Luanda – A construção de embarcações artesanais, a venda de bebidas alcoólicas de baixa qualidade e refeições, na Floresta da Ilha de Luanda, município de Luanda, retira a essência do espaço de cerca de dois hectares que no passado atraiu inúmeros turistas.
Por: Luís Diogo do Nascimento
Este tipo de actividade, quer a construção de canoas como o comércio precário, realizado ao longo da orla marítima na zona da Floresta da Ilha de Luanda, distrito urbano da Ingombota, é o maior constrangimento para o espaço votado praticamente ao abandono.
A actividade desenvolvida no local por gente proveniente de vários municípios da província de Luanda que geralmente também pernoita no espaço, segundo os mesmos, é a única forma de sustentar as suas famílias.
A ANGOP constatou que, para além da construção de embarcações, existem na área muitos barcos convencionais avariados e outros totalmente danificados, criando-se a imagem da existência de um museu do mar.
Apesar do aparente cenário de abandono, deposição de lixo em alguns pontos, a Floresta da Ilha de Luanda ainda é escolhida para retiros religiosos, encontros de casais, prática desportiva e piqueniques.
Segundo o administrador do distrito urbano da Ingombota, município de Luanda, Paulo Furtado, em declarações à ANGOP, a Floresta da Ilha de Luanda não se encontra num estado de abandono, pois recentemente a administração colocou alguns bancos e mesas que têm servido de suporte no lazer dos munícipes.
De acordo com Paulo Furtado, a imagem que se passa de um espaço abandonado é pelo facto de algumas pessoas provenientes de vários pontos de Luanda fazerem no local a sua actividade precária e depois acabam por dormir mesmo na floresta.
Reconheceu que em algumas partes do espaço o tratamento dado é indevido, apesar dos serviços de fiscalização e a Polícia Nacional (PN) levarem a cabo acções para desencorajar práticas que visam a destruição da área.
Deu a conhecer que mesmo junto da floresta existe a Unidade da Polícia Fiscal Marítima, efectivos de Guarda Fronteira, bem como o ponto de atracagem provincial, regional do Porto de Luanda, Cooperativa de Pesca Artesanal, que monta e repara barcos, que também ajudam no controlo da floresta.
Precisou que através da Unidade Técnica do distrito, a empresa Aquagest, limpa regularmente o espaço e destrói cabanas, para inibir que as pessoas façam da zona um local habitacional.
No local, está previsto para breve a instalação de uma estrutura metálica provisória onde vão funcionar os serviços de fiscalização, protecção civil e bombeiro e polícia da ordem pública, no sentido de desencorajar a vandalização do espaço, enquanto se aguarda pela efectivação do projecto de requalificação.
Apelou às instituições com estruturas funcionais no local e aos munícipes dos arredores para colaborarem na fiscalização, no sentido de, através de denúncias junto da administração local, impedir-se a deposição de resíduos sólidos feito na sua maior parte por empresas.
O Governo, segundo Paulo Furtado, está a trabalhar para a requalificação da área e já retirou de lá muitas famílias que acampavam, faziam piqueniques e desenvolviam outras actividades de lazer.
Deu a conhecer que empresários árabes apresentaram ao Executivo um projecto turístico que está em fase de tratamento administrativo, cujo objectivo é a construção de resorts ao longo da orla e a requalificação da área.
Reconheceu que o estado actual do recinto causa um impacto negativo à Ilha de Luanda, ao distrito e à cidade, visto que alguns munícipes, por curiosidade, visitam o espaço, mas o cenário actual é desagradável.
Por seu turno, o presidente da Juventude Ecologia de Angola (JEA), José Silva, disse que já perdeu o encanto, mas tem esperança por dias melhores para a Floresta da Ilha de Luanda, visto que o verde nas árvores é visível.
Afirmou que a floresta está abandonada, num estado de incerteza e desprotegida, por ter-se tornado um local para a deposição de resíduos sólidos, refúgio de delinquentes e derrube de algumas árvores, que deu lugar a construção de uma unidade hoteleira, entre outras práticas, menos acções a favor do ambiente.
Segundo o ambientalista, há uma série de situações que são importantes e devem ser revistas na floresta para que não se perca um importante pulmão ambiental.
O ecologista frisou que o espaço requalificado poderá trazer grandes ganhos ao Governo da Provincial de Luanda, através da arrecadação de receitas, por intermédio dos serviços que vierem a surgir no local.
Defendeu não apenas atenção para a floresta, mas também para o interior da Ilha, onde existem sérios problemas de saneamento básico que têm contribuído para a poluição do ambiente na zona.
No período colonial, segundo a rainha do União Mundo da Ilha, Beatriz António, 79 anos, a floresta era um ponto turístico, que acolhia muitos estrangeiros provenientes de vários pontos, para fazerem piqueniques na sombra das casuarinas, mergulharem nas águas da baía, onde o acesso das viaturas era proibido, ao contrário dos dias de hoje.
A bailarina do grupo carnavalesco augura por um espaço igual ou melhor que no passado onde os convivas possam desfrutar de um agradável ambiente, que começou a alterar no pós-independência.
Afonso Joaquim “Tio Cruz”, 75 anos, presidente da comissão de moradores da Ilha de Luanda, defende melhor controlo dos espaços de lazer e mais acompanhamento das autoridades, no sentido de continuar a ser o cartão postal dos ilhéus.
Sublinhou que o cenário actual é diferente do passado, quando as actividades eram selectivas e o acesso apenas para pessoas ou viaturas autorizadas.
Apelou para a requalificação urgente do recinto ou melhoria da iluminação, a exemplo da Avenida Murtala Mohamed, visto que a floresta está muito escura, cenário que pode contribuir para práticas criminosas.
Em Outubro de 2021 a área foi visitada pelo vice-presidente da República, Bornito de Sousa, que na ocasião, considerou fundamental a sua conservação, por ser útil para a oxigenação do ambiente, a nidificação (construção de ninhos) e a pernoita de aves, numa altura em que a espécie de árvores “casuarinas” corre sérios riscos de extinção, na floresta.
A Floresta da Ilha de Luanda foi criada na era colonial para servir de ponto de equilíbrio entre os eventos provenientes da contra-costa e da baía, no sentido de se evitar erosões.
As casuarianas, apesar do risco de extinção que correm, continuam a ser a espécie que mais abunda no conjunto das mais de 700 árvores que compõem a Floresta da Ilha de Luanda, uma área com mais de dois hectares.
Espécie semelhante ao Pinheiro, as casuarinas têm a particularidade de resistir e adaptar-se à falta de água e ao solo arenoso, típico de zonas do litoral.