Angola busca soluções para o linfoma

     Saúde              
  • Luanda • Quarta, 21 Setembro de 2022 | 07h52
Centro de oncologia do Hospital Central do Lubango
Centro de oncologia do Hospital Central do Lubango
José Filipe - ANGOP

Luanda – O ano de 2021 ficará marcado para sempre na vida da funcionária pública Verónica Bemba, portadora de linfoma, um tipo de cancro quase desconhecido entre os angolanos, que representou 0,29 por cento do total de mortes em 2020, no país.

Por Eurídice Vaz da Conceição

O linfoma é um tipo de cancro que acomete o sistema linfático, uma rede complexa de vasos e pequenas estruturas chamadas nódulos linfáticos, que transportam o fluido linfático (linfa) dos tecidos de volta para o sistema circulatório.  

Segundo a Organização Mundial da Saúde, em todo o mundo, mais de 735 mil pacientes são diagnosticados em cada ano, incluindo com leucemia linfocítica crónica.

Dados oficiais disponibilizados pelo Instituto Nacional de Controlo do Cancro indicam que a instituição regista, anualmente, cerca de 400 novos casos da doença no país.

De acordo com especialistas, um linfoma não-Hodgkin agressivo em estágio inicial apresenta 80% de chance de cura. Entretanto, o mesmo tipo de cancro, se diagnosticado em estágio avançado, tem chance de cura em apenas 40% ou 70% dos casos.  

A descoberta do cancro no sistema linfático representou, para Verónica Bemba, 42 anos de idade, um "balde de água fria" e o começo de uma nova vida, marcada por restrições.

De acordo com a cidadã, uma das milhares de angolanas que padecem da enfermidade, o processo para a descoberta foi o momento mais difícil da sua vida, pelo facto de grande parte dos sintomas serem comuns aos de outras doenças benignas. 

A funcionária pública tinha uma rotina de vida normal, como a de qualquer pessoa, até que certo dia, ao acordar, sentiu fraqueza, cansaço, sensação de frio e febre, e por conta desses sinais inespecíficos decidiu ir uma consulta de clínica geral.

Era o começo de uma dura batalha, que se iniciou com a realização de vários exames, como hemograma completo (exame de sangue) e uma biópsia do linfonodo, avaliada em laboratório, processo de investigação que durou aproximadamente três semanas.   

Com muita ansiedade, Verónica estava confiante de que tudo estivesse bem. Entretanto, na consulta seguinte recebeu a notícia de que, infelizmente, o exame do laboratório concluiu positivo para um linfoma, deixando-a inconsolável.  

“Sem ter ideia do que se tratava realmente, porque nunca tinha ouvido falar desta doença, continuei aos choros em casa, mas  decidi  buscar  melhor informação  e uma  resposta do médico para dar início ao tratamento”, conta a cidadã.

Pelo avançado estado do linfoma, foi submetida  a uma intervenção médica de urgência, seguida de quatro ciclos de quimioterapia e radioterapia, marcados por enjoos e vómitos causados pelos efeitos colaterais do tratamento.

Durante o tratamento, a paciente perdeu o cabelo e cerca de 20 quilogramas, tendo adoptado uma mudança drástica no seu quotidiano, em termos de alimentação, higiene e comportamento,   a fim de promover o seu bem-estar e evitar infecções.

Depois de uma dura luta e um ano de procedimentos médicos, Verónica diz-se feliz porque conseguiu vencer a doença, restando-lhe apenas idas de seis em seis meses ao centro de oncologia para fazer consultas de revisão.

A história de Verónica é só uma pequena amostra do sofrimento por que passam, todos os dias em Angola, centenas de pacientes de linfoma, que tem uma taxa ajustada à idade de 4,09 por cem mil habitantes, conforme a Organização Mundial da Saúde.

Com esse tipo de cancro menos conhecido, os pacientes enfrentam uma variedade de desafios únicos e precisam de contar com o apoio de uma equipa de profissionais e conexões pessoais ao longo da sua experiência com o cancro. 

Em todo o mundo, os  pacientes enfrentam dificuldades no acesso a cuidados, tratamento, suporte e  a hesitação em procurar atendimento médico.

Foi, exactamente, essa a situação da estudante de direito Ondina de Sousa, de 32 anos de idade, que experimentou dificuldades para saber se era portadora de um linfoma.

A paciente, que sentia tonturas e fraqueza, criou resistência na procura de um médico, pensando tratar-se de uma deficiência nutricional, devido a dieta para a perda de peso. 

