Benguela – Pelo menos quarenta pessoas albinas morreram de Janeiro até à presente data, na província de Benguela, vítimas do cancro da pele, avançou, nesta sexta-feira, o presidente da Associação dos Albinos na região, Arlindo Marques Kapingala.
Em declarações à ANGOP, o líder desta associação reconhece que as mortes de pessoas albinas devido ao cancro da pele aumentaram consideravelmente este ano, na província de Benguela, comparativamente a 2023.
“O ano passado o número de mortes foi reduzido (...). Mas este ano temos 40 casos que foram a óbito”, referiu, acrescentando que alguns desses óbitos ocorreram mesmo no Centro Oncológico, em Luanda, porque já estavam em estado terminal.
Além disso, Arlindo Marques Kapingala lamenta que, neste momento, ainda haja cerca de 20 albinos com problemas de cancro da pele em fase terminal, na província de Benguela, sobretudo nos municípios do interior.
Segundo ele, a falta de informação sobre a doença, o preconceito e as condições sociais bastante precárias em que vivem a maioria dos associados tem dificultado sobremaneira o tratamento hospitalar.
A título de exemplo, apontou o caso de uma adolescente, de 14 anos, do município de Caimbambo, que padecia de cancro da pele e a família, desinformada, pensava que fosse uma tala, doença tradicional, o que atrasou a sua chegada ao hospital.
“Quando nos apercebemos, fomos buscar a menina numa aldeia em Caimbambo e trouxemos até ao Hospital Geral de Benguela, mas na segunda semana faleceu”, contou, denunciando ainda que o preconceito da família foi tal, que enterraram a malograda de madrugada simplesmente por ser albina.
“Disseram que o corpo do albino não tem que ser enterrado de dia. Eu fiquei chocado”, frisou. E referiu que, para mudar essa mentalidade retrógrada, a associação até já tem uma equipa formada para sensibilizar a população, por meio de palestras, no interior, mas falta transporte.
Consultas gratuitas
O presidente da Associação dos Albinos em Benguela também agradeceu ao Governo e parceiros, que disponibilizam consultas gratuitas de dermatologia, oftalmologia, maxilo facial, psicologia clínica e aconselhamento, no Centro Oftalmológico de Benguela.
É que, como indicou, os pacientes que aderem às consultas têm sido agraciados com creme de protecção solar, de tal maneira que possam aplicá-lo duas a três vezes por dia.
Mas o responsável reclama que a quantidade de creme não é suficiente: "É uma gota no oceano e gostaríamos que os empresários seguissem o exemplo do parceiro que tem nos tem apoiado”, precisou.
Arlindo Marques Kapingala enfatiza que o creme de protecção solar para os albinos "custa aos olhos da cara", ou seja, o preço varia de seis mil a mais de 100 mil kwanzas, o que, a seu ver, não está ao alcance de todos.
Por essa razão, acentua a ideia de que o cancro da pele ainda é uma das causas de morte de pessoas albinas em Benguela, daí o apelo da associação os empresários locais que ajudem na aquisição de cremes de protecção solar, para reduzir os casos que têm sido registados.
“Muitos albinos não conseguem adquirir esse creme de protecção solar. E se ele não colocar, não vai atingir a minha idade”, advertiu, preocupado com o facto de que a maioria das vítimas são menores de 18 anos.
Por outro lado, fez saber que todos os 20 albinos que foram transferidos para Luanda, nomeadamente ao Centro Oncológico perderam a vida, porque iniciaram a tratamento tardiamente.
De qualquer forma, Arlindo Marques Kapingala também reprova a atitude de certos albinos, principalmente no interior, que ao se deparar com cancro da pele associam-no imediatamente à doenças de fórum tradicional e perdem tempo com tratamento inadequados.
Perante este cenário, reforça a importância da implementação do projecto de educação das comunidades, com foco no interior, porque a maioria dos que estão a morrer são do interior, onde vivem da agro-pecuária.
"Estão expostos ao sol. Não têm nenhuma informação sobre como lidar com os raios solares. Então, precisamos de ir a esses municipios dar palestras e sensibilizar a população", vincou.
"E quando aparecem o hospital ou na associaçao a pedir ajuda já é tarde e muitas dessas situações não têm, soluçao", comentou, exortando as pessoas albinas para que acorram às consultas gratuitas de dermatologia, oftalmologia e maxi-facial, no Centro Oftalmológico de Benguela.
Ainda assim, ele assevera que não bastam só consultas. É preciso aumentar a disponibilidade de cremes de protecção solar aos albinos, porque o mais importante não é a cura, mas a prevenção.
A Associação dos Albinos na província de Benguela controla perto de mil e 600 albinos, mas a maioria vive em condições precárias por falta de oportunidades. JH/CRB