Jovens do Cuando Cubango buscam sustento na lavagem de carros

     Sociedade           
  • Cuando Cubango     Quarta, 13 Março De 2024    11h10  
Jovens em Menonongue apostam no auto emprego
Jovens em Menonongue apostam no auto emprego
Luisa Massanga-ANGOP

Menongue - Mais de 100 jovens da capital do Cuando Cubango, Menongue, optaram pela lavagem de carros como aposta no auto-emprego para garantir o sustento das suas famílias.

Numa ronda efectuada pela ANGOP, em locais de maior conentração como beiras dos rios e de pontes, notou-se que a lavagem de viaturas na capital do Cuando Cubango começou a ganhar espaço, nos últimos anos.

Tudo começou quando um grupo restrito de adolescentes que exercia essa actividade, junto às margens dos rios Cuebe e Luahuca, descobriu que servia para o seu ganha-pão diário e ajudar várias famílias.

A iniciativa propiciou o surgimento de outros lugares de lavagem de viaturas, como é o caso da barragem Cambumbe, considerada um dos pontos turísticos de renome da cidade de Menongue, mas que hoje se encontra abandonada.

Com o passar do tempo, o ponto de lavagem junto à barragem Cambumbe foi ganhando maior protagonismo, com a adesão de mais clientes, relegando para segundo plano as estações de serviço geridas por diferentes entidades privadas sob a fiscalização da administração municipal.

A reportagem da ANGOP constatou que são na sua maioria jovens com idades entre os 17 e os 30 anos, que, desde as primeiras horas do dia, marcam presença nas margens dos rios para o exercício das suas actividades face à falta de emprego para sustentar as suas famílias.

Rendimento diário para sustentabilidade

Manuel Ndala Adriano, de 28 anos e estudante da 11ª classe, no curso de Ciências Humanas, exerce essa actividade, há dois anos, e consegue diariamente, como lavador de viaturas na barragem Cambumbe, quatro mil a cinco mil kwanzas.

Com o sonho de ser um agente da Polícia Nacional, disse que, com o pouco que ganha diariamente, consegue sustentar a sua família e os estudos.

Fez saber que muitos dos seus colegas encontraram aí a oportunidade de abandonar as drogas, apostando no empreendedorismo na venda de gelados, água potável, detergentes em pó, rebuçados, entre outros produtos.

É o caso do jovem João Paulino, 23 anos, que, por falta de recursos para dar continuidade aos seus estudos e não ingressar no mundo do crime, decidiu lavar carros para sustentar a sua família.

Em termos de preços, a lavagem de viatura ligeira é negociada por mil e 500 a 2.000 kwanzas, a motorizada por 500 a mil kwanzas, e o camião por sete mil a 10 mil kwanzas.

Por ser um trabalho de equipa, consegue levar para casa cinco a seis mil kwanzas, sendo que os rendimentos diários variam em função da afluência de clientes. 

Considerou positiva a relação que mantém com os colegas na prestação deste serviço, em função do grau parentesco ou pelo facto de serem conterrâneos.

Já Manuel Fernando disse que a criação de redes de contacto e vizinhança, com base no grau parentesco, com pessoas de proveniência do mesmo espaço sociocultural, manutenção dos hábitos alimentares, e o falar a língua do grupo etnolinguísticos de origem são as formas mais evidentes de manifestação de laços.

O jovem Paulo Cambinda, um outro lavador, considerou o momento das refeições como uma boa oportunidade para ampliar os laços, uma vez que geralmente é realizado de forma colectiva, mas sempre entre os membros do mesmo grupo.

Sublinhou ser nestas circunstâncias que sobressaem, muitas vezes, a cooperação, colaboração, solidariedade e responsabilidade mútua entre os colegas da “placa” como chamam.

Na ronda efectuada, foi notório aferir que as refeições ocorrem em locais impróprios para o consumo de alimentos, em sítios, onde há poucas condições sanitárias, rodeado por lixo ou poeira, que na maior parte das vezes é produzido pelos mesmos.

Métodos mais lucrativos

Apesar da existência de lugares identificados para a lavagem de carros, muitos jovens, atraídos pela profissão e no desejo de conseguir ganhar dinheiro, procuram estabelecer contratos com os proprietários das viaturas, de modo a serem pagos no fim do mês.

