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Médica defende alimentação equilibrada no combate a desnutrição e obesidade

     Saúde              
  • Luanda • Quarta, 16 Outubro de 2024 | 22h49
Coordenadora provincial da saúde infantil, nuricional e adolescente, Ana Isabel
Coordenadora provincial da saúde infantil, nuricional e adolescente, Ana Isabel
Domingos Cardoso - ANGOP

Luanda - A coordenadora provincial da Saúde Infantil Nutrição e Adolescente, Ana Isabel, recomendou nesta quarta-feira, em Luanda, às famílias a primarem por uma alimentação equilibrada baseada em carboidratos, proteínas, cereais, verduras e gorduras, por formas a combater a desnutrição e a obesidade.

A responsável falava em entrevista à ANGOP a propósito do Dia Mundial da Alimentação, assinalado hoje, 16 de Outubro, tendo enfatizado que a falta de um dos componentes alimentares provoca um desequilíbrio que pode causar desnutrição, diabetes e problemas cardíacos.

Falou da importância dos açúcares e dos legumes que também devem estar presentes na alimentação. “Se não tivermos uma refeição composta de todos estes alimentos, podemos dizer que não temos uma alimentação saudável ou equilibrada, o que nos preocupa, principalmente para às crianças”.

 

Acompanhe na integra a entrevista:

ANGOP - A nutrição, baseada na alimentação e no repouso físico adequado, concorre para o bem-estar psico-emocional e físico do homem. Nesta senda, o que provoca a desnutrição, um fenómeno oposto?

Ana Isabel - Dizer que nós comemoramos, a 16 de Outubro, o Dia Mundial da Alimentação Saudável para sensibilizar as comunidades no sentido de reconhecer a importância de ter uma alimentação saudável.

De modo geral, a Organização Mundial da Saúde e o Fundo para Alimentação e Agricultura (FAO) reconhecem que devemos informar às comunidades sobre a forma de se alimentar. Uma coisa é comer, outra coisa é alimentar-se e, para nos alimentarmos, precisamos ter em conta os grupos que compõem uma alimentação saudável.

Quando falta um dos componentes deste quadro de alimentação, podemos sim ter um desequilíbrio que pode causar desnutrição, diabetes e problemas cardíacos.

ANGOP – Falou em componentes para uma alimentação saudável. Quais são?

AI - Para termos uma alimentação equilibrada ou saudável, precisamos ter os carboidratos, onde temos as farinhas, que abarca a fuba, mandioca, batata-doce, o inhame, entre outros, as proteínas animal e vegetal, os cereais (feijão e grau de bico), as verduras e a gordura.

Depois temos ainda a questão dos açúcares, que também estão dentro da gordura, e os legumes que também devem estar presentes.

Então, se não tivermos uma refeição composta de todos estes alimentos, podemos dizer que não temos uma alimentação saudável ou equilibrada, o que nos preocupa, principalmente para às crianças.

Infelizmente temos uma prática cultural que, quando a criança começa a comer, a rotina é o funge com molho de tomate. Este é um alimento que não alimenta a criança, mas sim prejudica, porquanto não tem peixe, não tem carne e não tem ovo.

Assim, começamos a ver crianças com desnutrição, por falta de alimentos necessários. Então, se colocarmos dentro deste molho de tomate, o peixe, a carne, o ovo, a galinha ou o feijão, vamos ter uma refeição completa. Então, isto vai fazer com que a criança seja saudável e tenha um desenvolvimento cognitivo bom.

ANGOP – Coordenadora, não obstante o facto de nos alimentarmos convenientemente ou de forma adequada, há outro risco que se corre mesmo tendo uma boa alimentação. Estamos a falar dos excessos. Quais os cuidados a ter?

AI – Por isso mesmo é que se comemora esse dia 16, para chamarmos atenção de que não devemos ter um alimento por excesso, mas sim de forma equilibrada. Por exemplo, se eu sou uma pessoa que consumo muitos carboidratos, vou ter muita caloria e, consequentemente, muita energia.

Essa energia o organismo vai ter que transformar para outros componentes que eu não adquiri, porque só comi, imaginemos, muito pão. Só comi pão, não pus manteiga, não pus nada. Vou  destruir o meu organismo.

O mesmo acontece quando se come um bom prato de funge. O funge deve estar, mas acompanhado com o molho, onde teremos o peixe ou a carne.

Mas se tiver excesso de um único alimento, também terá uma outra patologia. Por exemplo, com muitos carboidratos ou muita caloria, pode-se ter obesidade.

Então, a obesidade é também uma malnutrição, nós só falamos daqueles casos em que a pessoa emagrece, mas a obesidade também refere-se à malnutrição.

ANGOP – Coordenadora fez referência a desnutrição e obesidade. Como se manifesta o binómio malnutrição e obesidade?

AI - Então, temos dois tipos, a desnutrição, quando a pessoa perde praticamente todos os tecidos, aquele emagrecimento  que vemos, fruto da perda das calorias e a gordura em si que o corpo tem.

