Benguela – Mais de quarenta crianças com lábio leporino e fenda palatina de várias províncias do país estão a ser operadas, desde esta segunda-feira, no Hospital Geral de Benguela (HGB), no âmbito da campanha de cirurgias grátis para esta má-formação congênita.
São crianças com mais de cinco anos – incluindo quatro adultos – não só da província de Benguela, mas também de Luanda, Cuanza Sul, Namibe e da Huíla, que estão à espera desta cirurgia eficaz há muitos anos, para lhes devolver o sorriso e a autoestima.
A campanha é desenvolvida, desde 2010, pela associação Kimbo Liombembwa – Aldeia da Paz para a Criança, em parceria com o Ministério da Saúde, no quadro do projecto Muenho (Vida), patrocinado pela Sonangol, tendo como foco a melhoria da qualidade de vida dos pacientes, através de cirurgias grátis.
Segundo a secretária-geral daquela organização não-governamental, Servelina Neto Sinalto, a meta é operar de dez a doze crianças, diariamente, até ao fim da campanha de cirurgias, previsto para o próximo dia 24
Deu a conhecer que as cirurgias estão a cargo de uma equipa de oito profissionais vindos da Alemanha, sendo quatro médicos especialistas em cirurgia e maxilo-facial, dois enfermeiros e dois anestesistas.
Apesar do interregno devido à Covid-19, a responsável realçou o espírito de missão e entrega dos médicos alemães de operar as crianças seleccionadas pela Kimbo Liombembwa, livrando-as deste defeito de nascimento.
Por essa razão, considera uma oportunidade singular para muitos profissionais nacionais, sobretudo os especialistas em maxilo-facial, unirem sinergias no sentido de, no futuro, serem eles próprios a operar.
Combate ao estigma social
Para a também médica pediatra, estas crianças passam por vários constrangimentos sociais, nomeadamente o bullying na escola, enquanto os adultos enfrentam a falta de aceitação social e dificuldades no acesso ao emprego.
A título de exemplo, citou o caso de uma cidadã de 35 anos de idade que, após ser operada ao lábio leporino, em 2019, chorou de tanta emoção ao ver seu rosto através de um espelho no bloco operatório.
A médica lembra que a campanha surge da necessidade de ajudar as famílias angolanas mais vulneráveis a combater o estigma com que as crianças se defrontam, sobretudo na idade escolar.
“As crianças não têm que sofrer bullying na escola por ter os lábios abertos ou a sair”, frisou, salientando que a Kimbo Liombembwa abraçou o projecto porque esta má-formação congénita é muito frequente, por um lado, e a medicina moderna tem soluções para resolver o problema, por outro.
A pediatra dá conta de que 260 crianças com lábio leporino e fenda palatina de diversas províncias do país já foram operadas desde o lançamento da iniciativa, em 2010.
Daí ter garantido que, apesar das dificuldades actuais, o projecto vai continuar a ser desenvolvido, tendo em vista dar qualidade de vida à criança angolana, que merece sorrir e brilhar.
Ganhos
Já o director do Hospital Geral de Benguela, Divane Marcolino, considera um ganho para a instituição, dado o envolvimento da equipa de médicos de cirurgia e de maxilo-facial, de modo a obter mais práticas.
A expectativa, sublinhou, é de que o Hospital Geral de Benguela venha a ter capital humano qualificado para resolver situações como esta localmente, num futuro próximo.
Como o HGB é um “hospital-escola”, que aposta no processo de formação contínua, Divane Marcolino diz ser necessário que todos os profissionais médicos internos acompanhem estas cirurgias.
Pacientes satisfeitos
Proveniente de Luanda, Odete Sapeca, mãe de uma menina de um ano, não cabia em si de contente.
Pela primeira vez iria ver o sorriso de sua filha, uma das dez crianças operadas no primeiro dia da campanha em Benguela.
Odete lembra o sofrimento por que passou, sempre que a sua menina era vítima de preconceito devido ao lábio leporino na comunidade onde reside, na capital do país.
Outro cidadão satisfeito é Almeida Henriques, residente na cidade do Sumbe, província do Cuanza Sul, cuja filha de três anos aguardava pela operação desde que nasceu a 7 de Agosto de 2020.
“Há muito que esperávamos esta grande campanha, porque notamos uma deficiência no lábio da nossa querida filha”, contou, destacando ainda que a campanha da Kimbo Liombembwa está a devolver esperança a muitas famílias. JH/CRB