Lobito - A segurança alimentar, por ser um bem público global, deve ser protegida pelas grandes potências mundiais, independentemente das suas diferenças geopolíticas, defendeu este sábado, em Benguela, o ex-eurodeputado Durão Barroso.
Convidado para o fórum do Grupo Carrinho, sobre a sua visão estratégica para 2030, Durão Barroso disse estar de acordo com a conferencista Graça Machel, na sua tese de que a segurança alimentar é uma questão fundamental dos direitos hunanos. "Sem ela, não há desenvolvimento económico, social e cultural", afirmou.
Para o político, o primeiro objectivo é o desenvolvimento sustentável para pôr fim à pobreza, seguindo-se a eliminação da fome e garantir uma agricultura forte.
"Hoje em dia, a segurança alimentar está em risco, primeiro por causa da pandemia da Covid-19, que causou estrangulamento na circulação de pessoas e bens, e agora por causa da guerra na Ucrânia", disse o antigo primeiro-ministro de Portugal.
Fez uma resenha sobre as exportações globais de cereais pela Rússia e a Ucrânia, antes da guerra, dizendo que sozinhas representavam 34 por cento de trigo, 27 de cevada, 17 de milho e 55 de óleo de girassol, essencialmente para países africanos e do médio oriente.
"O embargo às exportações da Rússia, em termos de gás natural e fertlizantes minerais, inflacionaram muito os mercados mundiais", explicou.
Durão Barroso referiu que, em Março de 2022, segundo o Fundo das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), os preços dos produtos alimentares atingiram máximos históricos e continuam elevados, apesar de estarem sob controlo.
Com base em dados das Nações Unidas, o político afirmou que, em 2021, dois mil e 300 milhões de pessoas, cerca de 30 por cento da população mundial, estava em situação de insegurança mundial severa.
Reconhecendo a gravidade desta situação, o secretário-geral das ONU, António Gueterres, avisou, durante uma cimeira dos sistemas alimentares, em Setembro daquele ano, que a fome estava outra vez a subir a nível mundial.
Em função disso, os três grandes actores da economia mundial, nomeadamente os Estados Unidos, a China e a União Europeia, estão a investir cada vez mais nos seus próprios países e não numa visão global.
Falando concretamente sobre África, disse que não se pode pensar em desenvolvimento sem indústrias, mas a agricultura tem de estar na base.
"Posso dizer que o apoio ao desenvolvimento é importante, mas nada substitui os esforços próprios nacionais" , considerou.
Acrescentou ainda que o desenvolvimento para África depende da capacidade, inteligência e tomada de decisão dos seus recursos humanos.
Durão Barroso parabenizou o Centro de Investigação Científica da Universidade Católica de Angola, bem como a consultora Delloite, parceiras do Grupo Carrinho, pelos projectos desenvolvidos por técnicos angolanos, bem como o sentido de responsabilidade social daquela empresa, com realce para a merenda escolar que está a beneficiar muitas crianças em várias regiões do país. TC/CRB