Outros preferem oferecer os seus serviços, mesmo para serem pagos no momento, no estacionamento de viaturas, no caso particular no edifício da “Messi “, antigo armazém das Forças Armadas, hoje chamado “Prédio Caído”.

Opinião de clientes

O preço praticado pelos lavadores informais, em lugares acima identificados, atrai a clientela, com vários automobilistas a recusarem-se a ir a uma estação de serviço, devido aos elevados custos.

Nas estações de serviços, os proprietários lhes são cobrados cinco mil kwanzas em diante, em detrimento de um trabalho completo e o tamanho da viatura.

Ângelo Próspero, proprietário de uma viatura, reconheceu a qualidade da lavagem feita pelos jovens nos diferentes pontos da cidade de Menongue, que não deixa nada a desejar em comparação com a feita nas estações de serviço.

Reconheceu que os jovens são bons, têm feito bom trabalho, o que deixa os automobilistas satisfeitos, daí a contínua preferência.

Para o cidadão Júlio Maliti, o trabalho que estes jovens se dedicam merece respeito e motivação, de formas a justificar a permanência dos jovens nesta actividade, pelo facto de terem uma garantia para o seu sustento e da sua família.

“Para eles, a vantagem desta actividade se restringe à liberdade no trabalho, autonomia, ao contacto permanente com a natureza e o facto de terem trabalho garantido”, rematou.

Maiores preocupações apresentadas pelos jovens

Os jovens apresentaram como maior preocupação a falta de electrobombas, rampas, baldes, mangueiras, mosquiteirose  escovas, entre outros materiais, a par da formação para ajudá-los a inclinar-se para o empreendedorismo e poderem gerar emprego.

Visão do secretariado da juventude  

O secretário do Conselho Provincial da Juventude (CPJ), Miguel Tchissingui Américo, aconselhou os jovens a organizarem-se em associações ou cooperativas de lavadores de carros, para a legalização da actividade.

Avançou que, dentro das políticas que o Governo tem vindo a desenvolver em prol da juventude, a instituição poderá, nos próximos dias, capacitar jovens lavadores de carros ambulantes para formação em empreendedorismo, para incentivar a auto-descoberta de cada jovem e permitir que possam abrir negócios na área comercial ou de prestação de serviços.

Apontou a pobreza extrema no seio de muitas famílias como a principal causa que está na origem do aumento deste trabalho por parte dos jovens, em que muitos pais e encarregados de educação sacrificam os próprios filhos, desde tenra idade, para a venda ambulante, pasto de gado, lavagem de carros e pedintes.  

Importância na renda familiar

Nesse grupo de jovens, constatou-se casos frequentes de órfãos e filhos de famílias de baixa renda, o que de certo modo justifica os seus níveis de escolaridade e preparação profissional.

Parte considerável dos entrevistados possui somente o primeiro ciclo concluído e já não frequenta a escola, sendo muito raro ver-se casos onde se consegue conciliar o exercício da actividade e os estudos.

Questionados sobre motivações que propiciam na actividade da lavagem de carro, a resposta expressa, de forma concisa das pessoas envolvidas na lavagem de carro, fazem-no definitivamente pela situação de pobreza, desemprego e pela falta de apoio institucional, sendo a actividade accionada como uma estratégia quotidiana de sobrevivência, a fim de se contornar as adversidades sociais por eles vivenciada.

Opinião do sociólogo

O sociólogo Conceição Armando aponta a pobreza e a escassez de trabalho no mercado formal em Menongue, falta de programas e políticas públicas capazes de absorver um grande número de jovens em idade activa a curto ou médio prazo, como principais indicadores da situação em causa.

Conforme disse, a insuficiência de posto de trabalho formal acarreta consigo inúmeros problemas sociais, dentre os quais destaca-se a delinquência juvenil, o alcoolismo, a gravidez precoce, a prostituição, a pobreza, entre outros.

“Devido à escassez de trabalho, os jovens procuram, muitas vezes, diferentes mecanismos para contrapor essa insuficiência, e a solução é encontrada, muitas vezes, na lavagem de carro ou na venda ambulante”, notou.

Reconheceu que a lavagem de carros tem servido para o sustento familiar de uma parcela considerável de pessoas e, em determinados casos, constitui a única fonte geradora de renda.

De referir que, na capital do Cuando Cubango, Menongue, são controladas, pela administração municipal, quatro estações de serviços de lavagens de viaturas. LMZ/ALK/FF

  

 





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