Luanda – O Presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Joe Biden, destacou no final da tarde desta terça-feira (3), na capital angolana, os fortes laços históricos e culturais entre o seu país e Angola.
Ao discursar após a sua visita ao Museu da Escravatura, o Estadista norte-americano referiu-se à solenidade do local para realçar o quanto os dois países avançaram na sua amizade.
Para relembrar como tudo teve início, disse que “jovens, mulheres e homens, nascidos livres nas terras altas de Angola, foram capturados, amarrados e forçados a uma marcha da morte e trazidos à nossa costa, pelos traficantes de escravos, no ano de 1619”.
Na sua intervenção, fez menção a dois destes jovens, no caso Anthony e Isabella, que no edifício que acolhe o actual Museu da Escravatura “foram baptizados numa fé estrangeira contra sua vontade, seus nomes alterados e condenados a um navio negreiro com destino à Passagem do Meio, nele empilhados juntos de outras centenas, dos quais cerca de um terço não sobreviveu à jornada”.
Acrescentou que “quando Anthony e Isabella chegaram à colónia britânica da Virgínia, onde foram vendidos como escravos, tornaram-se em dois dos primeiros americanos escravizados num lugar que, 150 anos depois, se tornaria nos Estados Unidos da América”.
Descreveu ainda que “eles tiveram um filho considerado a primeira criança de descendência africana nascida na América, William Tucker. Foi o início da escravidão nos Estados Unidos. Cruel, brutal e desumanizante”.
O Presidente Biden refere que este foi “o pecado original da nossa nação, pecado original que assombrou a América e lançou uma longa sombra desde então”.
Desde então, vários acontecimento marcantes tiveram lugar, tais como a sangrenta Guerra Civil que quase despedaçou a América até à longa batalha com Jim Crow, nos anos 1960, disse.
Mencionou também o Movimento dos Direitos Civis e dos Direitos de Voto, que o teria envolvido na vida pública e durante os quais cidades americanas foram incendiadas, até ao ainda inacabado ajuste de contas com a injustiça racial.
Neste processo, acrescenta ainda o líder americano, “historiadores acreditam que o povo de Angola representou um número significativo de todos os americanos escravizados”.
Reconhecendo o passado americano
De acordo com o Presidente americano, a história "não pode ser escondida, não pode e não deve ser apagada. Deve ser enfrentada. É nosso dever enfrentar a nossa história, o bom, o mau e o feio, toda a verdade. É isso que grandes nações fazem. É por isso que escolhi falar aqui no Museu Nacional da Escravatura hoje, assim como fiz uma visita”.
Fez ainda menção ao facto de o Presidente angolano, João Lourenço ter visitado o Museu Nacional da Cultura Afro-Americana, em Washington, DC, o segundo museu mais visitado nos Estados Unidos, no mesmo contexto.
“Ele viu o que eu vejo: uma contradição gritante entre os princípios fundadores de liberdade, justiça e igualdade do meu país e a maneira como tratamos as pessoas de Angola e de toda África ao longo do tempo”, argumentou.
“Eu disse muitas vezes que a América é a única nação no mundo fundada em uma ideia. A maioria dos países é fundada com base em raça, etnia, religião, geografia ou algum outro atributo. Mas os Estados Unidos foram fundados numa ideia embutida na nossa Declaração de Independência”, salientou.
De acordo com essa ideia, segundo Joe Biden, todos os homens e mulheres são criados iguais e merecem ser tratados igualmente ao longo das suas vidas.
“Está claro hoje que não vivemos à altura dessa ideia, mas também nunca nos afastamos completamente dela. Isso se deve em grande parte à determinação e aos sonhos dos afro-americanos, incluindo angolano-americanos, os orgulhosos descendentes da diáspora que ajudaram a construir os EUA enquanto reconstruíam suas próprias famílias e seu próprio senso de identidade”, disse.
“Eles também foram os antepassados desse legado: resilientes, fiéis e até esperançosos. Esperançosos de que a alegria viria pela manhã, como diz na Bíblia. Esperançosos de que nosso passado não seria a história do nosso futuro. E esperançosos de que um dia os Estados Unidos escreveriam uma história diferente em parceria com as pessoas trazidas aqui acorrentadas para minha nação vinda da África”. SC