Lubango - A directora-geral da Maternidade do Lubango “Irene Neto”, Irina Jacinto, defendeu, no Lubango, a necessidade dos hospitais munirem os técnicos com formação de especialidade, para que ganhem competências de cuidar de doentes com cancro e suprir a carência de quadros nesse segmento.
Fez saber que devido à essa carência de quadros, só Luanda tem a capacidade de fazer os três acompanhamentos ao doente oncológico, nomeadamente a cirurgia, quimioterapia e radioterapia.
Angola tem menos de 30 médicos oncológicos, em áreas como radioterapia, cirurgia, patologia, clínica, entre outras, tendo a Huíla somente uma cirurgiã oncológica.
A médica cirurgiã oncológica, falava à ANGOP, hoje, quarta-feira, no âmbito do Congresso da Organização Africana de Pesquisa e Treino em Oncologia (AORTIC) dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), que acontece de cinco a sete do mês em curso, no Hospital Cardeal Dom Alexandre do Nascimento, em Luanda, onde será oradora.
A especialista que vai abordar sobre o desenvolvimento de competências dos profissionais na área de oncologia, afirmou que a falta “gritante” de especialistas na área, deve levar as unidades hospitalares com o serviço a apostar em criar capacidades para os técnicos de que dispõe.
Ressaltou que no seu hospital essa estratégia já está a ser desenvolvida, sinalizando dispor já de enfermeiras que antes estavam voltadas à clínica-geral e à ginecologia obstetrícia, mas a remeteram à área de oncologia.
“Temos enfermeiras que fazem biopsia da mama, os papanicolau, e outros exames. O que precisamos fazer é gerar competência com os recursos existentes, pois os pacientes já estão aqui e temos de optimizar a presença dos profissionais, dando-lhes outras valências”, ressaltou.
Acrescentou terem já um médico imagiologista que realiza biopsias guiadas, tarefas anteriormente feitas pela especialista, sendo a única cirurgiã do ramo, na província, daí a importância que os outros hospitais repliquem tal prática para garantirem um atendimento à altura na área.
O Congresso da AORTIC- PALOP, a ser organizado pelo Instituto Angolano de Controlo do Cancro, vai ser realizado pela primeira vez de forma presencial em Luanda, sendo que a anterior edição que Angola também albergou aconteceu em 2021, em formato online.
O primeiro dia está voltado para os cursos pré-congressos com destaque para um ligado aos cuidados paliativos, nos dias seguintes o congresso, que vai debater temas voltados para o ensino da oncologia em África com todos os seus desafios.
O congresso vai rodar em torno da formação, experiências particulares de cada um de alguns dos países africanos, voltando para os recursos existentes do ponto de vista de oncologia e extensão de tratamento, iniciativas de eliminação do cancro do colo uterino, a radiação, oncologia pediatria, o registo de base populacional, entre outros.
A expectativa é congregar de 100 a 120 convidados, de profissionais ligados à oncologia e os que fazem parte das equipas multidisciplinares, como enfermagem, psicológicos, estatísticos, nutricionistas e outros essenciais para a área.
A AORTIC é uma organização africana que faz investigação e forma de técnicos na área de oncologia. É composta por países anglófonos, francófonos e alguns de língua oficial portuguesa. O evento da AOTIC global é realizado a cada dois anos, neste intervalo acontecem a AOTIC-PALOP entre outras variantes.
Em 2022 a organização criou uma componente voltada para a formação onde treinam jovens oncologistas na área de investigação e liderança em África, pela primeira vez tiveram uma representação de Angola, no caso a especialista Irina Jacinto, um treinamento que tem a duração de dois anos.
O evento serve para chamar a atenção para doença que ainda continua a ser negligenciada, um apelo para os profissionais de saúde para a atenção que devem prestar aos pacients, à patologia e aos decisores, no sentido de priorizar-se o assunto, no ponto de vista de políticas públicas, tendo em conta o rastreio, diagnóstico e tratamento. EM/MS