Luanda - O representante permanente de Angola nas Nações Unidas, Francisco José da Cruz, afirmou esta terça-feira, em Nova Iorque, que o fim do regime político ditatorial em Portugal só foi possível devido à acção dos movimentos de libertação nas colónias em África.
Durante um debate sobre "o legado da Revolução dos Cravos nas Nações de Língua Portuguesa", o diplomata explicou que os militares portugueses perceberam a injustiça da guerra colonial, pois não fazia sentido nenhum, e desta forma decidiram terminá-la com uma revolução, informa um comunicado de imprensa chegado à ANGOP.
Nos estúdios da ONUNEWS, Francisco da Cruz admitiu que o processo de transição e de descolonização foi complexo e difícil, tendo evoluído sob o efeito de uma pressão crescente para a autodeterminação e independência nas então colónias.
Lembrou que só três meses após o fim do Estado Novo, o Governo português promulgou a “Lei da Descolonização”, nos termos da qual Portugal reconhecia o direito dos povos à autodeterminação, incluindo a aceitação da independência dos chamados “territórios ultramarinos” e deixavam de ser constitucionalmente parte do território luso.
Avançou que após a visita a Portugal do então secretário-geral da ONU, Kurt Waldheim, a 4 Agosto 1974, foi emitido um comunicado no qual Portugal não só confirmou o consagrado pela referida lei, mas também especificou os direitos para cada uma das ex-colónias africanas nos termos da resolução 1541 da Assembleia Geral.
Por outro lado, destacou as relações de amizade e cooperação com Portugal que se têm reforçado ao longo dos tempos, não só no ponto de vista dos laços históricos, mas sobretudo numa visão do futuro, na defesa dos interesses dos dois países na área internacional.
Defendeu ainda a necessidade reforço da cooperação entre os Estados membros da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), visando o desenvolvimento dos respectivos países, num mundo cada vez mais globalizado e competitivo.
ONU
Já o secretário-geral da ONU, António Guterres, corroborou que é necessário fazer justiça, sendo que não teria havido 25 de Abril sem a luta dos movimentos de libertação das colónias.
Disse que “há uma ligação muito directa entre a luta pela democracia em Portugal que levou ao 25 de Abril, e a luta dos movimentos de libertação africanos, para o alcance das suas independências”.
Esclareceu que não há uma relação de causa e efeito, mas sim, uma interpretação profunda do processo que decorria em Portugal na luta contra a ditadura e a luta pelas independências, protagonizada pelos movimentos de libertação das ex-colónias portuguesas.
Participaram do debate além de Angola, os representantes permanentes do Brasil, Cabo Verde, Moçambique, Portugal e Timor-Leste.
Também conhecida como Revolução de 25 de Abril refere-se a um evento da história de Portugal resultante do Movimento das Forças Armadas, ocorrido neste dia, em 1974, que depôs o regime ditatorial vigente desde 1933.
A Revolução dos Cravos encerrou, ao mesmo tempo, 48 anos de ditadura fascista e 13 anos de guerra nas colónias africanas. VIC