Beijing (Da enviada especial) - O Presidente da República, João Lourenço, manteve esta sexta-feira, em Beijing, um encontro de trabalho com o seu homólogo chinês, Xi Jinping, com vista ao reforço da cooperação entre os dois países.
Ao intervir na reunião, o Chefe de Estado angolano disse que as relações bilaterais de amizade e de cooperação económica são boas e exemplares, embora reconheça a existência de um grande potencial por explorar e aproveitar em benefício de ambos os países e nações.
João Lourenço manifestou a intenção de ver incrementado o investimento privado cruzado, ou seja, chinês em Angola e angolano na China, sobretudo agora que foi aprovado e entrou em vigor o Acordo de Proteção e Promoção Recíproca do Investimento.
Conforme o Estadista, embora se entenda que o investimento privado deve ter a primazia, Angola apresentou ao Primeiro-Ministro chinês o seu interesse de ver financiados três projectos de infra-estruturas públicas.
Trata-se da construção da refinaria do Lobito e do Metro de Superfície de Luanda, ambos autossustentáveis, assim como uma grande infra-estrutura militar - a Base Aérea número 1 -, como forma de se aproveitarem as capacidades existentes da empresa chinesa AVIC que concluiu, com sucesso, a construção do Aeroporto Internacional Dr. António Agostinho Neto, na província de Luanda.
No domínio internacional, o Presidente angolano congratulou-se com o facto de constatar que os dois países comungam os mesmos princípios e valores em matéria de política externa, sobretudo no que diz respeito à necessidade do respeito e cumprimento do direito Internacional plasmado na Carta das Nações Unidas, os princípios da não agressão, do respeito da Independência e da defesa da Soberania e das fronteiras dos Estados, da resolução pacífica dos conflitos e da não ingerência nos assuntos internos dos Estados.
Angola, disse, defende o princípio de uma só China e Taiwan como parte integrante do território chinês, assunto que deve ser solucionado por meios pacíficos, a exemplo do que aconteceu com Hong Kong e Macau.
"O mundo atravessa um momento de grande tensão em pelo menos três continentes. Em África, vivemos um mau momento em que o terrorismo coabita com as mudanças constitucionais na África Ocidental e Central, no Corno de África e em dois países da SADC, o que é deveras preocupante", lamentou o Presidente.
Referiu que as guerras na Europa e no Médio Oriente fizeram praticamente esquecer o conflito no Sudão, país à beira de uma crise humanitária sem precedentes com um elevado número de baixas humanas que pode aumentar com a fome e doenças, deslocados internos, refugiados e grande destruição de infra-estruturas.
Paz na Ucrânia
Sobre a situação da Ucrânia, disse que, ao fim de mais de dois anos, é imperioso pôr fim à guerra, que deve terminar necessariamente à volta de uma mesa de conversações para se alcançar a paz definitiva e se garantir a soberania nacional daquele país europeu.
Em relação ao Médio Oriente, João Lourenço disse que a situação humanitária catastrófica obriga a todos a defender a restituição dos reféns israelitas, o fim imediato da ofensiva militar desproporcional do Exército israelita contra as populações indefesas da Faixa de Gaza.
Defendeu o fim dos colonatos e o fim definitivo do conflito israelo-palestino com a criação, de facto, do Estado da Palestina que seja internacionalmente reconhecido, única solução definitiva para trazer a liberdade e dignidade ao povo palestino e garantir realmente a segurança de Israel e dos povos daquela conturbada região do planeta.
"Os últimos acontecimentos na arena internacional vieram confirmar a necessidade urgente de se fazerem profundas reformas no sistema das Nações Unidas, nas suas instituições financeiras como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional, a Organização Mundial do Comércio, mas sobretudo no seu Conselho de Segurança, por se terem demonstrado ao longo do tempo desactualizadas do contexto do mundo de hoje, passados que são quase oitenta anos do fim da Segunda Guerra Mundial", sublinhou o Presidente angolano.
Do seu ponto de vista, os desafios da paz e segurança universais, da segurança alimentar, de defesa do Ambiente do mundo de hoje, carecem de análises realistas e de soluções corajosas e pragmáticas dos líderes mundiais no quadro do multilateralismo.
Destacou, por outro lado, que o papel e peso da República Popular da China deve sempre ser tido em consideração na configuração de uma nova ordem mundial em prol da paz e da segurança mundiais, da justiça, do progresso social e desenvolvimento económico das nações.
"Não sendo possível detalhar neste encontro todos os pontos de convergência entre os nossos países, sobre a forma como vemos o mundo de hoje e o caminho conjunto a seguir para se construir um mundo melhor, decidimos aprovar uma Declaração Conjunta que reflecte a nossa visão partilhada sobre as grandes questões da actualidade", disse.
Acordos relançam cooperação
No final do encontro, os dois Presidentes testemunharam a assinatura de um conjunto de instrumentos jurídicos destinados a reforçar a cooperação entre ambos os países, relacionados com os sectores do desporto, comércio, agricultura, desenvolvimento sustentável, infra-estruturas digitais, entre outros.
Ainda hoje o Chefe de Estado angolano depositou uma coroa de flores no monumento dos heróis do povo, localizado na Praça da Paz Celestial, também conhecida por Tiananmen.
O Presidente João Lourenço está na capital da República Popular da China, desde quinta-feira, à frente de uma delegação ministerial que vai discutir os novos termos da cooperação bilateral.
Durante três dias, as delegações de Angola e da China vão reavaliar os instrumentos reitores da cooperação bilateral e identificar novas áreas para a parceria estratégica fora do domínio do petróleo, a maior moeda de troca de Angola.
Antes do encontro com Xi Jinping, João Lourenço reuniu-se com o Presidente da Assembleia Nacional Popular (Parlamento), Zhao Leji, e com o primeiro-ministro chinês Li Qiang.
A visita de João Lourenço decorrerá até domingo.
Os dois Estados têm uma larga história de cooperação, que assenta em diferentes domínios, como dos petróleos, saúde, infra-estruturas, formação de quadros, entre outros.
Angola e China são parceiros estratégicos, com relações político-diplomáticas e de cooperação que conhecem um assinalável incremento desde 2000, propiciando a assinatura de vários instrumentos jurídicos nos domínios social, comercial e empresarial. FMA/VIC/ADR