Luanda – O Presidente angolano, João Lourenço, afastou a possibilidade da alteração da Constituição para permitir um terceiro mandato à frente dos destinos da Nação.
Em entrevista concedida esta quinta-feira à revista francesa “Jeune Afrique”, João Lourenço aclarou que se houvesse a intenção da parte do seu partido, o MPLA, em alterar a Constituição para permitir um terceiro mandato, tê-lo-ia feito no primeiro.
“No primeiro mandato, mexemos em tudo resto e não tocamos neste quesito da limitação dos mandatos em dois”, disse o Chefe de Estado, enfatizando que, na naquela altura, ninguém conseguiria impedir que essa alteração fosse feita porque o MPLA tinha a maioria qualificada de dois terços.
“Localmente, como se costuma dizer na gíria, o MPLA tinha a faca e o queijo na mão e não usamos a faca para cortar o queijo à medida dos nossos interesses”, vincou.
Reconciliação permanente
João Lourenço declarou, na entrevista, que a reconciliação é um processo permanente e não tem data de fecho, “é um processo contínuo e é evidente que à medida que o tempo for passando talvez não haja tanta necessidade das pessoas falarem mais de reconciliação. Ela mesmo, subtilmente, sem as pessoas darem por conta, vai continuar a acontecer”.
O Titular do poder Executivo ressaltou que Angola não tem razões de queixa em relação a este processo, sobretudo pelo facto de, em 23 anos, o país não ter voltado à guerra.
Reconheceu que nem tudo foi uma perfeição nestes 23 anos, “mas o simples facto do país não ter voltado às armas já é razão suficiente para nos sentirmos felizes”.
Perdão aos conflitos armados
O Presidente da República elucidou que o pedido de perdão que dirigiu recentemente à Nação foi relativo às vítimas de todos os conflitos que se abateram no território nacional desde a proclamação da independência nacional, não apenas as do 27 de Maio.
“É óbvio que, entre esses conflitos, dos que mais visibilidade teve foi sem sombra de dúvidas o do 27 de Maio e não só, houve a história das mortes desnecessárias na Jamba, em que pessoas foram atiradas para a fogueira com o público forçado a assistir e obrigado a alimentar as chamas da foguerira”, disse o Chefe de Estado.
Referiu-se igualmente aos assassinatos com pendor político de figuras como Tito Chingnji e Wilson dos Santos. “Portando, é com relação a tudo isto que entendi que devíamos pôr uma pedra por cima e começar uma nova paz”.
Perfil do sucessor
Na entrevista à revista francesa “Jeune Afrique”, João Lourenço disse que gostaria de ver o seu sucessor a servir o país igual ou melhor do que está a fazer.
Manifestou disponibilidade em continuar a servir o país após o fim do seu mandato presidencial.
“Servir o país não é preciso ter funções adquiridas por via de uma eleição ou nomeação, como patriota que sou, enquanto tiver saúde, de certeza que vou continuar a servir o meu país da melhor forma que puder, falando, escrevendo estarei a contribuir para o engrandecimento do meu país”, finalizou.DC/ART