Cazenga - Cento e setenta e três menores, entre os oito e 16 anos de idade, vítimas de abusos diversos, no seio familiar, são assistidos em Centros de Acolhimento, no município do Cazenga (Luanda), depois de terem sido recolhidos da rua, na cidade capital.
Dos abusos, constam acusações de feitiçaria, violência doméstica e sexual, negligência e abandono, aliados a desestruturação familiar, pobreza e alguns vícios pela rua da parte de certos menores que deixaram o ambiente familiar para viverem na rua.
São rapazes e meninas que encontraram amparo, afecto, educação, formação profissional para se firmarem na sociedade nos diversos centros de acolhimento do Cazenga, alguns dos quais visitados, recentemente, pela ANGOP.
Um destes locais é o Centro Mãe Margarida, da rede Salesianos Dom Bosco, no Distrito Urbano do Hoji ya Henda, com 40 rapazes, que orienta, educa e forma os petizes em várias vertentes para sua inserção social e familiar.
De acordo com o seu coordenador, Osvaldo Massaqui, o centro é o segundo lugar onde os rapazes permanecem, depois de uma temporada no Centro do Sambizanga, vindos da rua, através de uma equipa de sensibilização da rede Dom Bosco que procura por crianças pelas artérias da cidade.
Quando recolhidos, os meninos são encaminhados para o Centro do Sambizanga, onde são “lapidados” devido ao longo tempo que ficam na rua com acções de sensibilização, educação religiosa e cidadania.
Seguidamente vão ao espaço Mãe Margarida, onde está o objecto social do projecto, que é a inserção social e familiar dos pequenos após um longo processo de formação escolar, técnica e orientação social com auxílio de educadores, um artesão, psicólogos, técnico de localização familiar, além de cozinheiras e pessoal administrativo.
No Local, a ANGOP falou com o menino “Mingo”, nome fitício, de 14 anos de idade, cuja mãe foi visitá-lo, pois a instituição tem esta interação com a família para aqueles que desejam ser reintegrados, dando formação, tanto para a família como o menino.
“Mingo” fugiu da casa do pai, no bairro Cerâmica, Cacuaco, aos 10 anos, e juntamente com alguns amigos chegou de autocarro ao centro da cidade, de onde foi recolhido dias depois por um grupo da rede Dom Bosco. Diz que já aprendeu a ler e quer voltar à casa da mãe.
Depois do aproveitamento e se não haver reunificação familiar, já com 18 anos, o jovem pode ser enviado para Catete (Icolo e Bengo) para a formação técnica e profissional nas áreas de Soldadura, Electricidade, Agricultura, Informática, Hotelaria, Serralharia ou Canalização, isto é conforme a sua inclinação ou escolha.
Osvaldo Massaqui disse que no ano passado, fruto do trabalho de localização familiar, conseguiram reunificar 17 meninos, o que é uma satisfação para a instituição, continuando com o trabalho de acompanhamento destes menoers e suas famílias.
A Casa Anuarite é outro lugar adstrito a rede Dom Bosco que assiste apenas meninas, uma experiência inicial, com 12 raparigas que encontraram abrigo e conforto, após sairem da rua.
Segundo uma das responsáveis,Tânia Sebastião, a Anuarite funciona, desde 2019, e apoia meninas em educaçao escolar e formação técnica, principalmente nos cursos de Corte e Costura, Hotelaria e Turismo.
Uma destas adolescente é Claúdia, de 16 anos, que foi parar a rua por conta da violência doméstica que sofria no seio familiar. Tímida, diz que pretende ser médica e que vai apostar nesta carreira para no futuro ajudar principalmente as crianças.
Um dos outros centros de acolhimento, criado em 2021, é a do pastor Timóteo, localiado no Distrito Urbano do 11 de Novembro e que alberga 42 crianças, das quais 29 rapazes, 13 meninas, muitas delas acusadas de feitiçaria e perdidas, dos três aos 14 anos.
É o caso de dois irmãos, de oito e 11 anos de idade, orfãs de mãe, que lá foram parar porque quer a avó, quer o pai acusam-nos de feiticeiros. Vinte e seis são perdidas, dez abandonadas pela família e quatro num hospital.
Segundo a responsável do centro, Nancy Timóteo, a instituição vive essencialmente do apoio da Igreja Altar de Fogo, mentora do projecto, e que as crianças são levadas para lá pela polícia e pela Direcção Municipal da Acção Social. O mesmo conta com um programa de localização familiar, educação escolar, religiosa e de cidadania.
Com oito dormitórios, a instituição precisa de apoios desde colchões, mosquiteiros e camas para acudir os menores.
Além da água, pois dependem de um tanque de sete mil litros, enfrentam também problemas da falta de medicamentos e de um psicólogo, já que têm o apoio de dois pediatras que assistem os pequenos semanalmente.
Trabalham na instituição nove técnicos desde professores, vigilantes, cozinheira e pessoal de limpeza, apelando as famílias a cuidar das crianças, pois elas são o futuro do país.
Um dos primeiros centros no Cazenga é o da Mamã Madalena criado em 2003, quando dona Madelena, ouriunda da província do Bengo fez da sua casa, no Distrito Urbano do Kima Kieza, um lar para acolher a princípio crianças órfãos daquela região do país.
Actualmente com 79 crianças, (dos quais 10 acusados de feitiçaria), a instituição cresceu e sobrevive de doações voluntárias, que também auxiliam na formação técnica e profissional dos adolescentes em gesto de apadrinhamento, recebendo crianças perdidas, abandonadas e acusadas de feitiçaria, muitas delas levadas pela polícia e direcção da Acção Social.
De acordo com uma das responsáveis, Mónica Mulaza, filha da mentora do projecto e psicológa da instituição, tem sido gratificante trabalhar com as crianças e orientá-las para a sua inserção social.
Auxiliam na educação dos menores 19 funcionários desde professores, psico-pedagogos, vigilantes, seguranças, pessoal da cozinha e de limpeza, na sua maioria jovens da localidade que conseguiram alí o seu emprego para sustentar suas famílias.
Tal como os demais centros, a água é o “calcanhar de aquiles”. Semanalmente abastecem o tanque com camião cisterna de 17 mil litros no valor de 25 mil kwanzas, para acudir a instituição.
O do Dom Bosco abstece-se também, quinzenalmente, de 25 mil litros de cistena de água, por falta de água canalizada.
Em entrevista recente à ANGOP, a directora municipal da Acção Social, Emília Dona, apelou as famílias a protegerem os menores e a terem coragem de denunciar todos os actos de violência contra os mesmos, para a estabilidade da sociedade. HDC/SEC/VIC