paracuca”, publicado no dia 8 de Agosto de 2024.
O autor refere que, num caso aparentemente insólito e, ao mesmo tempo, digno de quem quer ter acesso à informação, um direito constitucionalmente consagrado na República de Angola, a vendedora de paracuca (composto de jinguba torrada com açúcar) folheia as páginas do Jornal de Angola. A foto foi tirada na Avenida Pedro de Castro Van-Dumem “Loy”, em Luanda.
Na apreciação do júri, esta imagem diz muita coisa, pela mensagem bastante interessante que transmite. O fotojornalista soube captar uma actividade comercial aparentemente marginal, em que o tema principal confunde-se com o secundário, produzindo a seguinte questão: a senhora está a vender ou a ler o jornal? Talvez as duas coisas
Destaca que a iluminação do sol radiante chama à atenção para o tema e cria um ambiente que desperta interesse.
Os primeiros classificados vão receber dois milhões e 500 mil kwanzas, enquanto os segundos vão arrecadar um milhão 500 mil kwanzas e os terceiros 500 mil kwanzas, cada um.
A entrega dos prémios está agendada para o dia 30 do corrente mês, na província de Luanda.
O evento contou a com a participação de várias figuras, com destaque para o secretário de Estado para as Telecomunicações e Tecnologias de Informação, Alé Fernandes.
Instituído em 2007 pelo Conselho de Ministros, o Prémio Nacional de Jornalismo de Angola é um concurso que visa reconhecer e premiar o trabalho de jornalistas angolanos. AMC/OHA