Luanda - Assinala-se hoje o dia da Consoada, vésperas de Natal, uma tradição originariamente cristã, que simboliza o nascimento de Jesus, festividade que acontece um pouco por todo mundo, adaptada à realidade de cada povo e sua cultura.
Depois de nos dois anos anteriores, o convivio natalicio ter acontecido sob restrições devido a Covid-19, com o levantamento das medidas, as famílias são chamadas a partilhar o espírito de natal em harmonia, como manda a tradição.
Nesta data, a cultura do amor, fraternidade, perdão e partilha, são características muito próprias das famílias angolanas.
A tradição de dar ou receber presentes no natal está ligada à memória dos presentes que os três Reis Magos ofereceram ao menino Jesus (ouro, incenso e mirra), esta partilha muito comum é conhecida como “Amigo Oculto”.
Assim sendo, é possível verificar não só a nível das famílias, mas de toda a sociedade a mobilização em prol de oferecer um dia diferente aos mais desfavorecidos, com organização de festas e acto de doação de brinquedos a crianças.
Para Ana Bela de 47 anos, a cultura de passar o natal reunido com a família vem desde os pais, uma vez que após a missa do galo, realizada à meia-noite da véspera do natal, todos se reúnem à mesma mesa, a fim de partilharem a mesma refeição.
Mas, por outro lado, a senhora alerta ainda a questão de estar a se perder o espírito de natal, não só pela situação económica das famílias, mas pela perda de algum simbolismo da data.
“Anteriormente a esse momento, teríamos as ruas na sua maioria coloridas, com lâmpadas e os habituais adornos feitos a base de sacos plásticos e papéis, tínhamos as ruas pintadas a cal, mas hoje não”, referiu.
Segundo Ana Bela, de uma ou de outra forma está a se perder o espírito de natal, o tempo de saber dar e receber com amor.
Por sua vez, Álvaro João de 40 anos, falou à reportagem da Angop, que a actual geração perdeu o espírito de natal, pois embora as dificuldades, a data procurava manter viva a cultura do perdão e partilha, facto que aos poucos se têm perdido.
Sublinha ainda, que apesar da consciência das pessoas quanto a gastos supérfluos em época de natal, a sociedade perde em termos de partilha.
“Existe uma diferença muito grande nas comemorações do natal, vivíamos numa situação difícil, mas sabíamos festejar a data, cada um ao seu nível fazia algo para a comunidade onde vivia, hoje não se vê essa preocupação da vizinhança”, referiu.
Ao contrário dos anos anteriores, a província de Luanda se apresenta mais apagada e menos adornada, tanto nas zonas urbanas como periurbanas, a excepção de alguns largos no centro da cidade.
As correrias aos centros comerciais e mercados paralelos acontecem, mas numa proporção diferente aos anos que antecederam a pandemia da Covid-19.
Igreja
Para reverenda Deolinda Dorca Teca, o natal é uma festa cristã, comemora-se o nascimento de Jesus Cristo, sendo também a data aproveitada para a celebração da festa da família.
Segundo a reverenda, são passados aproximadamente três anos, de 2019 a 2021, que o mundo celebrou este dia com muitas restrições por causa da Covid-19, mas agora, em 2022 as celebrações serão com uma certa liberdade, mas não se deve extravasar, uma vez que a pandemia ainda não acabou.
Apesar de não actuar de forma contundente, alerta a reverenda, é importante que se tenha alguns cuidados, como o uso do álcool em gel, a lavagem das mão e, se possível, o uso da máscara.
Deolinda Dorca Teca referiu ainda que estas celebrações acontecem numa altura de crise financeira e material, por isso, importa que as famílias comemorem o natal com maior cuidado, sem exageros, como por exemplo, o uso excessivo de bebidas alcoólicas.
“É importante que celebremos o natal sem violência, sem ódio, sem rancor, antes pelo contrário, o natal como sendo festa da família e em família, deve ser um momento de olharmos para o amor de Deus, o perdão concedido por Deus e o momento da reconciliação entre os povos”, referiu.
A reverenda chamou ainda atenção a pacificação das almas e a reconciliação familiar, sendo nesta data o mais importante, praticar a solidariedade para com aqueles que sofrem.
Socióloga
Por sua vez, a socióloga Cristina Gamboa fez uma abordagem sobre a importância da data, onde realçou ser um momento de reflexão sobre os 361 dias vividos e as perspectivas para o outro ano.
Nestes dias de festa, aconselhou os cidadãos a pautar por uma postura de contenção de gastos, uma vez que há subida significativa dos produtos básicos.
Para driblar a carência dos produtos, sugere como alternativa o uso de produtos nacionais, com vista a possibilitar com que a ceia de natal seja celebrada a nível da família.
“É possível festejarmos a ceia de natal sem termos de recorrer totalmente a produtos importados, podemos sim, usar da criatividade para dar um gosto a festa da consoada", sublinhou.
No que toca aos comportamentos inadequados nesta época, a socióloga revelou estar preocupada com o uso excessivo do uso de bebidas alcoólicas, facto que acaba em fenómenos como abusos sexuais, violências físicas e até a morte.
Assim sendo, apela a todos nestes dias de festa de natal e passagem de ano a promover o amor ao próximo, união, companheirismo, humildade e a reflexão sobre metas a alcançar em 2023.
Um pouco por todo o país, várias crianças em situação de vulnerabilidade tiveram de forma antecipada o tradicional “Natal Solidário”, numa resposta aos constantes apelo da partilha da solidariedade.