Luanda - A historiadora angolana Ana Lobo informou, esta quinta-feira, em Luanda, que a mão-de-obra contratada em Angola foi imprescindível para desenvolvimento das roças sãotomenses.
Segundo uma nota de imprensa, a que à ANGOP teve acesso, a historiadora falava no espaço de conferência denominado "Conversas da Academia à Quinta-feira", promovido pela Academia Angolana de Letras.
Ao dissertar o tema "Serviçais angolanos nas roças de São Tomé e Príncipe (1875- 1899)", a conferencista deu conta que no século 19, os nativos deste país se recusavam a fazer este tipo de trabalho, por isso, foram recrutados serviçais para as roças sãotomenses.
"Através do Decreto de 10 de Outubro de 1854, o Governo Português criou a categoria do "liberto", que se situava entre o homem livre e o escravo. Os libertos tinham de trabalhar para os antigos donos, no espaço de 10 anos. Já os filhos de pais escravos tinham de trabalhar 20 anos." explicou.
Contou igualmente que devido à abolição da escravatura, em 1875, os trabalhadores agricolas passaram a ser designados por serviçais (em Angola, chamavam-se contratados).
Ana Lobo afirmou que era grande a procura de serviçais nas roças de São Tomé e Principe, tanto que o pagamento por um serviçal nas ilhas era em 64% superior ao preço que se pagava pelo mesmo serviço em Benguela.
Quanto à forma como se fazia o recrutamento, deu o exemplo segundo o qual os agentes da administração colonial registavam os nomes e idades dos serviçais para preencherem o contrato de trabalho, perguntando de seguida se estava com fome ou se tinha comido alguma coisa.
A resposta "Sim" era então anotada como declaração sua vontade de ir trabalhar em São Tomé durante 5 anos.
A historiadora Ana Lobo acrescentou que o arquipélago se tornou um grande exportador de cacau a partir de 1904, tendo chegado a exportar 11 mil toneladas do produto.
Entre 1876 e 1904, foram exportados 70 mil serviçais de Angola para São Tomé e Principe.
Foi a partir de 1891 que se exportou maior número de contratados, devido ao inicio do ciclo da monocultura do cacau, referiu a conferencista.
Por causa disso, acrescentou, Portugal era então o maior exportador de cacau, com cerca de 20% da produção mundial, tanto é que nessa altura "o cacau valia mais que o café e a borracha produzidos em Angola", sendo exportado maioritariamente para Inglaterra e Alemanha.
Abordou o tema na presença de académicos de Angola, Bélgica, Brasil, Espanha, Portugal e S. Tomé e Príncipe.
Na próxima rubrica "Conversa da Academia à Quinta-feira", o escritor e encenador Mena Abrantes abordará o tema "Teatro em Angola" sob moderação da antropóloga e actriz Agnela Barros. AMC/SEC