Pesquisando. PF Aguarde 👍🏽 ...

Covid-19 atrasa eliminação da malária

     Saúde              
  • Luanda • Sábado, 24 Abril de 2021 | 16h45

Luanda – No domingo, 25 de Abril, celebra-se o Dia Mundial de Luta contra a Malária, e a meta de Angola eliminar esta doença, até 2030, pode estar comprometida, devido ao atraso imposto pela Covid-19 à implementação adequada de qualquer projecto de saúde.

(Por Rosária Fortunato)

Angola está enquadrada na Região da SADC como país da segunda linha, onde a Organização Mundial da Saúde definiu metas para eliminação da malária até 2030.

Desta forma, ao longo da fronteira Angola-Namibia estavam a ser implementadas acções conjuntas que diminuíram como consequência das restrições à circulação provocada pela pandemia da Covid-19.

A estratégia incluía testagem, treinamento, seguimento dos casos de malária em grande escala, vigilância epidemiológica, tratamento de doentes em postos criados no Cunene e no kuando kubango (Angola) e no norte da Namíbia.

Duzentas e noventa pessoas foram testadas em Angola e mais de 93.000 na Namíbia.

Como resultado deste trabalho, em conjunto com outros de prevenção e tratamento, o número de óbitos causados pela malária caiu de 15 mil, em 2016, para 13.967, em 2017, enquanto 11.814 perderam a vida em 2018 e oito mil em 2019.

Os dados mostram que as componentes operacionais, elaboradas pelo Ministério da Saúde, que envolveu os ministérios com determinantes sociais relacionadas com a doença e mortes, estavam a surtir efeito.

No entanto, problemas financeiros, instabilidade política em países com alto fardo em África, aliados à Covid-19 estão a fragilizar os esforços globais para conter a doença, o que atrasa ainda mais a luta contra a malária.

Isto porque mesmo interrupções moderadas no acesso ao tratamento podem levar a uma perda considerável de vidas.

Por exemplo, uma interrupção de 10% no acesso ao tratamento antimalárico eficaz na África Subsaariana pode levar a 19.000 mortes adicionais na região.  

Interrupções de 25% e 50% na região podem resultar em 46.000 e 100.000 mortes adicionais, respectivamente.

O pico da doença em Angola ocorre por esta altura do ano, devido ao volume das chuvas, que favorece a proliferação de mosquitos transmissores da malária.

A estratificação epidemiológica aponta que, nos últimos anos, as províncias mais endémicas do país têm sido as localizadas no Norte, concretamente Uíge, Malanje, Cuanza Norte, Zaire, Lunda Norte e Lunda Sul.

 Todas as atenções estão viradas para a Covid-19, mas é necessário que se mantenha um equilíbrio com a adopção de medidas de prevenção necessárias contra a malária, tanto pelo governo como pela população.

O combate à malária só será possível com o engajamento multisectorial no país, com estratégias exequíveis para a eliminação da larva do mosquito. A cura é um exercício esgotante e interminável.

As autoridades angolanas devem aplicar as medidas de prevenção da doença, consubstanciadas na eliminação de qualquer forma de lixo e charcos, manutenção de ruas, drenagem de lagoas inúteis e desinfecção das necessárias, tais como bacias de retenção, aplicação de sistemas eficientes de drenagem de água pública, limpeza e desassoreamento das valas de drenagem a céu aberto e eliminação da vegetação desnecessária.

Que retomem as campanhas de fumigação insecticida, distribuição de mosquiteiros repelentes e que se torne barato o acesso aos insecticidas domésticos.

Políticas Africanas e Globais

Em 2000, os líderes africanos assinaram a Declaração de Abuja, em que se comprometeram reduzir as mortes por malária no continente em 50% ao longo de um período de 10 anos.

Este compromisso político, associado a inovações em novas ferramentas e um aumento acentuado no financiamento, catalisou um período sem precedentes de sucesso no controle global da malária. 

Por exemplo, de acordo com um relatório da OMS, 1,5 bilhão de casos de malária e 7,6 milhões de mortes foram evitados desde 2000 até antes do surgimento da Covid-19.

Em 2019, a contagem global de casos de malária foi de 229 milhões, uma estimativa anual que permaneceu praticamente inalterada nos últimos quatro anos. A doença ceifou 409.000 vidas em 2019, em comparação com 411.000 em 2018.

A OMS presume ter havido entre 19 mil e 100 mil mortes adicionais causadas pela malária em 2020, pelo facto de a pandemia da Covid-19 ter interrompido entre 10% e 50% dos tratamentos daquela doença, em África, concluindo que morreriam mais pessoas com malária do que de Covid-19.

Tal como nos anos anteriores, a Região Africana suportou mais de 90% do fardo geral da doença.

Desde 2000, a região reduziu seu número de mortes por malária em 44%, de uma estimativa de 680.000 para 384.000, anualmente. No entanto, o progresso diminuiu nos últimos anos, especialmente em países com uma alta carga da doença.

Um déficit de financiamento nos níveis internacional e doméstico representa uma ameaça significativa aos ganhos futuros.

Em 2019, o financiamento total atingiu USD 3 bilhões, contra uma meta global de USD 5,6 bilhões.

Em 2020, a Covid-19 surgiu como um desafio adicional para a prestação de serviços essenciais de saúde em todo o mundo. 

No entanto, a OMS trabalhou rapidamente para fornecer orientação aos países para adaptar suas respostas e garantir a prestação segura de serviços contra a malária durante a pandemia da Covid-19

Matshidiso Moeti, diretor regional da OMS para África, reconhece que, embora o continente tenha mostrado ao mundo o que pode ser alcançado se estiver unido para acabar com a malária como ameaça à saúde pública, o progresso estagnou devido à “Covid-19, que pode prejudicar ainda mais os esforços, principalmente no tratamento de pessoas com a doença. 