Depois temos a obesidade, que faz parte também da malnutrição e se caracteriza pelo enchimento do corpo. No conjunto temos desnutrição por defeito e por excesso.

ANGOP - Podemos considerar esses dois os principais problemas advindos da alimentação?

IA - Os dois advêm da alimentação por excesso ou por defeito. Referir que a obesidade pode advir também de situações hormonais.

ANGOP – No âmbito da malnutrição, como é que está a capital do país em termos estatísticos?

IA - Nós temos casos de desnutrição a nível da província de Luanda. Temos salas de atendimento para crianças com desnutrição, num total de 52 unidades.

Durante o primeiro semestre deste ano, mais de três mil crianças com desnutrição foram atendidas. Comparativamente ao ano de 2023, temos um aumento de mais de mil crianças.

ANGOP - Falando ainda sobre a obesidade derivada da malnutrição, que perigos é que pode ter para o funcionamento do coração?

AI - É bastante importante esta informação. Nós temos que ter o cuidado, uma vez que quando um indivíduo é obeso, o coração é um dos órgãos principais afectados, por ficar todo rodeado de gordura.

Um colapso de cada um dos órgãos, o coração ou fígado, pode levar a uma situação não muito boa, inclusive à morte. Mas se pode reverter a situação, por exemplo, com a diminuição daqueles alimentos que levam à obesidade, exercício físico, consumo de água diário, pelo menos dois litros e meio.

ANGOP - Coordenadora pode falar da relação nutrição, obesidade e hipertensão?

IA - A hipertensão tem a ver com a medição da pressão arterial. Então, quando eu estou a medir a pressão arterial e ela está alta, estamos a falar de hipertensão.

Quando estamos a falar de obesidade, quer dizer que é aquela pessoa que tem excesso de peso. E a nutrição tem a ver com o alimento, o nutrir a pessoa. Como é que eu alimento a pessoa. Então estamos a falar da nutrição. E todas elas se intercalam. Se eu tiver uma boa alimentação, uma boa nutrição, posso prevenir a obesidade e posso prevenir a hipertensão. Embora sabemos que temos alguns factores hereditários que podem levar a pessoa a ter obesidade e hipertensão, para além da nutrição.

ANGOP -  E há alguma relação entre a nutrição e a diabete?

IA - Todas elas têm interligação, a hipertensão, a obesidade têm ligação com a nutrição, a diabete tem ligação com a nutrição e também tem factores hereditários. Porque nós temos o tipo um e o tipo dois. Então, se eu for hereditária, poderei ter, mas também se não tiver factores hereditários e a minha alimentação for má, eu poderei ter, pelo facto de que um dos factores, por exemplo, é a questão da obesidade. Posso ter diabete por ter obesidade.

ANGOP - Ainda sobre a questão da nutrição, O Governo angolano instituiu a merenda escolar. Como deve ser confeccionada para ajudar os adolescentes e os jovens. Até que ponto é que a merenda escolar, feita na base de produtos nacionais do campo, concorre para uma alimentação saudável?

AI - É a melhor opção fazendo com os alimentos locais. Quando  fazemos uma merenda com alimentos processados, poderemos não ter o equilíbrio alimentar, como nós falamos de alimentação saudável. Mas quando estamos a falar de alimentos locais há certeza que o alimento é adquirido mais facilmente, está a ser produzido localmente e não será processado, o que é bom para dar às crianças e adolescentes.

ANGOP - Que cuidados os pais e encarregados de educação devem ter com os lanches, uma vez que na sua maioria optam pelos sumos, bolachas, batatas fritas, entre outros empacotados?

Ai -  Na verdade, essa é uma grande questão. Nós vemos que as famílias se preocupam em dar o lanche das crianças com muitos alimentos processados. Por exemplo, entre levar um sumo processado e dar uma laranja, seria melhor dar uma laranja, porque é um alimento natural local. Comer um abacate é mais favorável, assim como comer uma manga.

Em quase todas as praças encontramos a manga, laranja, mamão, entre outras frutas, de acordo com a época, que podem substituir os empacotados.

A mãe deve cortar a fruta em pedacinhos, colocar numa tigelinha fechada e dar a criança para levar. Estará a alimentar-se melhor do que comprar um sumo de manga. Pode ainda pegar o pão, o ovo ou se quiser cozer o ovo. É muito mais nutritivo do que ir buscar bolachas, que é um alimento processado. Então, nós podemos fazer os alimentos locais como lanche diariamente.

As mães devem procurar equilibrar a alimentação. Se um dia deu o pacote de bolacha, no dia seguinte entrega pelo menos uma fruta.

ANGOP - Caso não mude, que consequências pode causar às crianças?

AI - As consequências serão aquelas que nós já sabemos, a criança poderá ter uma questão de obesidade e muitas vezes, por exemplo, a criança tem a obstipação que nós chamamos de prisão de ventre, por comer alimentos muito secos e não beber água. Então, eu quero ajudar a minha criança ou quero prejudicar a minha criança? Eu acho que nenhuma mãe quer prejudicar.

Então, vamos tentar melhorar, mudar a nossa prática.

