Pretória (Dos enviados especiais) – O Presidente da República, João Lourenço, apelou, esta quinta-feira, em Pretória, às partes envolvidas no diferendo pós-eleitoral em Moçambique, no sentido de, através do diálogo, encontrar as melhores vias para a sua resolução.
O Chefe de Estado discursava na abertura das conversações oficiais entre os governos de Angola e África do Sul, no quadro da visita de Estado que efectua à pátria de Nelson Mandela, visando o reforço da cooperação.
Na ocasião, recordou que Angola irá presidir à União Africana no ano de 2025 e é actualmente membro do Conselho de Paz e Segurança desta, até 2026.
Tendo em conta o compromisso bastante importante que Angola tem com as causas africanas, com destaque as questões ligadas à estabilidade, à paz e à segurança, à promoção do desenvolvimento e modernização de infra-estruturas de integração das várias regiões que compõem o continente, a acção de Angola nestes organismos reveste-se de especial relevância, disse.
Por isso, aproveitou o momento para, uma vez mais, reiterar a necessidade de Angola poder contar com o apoio da África do Sul, para que consiga levar adiante todos os projectos e programas que têm em carteira para a presidência angolana de 2025, bem como para que possa ser uma importante voz em defesa dos interesses de todos os africanos sempre e quando África for chamada a intervir nos mais importantes palcos.
Em relação ao conflito no Leste da RDC, o Presidente João Lourenço frisou que, tendo em conta o mandato que lhe foi conferido pela União Africana, no sentido de ajudarmos àquele país a encontrar os caminhos da paz, Angola continua a desenvolver iniciativas tendentes a facilitar o diálogo entre as partes desavindas, visando a normalização das relações político-diplomáticas, de amizade, de boa vizinhança e de segurança entre a RDC e o Ruanda.
Recordou que desde o mês de Março deste ano, foram desenvolvidas pelo facilitador um conjunto de acções que terão como resultado a realização no próximo dia 15 de Dezembro, em Luanda, de uma Cimeira Tripartida onde será analisada a possibilidade de assinatura de um Acordo de Paz entre as duas partes, para se pôr fim definitivo ao conflito que assola o Leste da RDC.
Na ocasião, reiterou a necessidade de encontrarem vias para a reactivação do Mecanismo Tripartido de Diálogo e Cooperação entre Angola, África do Sul e a República Democrática do Congo, por se tratar de um instrumento de cooperação primordial para a promoção do diálogo e o reforço das relações mútuas entre os três países, nas áreas da paz e segurança, do desenvolvimento económico e social e na do respeito pelos direitos humanos e das leis internacionais.
Além deste mecanismo e de outras iniciativas viradas para a pacificação da nossa região, transmitiu o interesse do país em desenvolver com a África do Sul linhas de comunicação de concertação permanente, no sentido de definirmos posições e estratégias comuns para a busca de soluções para as crises de vária ordem que vão surgindo na região, como é o caso da preocupante instabilidade que se observa em Moçambique, em decorrência da não aceitação, por uma das partes, dos resultados saídos das últimas eleições gerais realizadas naquele país.
Durante o seu discurso, voltou a manifestar preocupação com o agravamento da crise humanitária no Sudão, decorrente da intensificação da guerra neste país, que regista actualmente milhões de refugiados e deslocados que necessitam de assistência humanitária.
Situação mundial
Em relação ao cenário mundial, o Presidente angolano disse que não se pode ficar indiferente à situação explosiva que se regista no Médio Oriente, onde os acontecimentos de Gaza e os que mais recentemente ocorreram na Síria colocam à Comunidade Internacional preocupações muito sérias, por razões que se prendem, sobretudo, com a imprevisibilidade do que poderá ocorrer nos próximos tempos nesta região que, sendo já de si explosiva e conturbada, poderá desencadear uma instabilidade sem precedentes à escala global.
“É fundamental que nenhum dos grandes actores presentes na Síria e nos países vizinhos procure obter vantagens políticas, militares e outras desta tragédia que afecta o povo sírio”, alertou.
João Lourenço aproveitou também a ocasião para felicitar Cyril Ramaphosa e ao povo sul-africano pelo facto de a África do Sul ter assumido a presidência do G-20 para o ano de 2025.AFL/ART