Luanda - O ex-líder da UNITA, Isaías Samakuva, defendeu, esta segunda-feira, o diálogo entre o Governo e as formações políticas, para evitar "situações susceptíveis de perturbar a paz e a harmonia necessárias à vida em comunidade".
Isaías Samakuva, que foi recebido hoje pelo Presidente da República, João Lourenço, afirmou, à saída da audiência, que o encontro serviu para abordar, essencialmente, a situação ocorrida, em Luanda, no passado sábado.
Nesse dia, um grupo de indivíduos, incentivados por activistas da sociedade civil e membros do partido UNITA, tentaram protestar contra a não indicação de uma data para as eleições autárquicas e a falta de emprego, assim como por melhores condições sociais.
A tentativa de manifestação, não autorizada, foi frustrada pela Polícia Nacional, numa altura em que o país vê reforçadas as medidas restritivas de prevenção e combate à Covid-19, que proíbe ajuntamentos superiores a cinco pessoas, na via pública.
Samakuva, que na década de 90 chefiou a equipa da UNITA às negociações de paz com o Governo angolano, notou que a acção dos manifestantes traduziu-se em actos de vandalismo, na obstrução de vias e destruição de bens públicos.
"Enquanto angolanos temos de fazer tudo no sentido de evitar situações desagradáveis primando, necessariamente, pelo diálogo", disse o político, que liderou o maior partido na oposição em Angola durante 16 anos.
Na sequência da tentativa de manifestação, a Polícia Nacional deteve vários cidadãos, entre os quais alguns responsáveis do partido UNITA.
A propósito, o político entende que deve haver um esclarecimento sobre o ocorrido e aconselhou a libertação dos detidos "na base do diálogo e da compreensão".
Sobre a posição do deputado David Mendes (independente pela UNITA) que considerou um "erro estratégico" a participação da segunda maior força política no país no acto de sábado, Isaías Samakuva disse tratar-se de uma opinião que respeita.
É a primeira vez que Isaías Samakuva é recebido pelo Chefe de Estado angolano, desde que deixou a liderança da UNITA, em Novembro de 2019.
O político, nascido a 08 de Julho de 1946 no Kunje, província do Bié, já havia sido recebido pelo Presidente da República em três outras ocasiões, na sua condição de líder partidário.
Isaías Samakuva foi, entre 1989 e 1993, representante da UNITA no Reino Unido e, mais tarde, delegado na Europa.
Depois do acordo de paz assinado em Lisboa, Portugal (1991) e do Protocolo de Lusaka, Zâmbia (1994), Samakuva regressou a Angola para liderar a delegação da UNITA na Comissão Conjunta constituída para acompanhar a aplicação do Protocolo de Lusaka.
Em 2000 foi indigitado chefe da missão externa da UNITA e, na sequência da morte Jonas Savimbi, em combate, a 22 de Fevereiro de 2002, regressou a Angola para discutir o cessar-fogo no âmbito do Protocolo de Lusaka, Zâmbia.
A UNITA é a segunda maior força com representação parlamentar no país. Possui 51 deputados, atrás do MPLA, partido no poder, que conta com 150.