Lubango – A Associação de Guias de Turismo e Servidores Artísticos de Angola (AGTSA) defende o retorno do 19 de Janeiro, como data da fundação do Lubango, por ser a que assinala a origem da colónia de Sá da Bandeira, que mais tarde tornou-se na capital huilana.
Desde 2006 que a data da fundação do Lubango mudou do 19 de Janeiro, para 31 de Maio, por orientação do então administrador municipal, Vigílio Tyova, por tratar-se deste em que atingiu a categoria de vila, com a chegada do primeiro comboio do Caminho de Ferro de Moçâmedes, em 1923.
Ao falar da data o presidente da AGTSA, Carlos Bumba referiu que 19 de Janeiro é uma data histórica, que na perspectiva colonial marca a conquista e a ocupação, ao passo que na nacional, é um sinal a resistência e da bravura do povo nativo contra os madeirenses e que chegaram com uma política de desnegramento da zona.
Contou que a área de Kwavangwa era praticamente o centro político, religioso, judicial e cultural, coordenado pelo Ohamba (rei) Oluvango, quando chegam os madeirenses em Novembro de 1884, com uma política de desnegramento, era uma civilização local que os madeirenses correram e usurpam a zona, denominada hoje de Barracões.
“Então houve essa guerra até 19 de Janeiro de 1885, quando o Tchicunde, juiz de Kwavangwa, decide fazer um recuo estratégico com a população para um outro local, deixando o espaço para os invasores e estes por sua vez, fundam a colónia de Sá da Bandeira no referido local”, continuou.
Carlos Bumba declarou que a data serve para reflectir que a chegada dos madeirenses não foi pacífica e a luta contra essa imposição, travada pelo povo, uma altura em que começa-se a edificar o património arquitectónico daquilo que hoje chama "Lubango".
Disse que 2006 deixou-se de celebrar o 19 de Janeiro como o dia da cidade e optou-se pelo 31 de Maio, por conta da chegada do 1º comboio à antiga Sá da Bandeira que tinha título de vila, transportando o alto comissário de Angola na altura, Norton de Matos, ascendendo assim à categoria de cidade.
Referiu que de 1885 a 1923 tinham passado 38 anos, de 2006 para cá têm estado a celebrar o 31 de Maio, tendo "amputado" a história e por consequência disso, maior parte da população ficou sem saber onde começou o Lubango, não conhecem o quilómetro Zero (zona dos barracões), onde ocorreu a batalha entre os portugueses e os Ovanyanekas.
Frisou a necessidade do Lubango respeitar a data de sua fundação, porque a mesma marca a resistência, bravura e a fuga estratégica dos nativos, com medo de uma investida que os portugueses iriam fazer, porque estavam a buscar reforços, tendo a população local mais tarde fechado a fonte que fez com que madeirenses ficassem privados de água e tiveram de migrar para o bairro Mapunda.
Para o, também, investigador, a situação é marcante para relatar às próximas gerações que tiveram reis bravos, que fizeram recuos estratégicos, pese embora essa retirada foi encarada como uma derrota, mas foi um contorno que se veio consumar de forma triunfante no 11 de Novembro de 1975.
“Logo, hoje queremos que se volte ao 19 de Janeiro como feriado local, não se anulando o 31 de Maio, mas que se celebre o 19 de Janeiro como dia da fundação da cidade, o 31 de Maio como a ascensão e ainda o 15 de Agosto como dia da Padroeira da Nossa Senhora do Monte. É importante ter as três datas, pois todas são memoráveis”, manifestou.
Lembrou que a tarefa de voltar a comemorar a data como feriado local depende da Administração Municipal do Lubango, depois de auscultar os actores intervenientes no processo, desde a Igreja Católica, académicos, anciãos, entre outros citadinos, um trabalho já em curso, a quem a AGTSA fez chegar documentos a solicitar essa revisão.
Fez saber que associação em causa, já ouviu o parecer de 29 anciãos naturais e residentes no Lubango, assim como contactou antropólogos, sociólogos, historiadores, bem como tem mantido comunicação com a Arquidiocese do Lubango e a comunidade académica para o devido efeito.
“Queremos que em 2025 sejam celebrados os 140 anos da resistência e da bravura do Lubango com o estatuto de feriado local”, manifestou o agente.
Sobre o assunto, a administração do Lubango promete pronunciar-se em breve.
Enquadramento histórico
Sá da Bandeira foi fundada oficialmente em 19 de Janeiro de 1885, com o nome primitivo de Lobango, que era de um antigo soba da região. Embora os portugueses já estivessem instalados na zona desde 1769 - data em que se criou a actual povoação da Huíla, com o nome de Alba Nova - foi na véspera de Natal de 1884 e em 16 de Janeiro de 1885 que chegaram ao Lubango as duas levas de 222 madeirenses, mandados pelo ministro Sá da Bandeira, para povoar o “fértil e saudável” vale do Lubango.
Narra a história, que esses povoadores, constituídos por 78 chefes de família, entre homens, mulheres e crianças, haviam aportado em Moçâmedes em 19 de Novembro, no navio a vapor «Índia». As dificuldades de transporte, em carros «boers», para vencer as duas centenas de quilómetros que separam o deserto de Namibe e as ravinas da Serra da Chela, obrigaram a colónia a deslocar-se por duas vezes.
Só depois de totalmente instalados, o director da colónia, D. José da Câmara Leme, proclamou a fundação de Sá da Bandeira, no dia 19 de Janeiro de 1885.
Seguiu-se a ascensão à sede do Concelho em 1889, vila em 1901, mediante o Decreto do Ministerio da Marinha e Ultramar, publicado no Diário do Governo n.º 197 de 4 de Setembro.
A colónia de Sá da Bandeira foi-se transformando pouco a pouco no mais importante núcleo da colonização planáltica, tendo a acção, quer militar, quer civil, dela irradiada, avançando, com alternativas de vantagens e insucessos, ao longo do rio Caculuvar até aos Gambos e Humbe, prolongando-se daí para o Baixo-Cunene, até ao Cuamato, Cuanhama e Evale, assim como para o Alto-Cunene, até ao Mulondo e Capelongo (ambo, hoje, comunas da Matala. EM e MS