Doenças bucais "ganham terreno"

     Saúde              
  • Luanda • Sábado, 20 Março de 2021 | 22h13
Especialista em cirurgia e traumatologia maxilar facial, Dawla Dinis
Especialista em cirurgia e traumatologia maxilar facial, Dawla Dinis
Cedida

Luanda – A qualquer momento da vida, todo o ser humano pode precisar de acorrer ao dentista, para resolver problemas nos dentes, nas gengivas, na língua ou mesmo nas paredes internas da boca.

Por Vissolela Cunha

É com este especialista, que melhor se aprende a prevenir ou tratar de problemas dentários, como a halitose (mau hálito), gengivite (inflamação nas gengivas), periodontite (perda de dentes), afta (feridas na boca), tártaro (placa bacteriana que endurece na superfície dos dentes) e cáries.

Trata-se de um indispensável profissional quando o assunto é manter a higiene e evitar as lesões na boca, em particular nos dentes, que a cada ano vão afectando um maior número de pessoas no Mundo.

Os números falam por si. De acordo com Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 2,3 mil milhões de pessoas (32% da população) tem pelo menos uma cárie dentária na dentição permanente.

A OMS estima que praticamente todos os adultos venham a ter cárie dentária em algum momento da vida, sendo que nos dentes de leite (aqueles surgidos na infância), elas afectam 620 milhões de pessoas, ou seja, 9% da população.

Em Angola, milhares de cidadãos ainda negligenciam o problema, fazendo um deficiente trabalho de higiene bucal, facto que faz disparar os números de pacientes nos consultórios médicos (públicos e privados).

Os dados revelam que pelo menos 95% da população angolana sofre de algum tipo de cárie dentária, doença causada por ácidos produzidos pelas bactérias presentes na boca, que pode ser evitada com a limpeza dos dentes pelo menos duas vezes ao dia. Uma delas deve ser sempre antes de dormir.

Apesar do volume de informações disponível sobre a matéria, os problemas com a saúde bucal tendem a aumentar em todo o país, onde a dor de dente e a inflamação das gengivas já se tornaram em verdadeiros problemas sanitários.

Dados obtidos pela ANGOP, neste Dia Mundial da Saúde Bucal (20 de Março), estimam que em média 500 pacientes buscam assistência médica em todo o país, por dia, três mil e 500 por semana, 14 mil por mês e 168 mil em cada ano.

Se, por um lado, os números impressionam, por outro, nem todos os pacientes têm tratamento imediato. Dos 500 pacientes/dia, apenas 360, em média, conseguem atendimento efectivo em consultas de estomatologia.

Custos elevados

Esta realidade deve-se, essencialmente, ao reduzido número de profissionais especializados, quer nos  hospitais públicos, quer nos privados, e aos altos preços praticados para os serviços dentários.

Conforme os números, nos hospitais privados os preços variam entre 15 e 28 mil Kwanzas para um tratamento normal,  contra mil nas unidades sanitárias públicas, estas últimas que têm a maior "pressão" da população necessitada.

Ainda nas clínicas privadas, a simples limpeza dos dentes para a retirada de tártaros (placa bacteriana ou biofilme dental que endurece na superfície dos dentes) pode custar ao paciente 20 mil Kwanzas ou mais.

Já para quem procura por tratamento especializado, como o alinhamento dos dentes, por exemplo, o serviço fica na ordem dos 30 a 49 mil Kwanzas, em média, nos hospitais privados.

Para piorar o problema, as consultas de estomatologia não constam de grande parte dos pacotes das seguradoras, algo que complica a vida até de quem contratou uma instituição especializadas para assegurar a sua saúde.

Entretanto, apesar de ainda ser em número reduzido, algumas empresas do ramo de seguros já começam a incluir nas apólices de saúde a cobertura destes importantes serviços.

É o caso da Mundial Seguros, que está a dar os primeiros passos para satisfazer este segmento, de acordo com o seu director técnico, Diogo Paulo.

O gestor informa que nos seguros de saúde já foi introduzida a cobertura dos serviços de estomatologia e dos quase 18 mil segurados da empresa, cerca de 90% já tem beneficiado destes serviços.

Conquanto, se, por um lado, há o problema da alta de preços e da não adesão das seguradoras aos serviços de estomatologia, existe, por outro, um reduzido número de profissionais do ramo em Angola.