Decisões terapêuticas

Com o passar do tempo, Ondina sentia-se cada vez pior, a ponto de desenvolver  caroços  no pescoço e  axila, sendo obrigada a procurar um médico de nutrição para ver se tinha algo relacionado com a sua dieta.

A falsa tese da doente logo foi descartada, pelo que a foi encaminhada para um especialista de onco-hematologia, por ter histórico familiar de pessoas com cancro.

Após vários exames, inclusive de imagem, que não identificavam a doença, a médica chegou a descartar a possibilidade da existência de linfoma, mas por pouco tempo.

Ondina conta que os sintomas continuavam e sentia-se cada vez mais fraca, levando o médico, de forma persistente, a pedir novos exames, entre eles a biópsia cirúrgica.

A confirmação da doença só se efectivou há oito meses, quando a biópsia cirúrgica detectou o linfoma não Hodgkin de células T. (linfócitos T são células com funções imunológicas de efectuação de respostas antivirais, seja através da produção de citocinas ou eliminando activamente  células infectadas).

Surpresa com a informação, Ondina diz não ter sido fácil aceitar o diagnóstico e que  temia morrer. Apesar do medo, decidiu dar  início ao tratamento com recurso a  quimioterapia, acção que a deixa abalada por causa da queda do cabelo.

Diferente de Verónica Bemba, a estudante ainda não venceu a doença, mas tem recebido apoio incondicional da família e está confiante que se vai livrar da doença.

Na verdade, o combate contra essa enfermidade ainda representa um grande desafio para as autoridades sanitárias angolanas, sobretudo no quesito do diagnóstico precoce.

São vários os pacientes que ainda se queixam de dificuldades para realizar, nos hospitais públicos e privados do país, exames específicos de detenção da doença.

O tempo de tratamento também representa um desafio para muitos cidadãos acometidos com esse tipo de cancro, que tende a afectar cada vez mais famílias em Angola.

De acordo com a hematologista Vanda Afonso, o tratamento desta patologia depende das características e do estágio da doença, além de um eventual acometimento de outras estruturas, o que exige, do paciente e dos médicos, um diagnóstico rápido. 

Segundo a especialista, o cancro pode ser dividido em dois tipos: linfoma de Hodgkin e linfoma não-Hodgkin. Os dois diferem entre si devido ao comportamento, grau de agressividade, resposta à terapia e sinais distintos.

Explicou que a presença de linfomas pode causar cansaço, febre, sudorese nocturna e perda de peso, acompanhados de aumento dos gânglios (íngua), podendo estes surgir na região cervical, na região axilar ou como massas em qualquer parte do corpo.   

Vanda Afonso acrescenta que pode, ainda, haver aumento do baço e alterações no exame de sangue (anemia, queda de plaquetas e alterações dos leucócitos).  

“O indivíduo precisa de procurar o médico ao observar o aumento de um ou mais gânglios linfáticos”, recomendou, sublinhando que durante as consultas chega a atender no seu consultório cerca de cinco a seis suspeitas de linfomas diariamente.  

Tratamento 

Segundo especialistas, a maioria dos linfomas é tratada com quimioterapia, radioterapia ou um combinado das duas. A quimioterapia consiste na combinação de duas ou mais drogas, e a radioterapia é uma forma de radiação usada para reduzir a carga tumoral em locais específicos, aliviar sintomas ou para reforçar o tratamento quimioterápico, diminuindo as chances de volta da doença em locais mais propensos à recaída.  

Para ser evitada, os mesmos recomendam que se evite a exposição prolongada a produtos químicos, em especial a produtos agrícolas, sustentando que pacientes infectados com o vírus HTLV e o HIV correm risco maior de desenvolver linfoma.

Recomendam que os pacientes devem estar mais atentos aos sintomas, fazer um auto-exame frequentemente, porque a incidência de linfoma aumenta com a idade.

Encorajaram, ainda, a procura de um médico sempre que notarem a presença de íngua (gânglio aumentado) no pescoço, axila, virilha, especialmente se ela não for dolorosa e tiver crescimento rápido.

Com vista a aumentar a prevenção, foi instituído o Dia Mundial de Conscientização sobre Linfomas (WLAD), data dedicada a aumentar a conscientização sobre o linfoma.

É uma iniciativa global patrocinada pela Lymphoma Coalition, iniciada em 2004, com o objectivo de consciencializar o público sobre os subtipos de linfoma e a importância do reconhecimento de sintomas, diagnóstico precoce e tratamento.

A campanha mundial contra o linfoma lançada em 2021 convida a comunidade global a dizer: “Nós não podemos esperar ” para pôr fim às consequências indesejadas que a pandemia teve entre as pessoas com linfoma. 

 

 

 

 

 

 



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