Luanda - A comissária para a Agricultura, Desenvolvimento Rural, Economia Azul e Ambiente Sustentável da União Africana (UA), Josefa Sacko, deu a conhecer, esta sexta-feira, em Luanda, que 278 milhões de africanos estão subnutridos.
As declarações foram feitas no segundo dia do I Fórum da Mulher para Paz e Democracia, onde falou sobre "Desafios da Segurança Alimentar e Alterações Climáticas no Continente".
Segundo a interveniente, estes dados publicados no relatório da África regional, tornado público no mês de Abril de 2023, indicam que o número cobre cerca de 20,2 por cento da população africana.
Para a mitigação deste problema, Josefa Sacko entende que a questão da segurança alimentar e ambiental deve estar em todas as mesas de discussão, não pondo de parte a situação da agricultura, um grande potencial no continente.
"Este continente tem 60 % de terras aráveis não cultivadas, recursos hídricos importantes, bem como um potencial em capital humano, tendo em conta que a sua população é maioritariamente jovem. É preciso investir positivamente", sublinhou.
A responsável, referiu que o continente tem todo ecossistema para auto alimentar-se, bem como alimentar o mundo, mas nunca estar em um estado de insegurança alimentar.
Este facto, aponta, tem a ver com a falta de cumprimento dos programas da UA para a segurança alimentar por parte dos governos dos estados membros, bem como o não financiamento dos parceiros para a materialização dos mesmos.
Noutra parte da sua intervenção, a responsável realçou o “grande investimento” do governo angolano na província do Cunene, com a construção do canal do CAFU, que contribui na mitigação do problema da seca.
Neste contexto, Josefa Sacko avançou que a situação climatérica associada à insegurança alimentar tende a piorar, devido às ondas de calor mais frequentes e intensas, mais secas, inundações, tempestades e incêndios florestais.
Neste quadro que se avizinha, Josefa Sacko apelou aos estados africanos no sentido de implementarem programas com vista a atenuar as consequências.
Josefa Sacko, agronomia e economista angolana, foi assessora do Ministério do Ambiente, secretária-geral da organização Inter africana do Café, organização composta por 25 países africano.
Em 2017, foi também eleita comissária para a Economia Rural e Agricultura.
Mais de 800 milhões de pessoas passam fome no mundo
Ao intervir sobre o mesmo tema, a directora adjunta da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Maria Semedo, informou que oitocentos e 28 milhões de pessoas passam fome a nível do mundo
A responsável adiantou que a situação deve-se a situações climáticas, conflitos armados, subdesenvolvimento económico e a falta de transformação dos produtos.
No seu entender, África tem potencial para alimentar o mundo, sendo necessário maior aposta no investimento agrícola, com suporte da ciência.
Quanto ao género, Maria Semedo sublinhou que no continente, 66 % das mulheres trabalham na agricultura, mas é importante o empoderamento das mulheres a nível da educação, acesso à terra, bem como em instrumentos de produção.
Maria Semedo sublinhou ainda que “não existe paz sem segurança alimentar, nem segurança alimentar sem paz”.
No seu entender, Angola demonstrou experiência neste sector, com a implementação das escolas de campo, fundamentais para a reintegração social, bem como a desminagem das terras, dando lugar a campos de cultivo, que servirão de base para a alimentação das populações rurais.
Maria Semedo foi ministra da Pesca, Agricultura e do Desenvolvimento Rural de Cabo Verde, desempenhou também as funções de ministra dos Assuntos Marítimos e ministra do Turismo. ANM/ART