Os dados estatísticos indicam que os serviços públicos e privados contabilizam pouco mais de dois mil profissionais de saúde bucal, para mais de 30 milhões de habitantes em todo o país.

Isto corresponde a um rácio de aproximadamente 15 mil pacientes para um médico, realidade que justifica a "agitação" nos hospitais públicos para o acesso aos serviços de estomatologia.

Entretanto, conforme as estatísticas a que a ANGOP teve acesso, em média cada médico atende, diariamente, pelo menos 12 pacientes, número que pode variar se surgirem doentes mais complexos.

Falta de cultura

Para ter os dentes limpinhos, alinhados, e evitar o mau hálito, a higiene bucal é de suma importância.

Apesar do alto custo e do ainda reduzido número de profissionais do ramo, a especialista Cláudia Cohen, da Ordem dos Médicos Dentistas de Angola, afirma que nos últimos anos a medicina dentária no país tem evoluido significativamente.

"Hoje há atendimento muito maior nos serviços privados e públicos, e mais atenção, sobretudo do departamento de medicina oral do Ministério da Saúde", afirma a médica, que alerta para os riscos da falta de cuidado com a saúde bucal.

A especialista encoraja os cidadãos a irem precocemente e de forma regular ao dentista, a fim de terem diagnósticos rápidos das doenças próprias da boca, como as cáries, lesões gengivais, mau hálito e problemas de alinhamento.

"Com uma ida ao dentista de seis em seis meses, mesmo só para controlo, vamos prevenir essas doenças, controlar e tratar com antecedência", reforça.

A fim evitar-se custos desnecessários, a profissional alerta também para a importância da troca da escova de dentes, de três em três meses, por ser um objecto pessoal e intransmissível, além de recomendar o uso diário do fio dental e do enxaguante bucal, para reduzir os riscos de bactérias nos dentes.

Segundo Cláudia Cohen, a forma correcta de cuidar das escovas dentárias e dos higiniezadores de língua é mantê-los imersos em solução desinfetante, à base de água e enxaguante bucal, a fim de evitar a reinfecção após cada uso.

Em relação à forma de escovar os dentes, Cláudia orienta que seja feita com bastante cuidado.

"Não devemos pôr quantidade grande de pasta de dentes na escova. A pasta deve ser do tamanho de uma ervilha e devemos inclinar a escova na direcção da gengiva", indica.

A propósito, a especialista em cirurgia e traumatologia maxilar facial, Dawla Dinis, refere que, além da escovação após as refeições, os cuidados devem envolver visitas regulares ao dentista e realizações de limpezas profissionais.

"É importante, acima de tudo, que a pasta de dentes contenha na sua composição flúor entre 1000 e 1500 pp", explica a a cirurgiã dentista, para quem é de suma importância restringir, principalmente, alimentos ricos em açúcar, como forma de evitar diabetes, cancro bucal e cáries dentárias.

Lamenta o facto de a grande maioria dos cidadãos, por várias razões, não ter a cultura de procurar pelos serviços da medicina bucal, salvo quando apresentam sintomatologias dolorosas, com consequências que podem acabar em morte.

Aposta na formação 

Entretanto, um dos problemas que muito comprometeu estes serviços em Angola foi a falta de formação especializada dos técnicos. Ao que tudo indica, a fase da extracção de dentes por empirismo parece já ser coisa do passado.

A médica Cláudia Cohen assinala que o aumento da oferta de profissionais formados é um ganho para o pais, que viu, num ápice, aumentar os serviços de qualidade desejada.

"A medicina dentária deu passos significativos, porque há uns anos não havia nenhuma faculdade de medicina dentária. Hoje, temos sete faculdades privadas de medicina dentária em Angola", aponta.

A nível das instituições de ensino público, diz existirem vários serviços de medicina dentária, mas que  estão paralisados por causa da Covid-19, podendo reabrir assim que as condições o permitirem.

Portanto, com mais quadros especializados, o país caminha, certamente, na boa direcção. Mas é bom lembrar que os problemas de saúde bucal vão continuar a exigir permanentes cuidados a todos.

Só com uma higiene regular e bem-feita da boca, desde tenra idade, de preferência, poder-se-á reduzir as idas aos consultórios e evitar as lágrimas, por causa daquela incómoda dor de dente.

Afinal, quem não conhece aquele velho adágio popular segundo o qual "prevenir é melhor que remediar"?



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