Caxito – Treinar e guiar os pais como replicar em casa os procedimentos feitos no hospital pode ser uma das chaves para o sucesso da campanha de rastreio dos transtornos de neurodesenvolvimento que está a decorrer no Hospital Geral do Bengo "Reverendo Guilherme Pereira Inglês".
Dentro desse projecto, quando começarem as intervenções, em Janeiro de 2025, estão planificadas formações para os pais para que possam saber como lidar com os filhos e ter maior tranquilidade, explicou o director-geral do Hospital Geral do Bengo "Reverendo Guilherme Pereira Inglês", Geovani Malega.
“Os pais muitas vezes não sabem o que fazer, os filhos não falam, não andam, não interagem, então acabam por fechá-los em casa quando vão trabalhar, quando existe terapia para que os filhos possam se tornar mais autónomos e os pais deixarem de sofrer com essa patologia dos filhos”, ressaltou.
A especialista em neurodesenvolvimento e mestre em terapia ABA, Line Duarte explica que tanto a área clínica, como a escolar têm responsabilidade para com essas crianças.
A ideia é capacitar os profissionais das escolas a aceitar crianças com transtornos de neurodesenvolvimento para que o que está a fazer feito no hospital seja replicado nas escolas e no seio familiar e se obter resultados positivos.
“Não adianta ficarmos durante duas a três horas a fazer intervenções se quando chegar em casa ou na escola os pais e professores fizerem o contrário. Aí a criança torna-se agressiva e não há resultados”, esclareceu a especialista.
Explicou que pretendem atender nos três dias da campanha mil e trezentas famílias, mas se aparecerem mais famílias serão atendidos.
“Temos uma equipa multidisciplinar, não serão apenas os aplicadores ABA, mas toda a equipa do hospital, só de técnicos estamos a falar de dez inicialmente, com tendência de duplicar, e de profissionais multidisciplinares temos por volta de 80, então temos muitos”, disse a especialista.
Line Duarte frisou que o rastreio não é apenas para crianças que nunca fizeram terapia, mas também para aqueles pais que sentem que não tiveram resposta ao longo desse percurso.
Revelou que o tratamento do neurodesenvolvimento no país é muito caro, mas isso não acontece apenas em Angola, pois os especialistas são muito raros, tanto no ramo privado como no público.
Disse que nos Estados Unidos da América, onde se formou, as consultas de intervenção ABA custam entre três mil a cinco mil dólares, o equivalente a três e cinco milhões de Kwanzas que uma família gastaria mensalmente para o seu filho.
A terapia ABA (em inglês Applied Behavior Analysis) é um método terapêutico que significa Análise do Comportamento Aplicada que consiste numa uma abordagem baseada em princípios científicos do comportamento que visa modificar comportamentos, ensinar habilidades e promover a autonomia da criança com transtornos de neurodesenvolvimento. CJ/PA