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De excelente a medíocre, o alto preço da sociedade

     Sociedade              
  • Luanda • Terça, 22 Outubro de 2024 | 04h13
Alunos participam na palestra sobre uso seguro da internet, realizada pela UNITEL.
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Nelson Malamba - ANGOP

Luanda - De há algum tempo a esta parte, a mediocridade parece ter-se instalado nalguns sectores da sociedade angolana, o que compromete, sobremaneira, o processo de transmissão de valores às novas gerações.

Por Miguel Leasar, consultor e investigador cultural

Nos dias de hoje, é cada vez mais acentuada a falta de rigor no processo de educação dos filhos, o que deixa milhares de crianças e adolescentes entregues à sua sorte e expostos a todo o tipo de ‘lixo tóxico’ da Internet.

Com o passar dos anos, são cada vez menos as referências morais para uma Angola que se quer aberta à globalização, mas fiel aos ensinamentos dos antepassados, assentes no respeito, na solidariedade e no combate ao pudor.

A perda destes valores morais, que foram os pilares fundamentais dos precursores da Nação angolana, constituiu um sério risco para o projecto de criação de uma sociedade devidamente orientada para enfrentar o futuro.

Este futuro só poderá ser risonho se Angola continuar a apostar no capital humano e implementar as melhores políticas para resistir a modas ocidentais que conflituam, muitas vezes, com a realidade sociocultural angolana.

Para o efeito, impõe-se uma nova mentalidade a toda a sociedade, sobretudo aos jovens, que devem trabalhar com afinco para a busca da excelência no domínio académico e de uma conduta social ajustada aos padrões da civilização africana.

É imperioso que a juventude tenha uma nova visão de sociedade, assente em pilares que valorizam a fraternidade, o amor ao próximo e à Pátria, bem como o respeito pela coisa pública, banindo do seu vocabulário a mediocridade.

Esta foi, de resto, a postura de muitos angolanos que souberam contornar as grandes adversidades impostas pela guerra, mostrando que, mesmo na falta de quase tudo, até de esperança, o respeito pelo próximo se revelava ‘sagrado’.

As gerações do antigamente conseguiram preservar valores e princípios deixados pelos antepassados, que espelhavam a verdadeira dimensão de família alargada, para além de lutarem contra vários estereótipos nas escolas.

Ao contrário de hoje, naquela época todos queriam estar entre os melhores, os que obtinham ‘Muito Bom’ ou ‘Excelente’ e se sentavam na ‘fila dos espertos’. Ninguém queria ter ‘Suficiente’ ou, pior ainda, ‘Mau’. Esse foi um modelo de educação que vigorou por várias gerações, moldando milhares de estudantes.

É o reflexo da ‘sociedade moderna’ ou, se quisermos, globalizada, onde a mediocridade, a falta de amor e o pudor ganham espaço aos olhos de todos.

Com o advento das novas tecnologias de informação e aumento de utilizadores das redes sociais, ficam cada vez mais expostos os sinais da perda de valores e da falta de rigor na transmissão dos valores civilizacionais africanos.

Infelizmente, aumenta o número de pessoas que, outrora, ‘brilhavam’ a ter comportamentos socialmente desviantes, ferindo os pilares dessa civilização e pondo cada vez mais em causa o papel da família e do Estado, no seu todo.

Face a este comportamento, surgem várias perguntas inevitáveis. Afinal, o que mudou, ou seja, como é que pessoas que, outrora, se destacavam pela excelência passaram, de repente, a comportar-se de maneira medíocre e reprovável?

Na verdade, esta mudança pode estar relacionada com diversos factores, como as pressões sociais, a busca por validação rápida, ou mesmo o conformismo que se instalou com o passar dos anos em vários segmentos da sociedade.

A sociedade parece ter baixado os seus padrões, aceitando comportamentos e atitudes que antes seriam considerados inaceitáveis e severamente punidos.

O fenómeno ganha contornos cada vez mais preocupantes com o surgimento das chamadas ‘influenciadoras digitais’, que, por likes e visualizações, parecem dispostas a fazer tudo e a arrastar nessa exposição milhares de seguidores.

É triste observar que, para estas, tudo vale, e milhares de adolescentes, ainda em formação, vêem-nas como modelos a seguir. É um autêntico retrocesso.

Muitas destas jovens acreditam que o caminho para o sucesso é a exposição superficial e sem substância, alimentando uma cultura de mediocridade que precisa de ser contraposta, sob pena de Angola ter uma sociedade sem valores, que privilegia o imediatismo ao invés do trabalho árduo e da busca pela excelência.

O perigo reside no facto de que este comportamento não só rebaixa o padrão individual, mas também afecta negativamente o colectivo. Quando figuras públicas e influentes, que deveriam ser modelos de comportamento, escolhem o caminho mais fácil e vazio, a sociedade, como um todo, sofre.

Por isso, precisamos, urgentemente, de parar e de reflectir sobre o impacto deste ciclo vicioso. É crucial que, enquanto sociedade, resgatemos o valor do esforço, da seriedade e da responsabilidade individual e colectiva.

As figuras públicas, os influenciadores digitais e todos aqueles com plataformas de alcance têm o dever de promover o bem e a excelência, não a mediocridade.

Cabe aos adolescentes e jovens não se deixar enganar pelo brilho superficial que muitas destas falsas referências sociais vendem on-line. Afinal, o verdadeiro sucesso não é medido em likes nem visualizações, mas na capacidade de fazer a diferença, ser exemplo e construir algo significativo com integridade e esforço.

Está na hora de inverter esta tendência. A mediocridade não pode ser o ‘novo normal’ em Angola. Cada um de nós deve comprometer-se a ser melhor, a exigir mais de si mesmo e a promover a excelência em todas as áreas.

Só assim poderemos reverter este ciclo e construir uma sociedade mais justa, consciente e bem-sucedida. Angola vive e aceita a globalização, desde que isso não custe a aceitação da imoralidade e de hábitos nocivos às famílias e à Pátria.

A sociedade não precisa de pagar este alto preço. Chega de mediocridade!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 





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