ANGOP - Mais um aspecto dentro das consequências que podem advir do uso excessivo desse tipo de produtos ou de alimentos para as crianças?

AI - Na verdade, podem não ser penosos no momento, mas isso depois acarreta o futuro. Eu posso, neste momento, não ter problemas de obesidade e aparentemente estar bem, mas depois, no futuro, nós vamos ver uma pessoa hipertensa, com colesterol alto.

Isso tem a ver com o início da infância, da adolescência e depois a fase adulta, porque as consequências não são imediatas, são a posterior, são no futuro. A pessoa vai ser hipertensa porque a vida anterior foi má, a alimentação foi má. Vai ser obesa, pode não ser no momento, vai ter problemas de colesterol não no momento, mas no futuro.

ANGOP - Na questão, por exemplo, do desenvolvimento cognitivo da criança, também pode acabar por afectar?

AI - Tudo está interligado. Então, nós precisamos de buscar agora, enquanto criança, porque somos o que comemos. O que se come hoje, vai ser o futuro.

ANGOP - De forma geral, que políticas têm sido implementadas pelo Executivo, no âmbito da desnutrição para o desenvolvimento cognitivo das crianças e adolescentes?

AI - É precisamente chamarmos a atenção às famílias, sensibilizar as famílias na forma de como alimentar as crianças. Pensar que, principalmente, começar pelo primeiro alimento e o único alimento melhor da vida, o aleitamento materno até os seis meses.

A partir dos seis meses começar com a alimentação complementar, introduzindo paulatinamente os alimentos e compreender que, no primeiro ano de vida, a criança não precisa de alimentos com muito açúcar, evitar mesmo alimentos processados, comer alimentos locais, frutas locais, de acordo à época, para prevenção do futuro.

ANGOP - Já fez referência à percentagem de crianças afectadas pela malnutrição a nível da província de Luanda. Queríamos perceber quais as zonas, do ponto de vista percentual, que são mais afectadas por esse problema?

AI - Nós temos a malnutrição, de uma forma geral, na província toda. Mas os municípios mais críticos são Viana, Cacuaco e Cazenca.

ANGOP - Qual é o índice? Qual é a percentagem?

AI - Podemos dizer que tem entre 30 por cento a 40 por cento daquilo que são os dados da província.

ANGOP - E quais são as idades mais afectadas a nível da província?

AI - Infelizmente, são os menores de cinco anos e precisamente pela má alimentação que as mães fazem aos seus filhos, introduzem os alimentos muito precocemente, uma criança começa a comer funge no primeiro mês de vida. É mau. Nós estamos a matar os nossos filhos.

O melhor e o único alimento na face da terra que a criança precisa é o leite materno. E depois ir introduzindo paulatinamente os outros alimentos. Porque não quer dizer, muitas vezes, que as crianças entram na desnutrição pelo fato de não ter alimento. Não, é como as mães introduzem os alimentos e como preparam os alimentos. Porque ela, por exemplo, tem peixe, mas não dá ao filho.

Ela come, o pai come, mas a criança menor de um ano não come o peixe, não come a carne, porque ela acha que ainda não pode comer carne, não pode comer verduras, não pode comer feijão, porque as mães têm muitos mitos em relação aos alimentos.

Dizem que se comer verdura vai ter febre tifóide, vai ter diarreia, se comer feijão vai ter febre tifóide, vai ter diarreia. Então, esses mitos, infelizmente, é que prejudicam que as nossas crianças vão para a desnutrição.

Não é apenas por terem falta de alimentos, é também a forma como se preparam os alimentos para dar às crianças.

ANGOP - Há mais algum aspecto relevante para fazer referência?

AI - Eu gostaria de pedir mesmo às nossas mães que ouvissem a informação dos nossos profissionais, principalmente para as crianças menores de dois anos de idade. Que dessem o leite materno até os seis meses de idade e a partir dos seis meses começassem a introduzir os alimentos de forma graduada, paulatinamente, de acordo com as orientações que os centros de saúde vão dando.

O que vemos a nível das unidades sanitárias é que as mães deixam as crianças com outras crianças e não dão os alimentos que orientamos para as crianças.

E muitas delas vão para as salas de tratamento nutricional pela forma como as mães alimentam as crianças.

ANGOP - Por ocasião do Dia da Alimentação, 16 de outubro, que medidas ou iniciativas estão a ser tomadas para esclarecer alguns aspectos ligados à alimentação saudável?

AI - Nós estamos a fazer palestras a nível das unidades sanitárias e também nas cozinhas comunitárias nos municípios e nas administrações municipais, para informar as mães da importância de como preparar os alimentos para as crianças. É o que mais nos preocupa, tendo em conta que é desde criança que devemos alimentar bem para o futuro do ser humano.

O Dia Mundial da Alimentação é comemorado a 16 de Outubro desde 1981. É actualmente celebrado em mais de 150 países, como uma importante data para consciencializar a opinião pública sobre questões relativas à nutrição e à alimentação.

A data corresponde também à fundação da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).  CPM/OHA





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