Luanda - A contribuição de Angola em prol da prevenção, gestão e resolução de conflitos, com base na sua experiência de construção da paz e reconciliação nacional, é cada vez mais notória, nos últimos anos, em particular em África.
Por Valentim de Carvalho, jornalista da ANGOP
A experiência do país em matérias do género é reconhecida a vários níveis e tem sido fundamental, sobretudo, em acções ligadas à pacificação da Região dos Grandes Lagos e em missões de manutenção de paz a nível regional.
Enquanto presidente da Conferência Internacional para a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), Angola registou várias iniciativas diplomáticas de realce, a exemplo da integração nos esforços para a paz duradoura em Moçambique.
Do mesmo modo, as autoridades angolanas têm sido bastante activas na busca da inclusão e estabilidade política na República Centro-Africana (RCA), bem como na mediação no conflito entre a República Democrática do Congo (RDC) e o Rwanda.
O seu engajamento nesta missão, com primazia para o diálogo, dá suporte a uma posição de parceiro político a ter em conta para a concertação e resolução em matérias de gestão de conflitos, tornando o país numa “placa giratória” em prol da pacificação.
Aliás, não é por acaso que o Presidente da República, João Lourenço, foi distinguido, no ano transacto, com o título de campeão da paz e reconciliação no continente, pela União Africana (UA), distinção que valoriza o seu empenho pessoal e o grande esforço de Angola em prol da construção de um continente mais pacificado.
Reconhecimento além-fronteiras
Na verdade, o papel desempenhado por Angola no processo de estabilização política tem merecido também a atenção noutras geografias do mundo, fora do continente.
Recentemente, o país foi referenciado de forma transcendental, tendo o então líder cessante da União Inter-parlamentar (UIP), o português Duarte Pacheco, enaltecido a experiência do Governo angolano no alcance da paz efectiva, após longos anos de conflito, e apelado a outros Estados do mundo para seguirem o exemplo de Angola.
O membro da maior tribuna parlamentar a nível do mundo falava por ocasião da 147ª Assembleia-Geral da UIP, que Luanda acolheu, em Outubro último, sob o lema “acção parlamentar em prol da paz, justiça e instituições fortes”, da qual participaram mais de mil deputados, incluindo alguns presidentes dos 179 parlamentos desta organização.
O parlamentar elogiou a forma como os angolanos souberam conduzir o seu processo, ao ponto de alcançar e selar definitivamente a paz e reconciliação nacional, que já duram mais de duas décadas, e augurou que nações em guerras a nível do mundo e ou povos em conflitos, de um mesmo país, cedo cheguem a entendimento, encontrando soluções político-diplomática duradouras.
Reforço da cultura de paz
Entretanto, a contribuição de Angola ocorre numa altura em que, infelizmente, África continua a enfrentar sérios desafios de segurança, com conflitos permanentes, propagação do terrorismo, actos de mudanças inconstitucionais de governos, consequentes riscos de crises humanitárias e violação dos direitos humanos.
Para criar novas plataformas de entendimento e reforçar a mensagem da necessidade de tornar o mundo, em particular o continente, mais pacificado, Angola acolhe, pela terceira vez, o Fórum Pan-Africano para a Cultura da Paz - Bienal de Luanda 2023.
Trata-se, pois, de um espaço para abordagem abrangente sobre a questão da prevenção da violência e da resolução de conflitos, além da análise de temas ligados à educação, ciência, economia e alterações climáticas.
Durante três dias (22 a 24), centenas de participantes procurarão explorar esta plataforma como meio privilegiado para reflexão e entendimento sobre os principais caminhos a seguir para alcançar a paz e a reconciliação, bem como gerir e resolver problemas, tendo em vista a estabilidade e o desenvolvimento do continente.
Representantes de Governos, da sociedade civil, comunidade artística, científica e membros de organismos internacionais têm como denominador comum, para um encontro que se pretende o mais consensual possível, o incentivo ao intercâmbio cultural, ao diálogo entre gerações e à promoção da igualdade de género.
O evento, co-organizado pelo Governo de Angola, a União Africana (UA) e a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), visa promover acções que contribuam para o fortalecimento do movimento Pan-africano e a manutenção de uma cultura de paz e não-violência no continente e no mundo.
Os seus objectivos estão “ancorados” nas aspirações da União Africana, isto é, no compromisso de garantir uma África integrada, pacífica e próspera, em que os seus filhos assumam uma posição solidária nos processos de transformação económica e social em curso.
O fórum contará seis painéis, que abordarão os temas “jovens, actores na promoção da cultura de paz e transformações sociais do continente”, “tecnologia e educação como ferramentas para alcançar a igualdade de género”, “o papel da mulher nos processos de paz, segurança e desenvolvimento”e “o processo de transformação dos sistemas educativos: práticas inovadoras e financiamento no contexto africano”.
A agenda reserva ainda matérias relacionadas com “os desafios e oportunidades da integração do continente africano e as perspectivas de crescimento económico” e “alterações climáticas: desafios éticos, impactos, adaptação e vulnerabilidade”.
Quanto à cultura, prevê-se para o terceiro e último dia da Bienal visitas a museus e outros lugares históricos, com destaque para o Memorial Agostinho Neto, Palácio de Ferro e os museus nacionais de Antropologia e de História Militar. VC/VIC/VM