Apesar do impacto devastador que a Covid-19 teve nas economias africanas, os parceiros internacionais e os países precisam fazer mais para garantir que os recursos estejam disponíveis para expandir os programas de malária que estão a fazer uma diferença grande na vida das pessoas.

História da Malária

Embora o parasita responsável pela malária falciparum exista entre 50.000 a 100.000 anos, só há cerca de 10.000 anos é que a sua população aumentou, impulsionado pelo desenvolvimento da agricultura e o surgimento das primeiras cidades.

A presença de água estagnada nas terras alagadas e derivada da agricultura proporcionava aos mosquitos condições ideais de reprodução.

O termo malária tem origem no italiano medieval mala aria, ou "maus ares"; a doença era anteriormente denominada "ague" ou "febre dos pântanos" devido à sua associação com os terrenos alagados.

A malária era comum em grande parte da Europa e da América do Norte, onde já não é endémica, embora continuem a ser registados casos importados.

O primeiro tratamento eficaz para a malária surge a partir da casca do arbusto cinchona (contém quinino), que cresce nas encostas dos Andes, sobretudo no Peru. Os índios peruanos faziam uma tintura de cinchona para o tratamento da febre, tendo se descoberto que era eficaz contra a malária e, por volta de 1640, foi introduzida pelos Jesuítas na Europa.

Em 1677, estava já inscrita na farmacopeia de Londres enquanto tratamento antimalárico. No entanto, foi apenas em 1820 que o princípio activo, o quinino, foi extraído da casca, isolado e baptizado pelos químicos franceses Pierre Joseph Pelletier e Joseph BienaiméCaventou.

O quinino tornou-se o principal medicamento antimalárico até 1920, quando se começaram a desenvolver novos fármacos.

Em 1940, o quinino é substituído pela cloroquina enquanto tratamento de eleição, tanto para a malária não complicada como para a grave.

A cloroquina começou a ser usada no Sudeste Asiático e na América do Sul na década de 50, e em todo o mundo na década de 80. A atemisinina, descoberta a partir da planta Artemisiaannua pela equipa do cientista chinês Tu Youyou em 1970, tornou-se o tratamento recomendado para a malária falciparum, administrado em associação com outros fármacos.

A investigação procura ainda uma vacina contra a malária. Os primeiros estudos promissores que demonstraram o potencial para a possibilidade de uma vacina foram realizados em 1967, através da inoculação de ratos com esporozoítos vivos atenuados por radiação, que ofereceram protecção significativa perante injecções posteriores com esporozoítos normais.

Desde a década de 70 que tem havido esforços consideráveis no sentido de desenvolver uma estratégia de vacinação semelhante em seres humanos.

A Malária é uma doença infecciosa transmitida pela picada da fêmea do mosquito Anófele, infectada por protozoários do género Plasmodium ou, mais raramente, por outro tipo de meio que coloque o sangue de uma pessoa infectada em contacto com o de outra sadia, como a partilha de seringas (consumidores de droga), transfusão de sangue ou até mesmo de mãe para feto, na gravidez.

Os sintomas mais comuns são: calafrios, febre alta (no início contínua e depois com frequência de três em três dias), dores de cabeça e musculares, taquicardia, aumento do baço e, por vezes, delírios.

Efeméride

O Dia Mundial de Luta Contra a Malária foi instituído em 2007, durante uma sessão da assembleia da Organização Mundial da Saúde (OMS), com o objectivo de relembrar a existência do paludismo e incentivar o esforço global na sua luta.

Segundo a OMS, a data constitui uma boa oportunidade para os países afectados trocarem experiências e apoiarem-se mutuamente, bem como para alertar a comunidade mundial, incluindo líderes políticos em países endémicos, a manter o seu compromisso para fornecer acesso universal às intervenções contra a malária e acabar com o sofrimento provocado por esta doença evitável e tratável.

Este ano, a data celebra-se sob o lema “Atingindo a meta zero da malária”

 



Tags


Fotos em destaque

Prevenção de acidentes rodoviários vence prémio da feira tecnológica

Prevenção de acidentes rodoviários vence prémio da feira tecnológica

 Terça, 17 Setembro de 2024 | 12h04

Mais de quatrocentos reclusos frequentam ano lectivo no Bentiaba (Namibe)

Mais de quatrocentos reclusos frequentam ano lectivo no Bentiaba (Namibe)

 Terça, 17 Setembro de 2024 | 12h01

Angola sem registo de casos da varíola dos macacos

Angola sem registo de casos da varíola dos macacos

 Terça, 17 Setembro de 2024 | 11h54

Divisão das Lundas fruto da estratégica de Agostinho Neto

Divisão das Lundas fruto da estratégica de Agostinho Neto

 Terça, 17 Setembro de 2024 | 11h50

Merenda Escolar chega a mais de três mil crianças dos Gambos (Huila)

Merenda Escolar chega a mais de três mil crianças dos Gambos (Huila)

 Terça, 17 Setembro de 2024 | 11h45

Nhakatolo Ngambo torna-se na 6ª rainha do povo Luvale

Nhakatolo Ngambo torna-se na 6ª rainha do povo Luvale

 Terça, 17 Setembro de 2024 | 11h41

Parques nacionais de Mavinga e Luengue-Luiana com mais de 10 mil elefantes

Parques nacionais de Mavinga e Luengue-Luiana com mais de 10 mil elefantes

 Terça, 17 Setembro de 2024 | 11h37

Angola produz óleo alimentar acima de cem por cento

Angola produz óleo alimentar acima de cem por cento

 Terça, 17 Setembro de 2024 | 11h34


Notícias de Interesse

A pesquisar. PF Aguarde 👍🏽 ...
+