Talatona - Políticos e nacionalistas angolanos consideraram, hoje, em Luanda, o escritor Uanhenga Xitu, falecido em 2014, uma "figura incontornável e de destaque em distintas esferas e que contribuiu bastante com o seu saber para o progresso do país".
O então nacionalista e deputado foi homenageado, nesta sexta-feira, em virtude do seu centenário (1924-2024), num evento, realizado na Academia Diplomática Venâncio de Moura, com diplomatas, académicos, estudantes e figuras da cultura.
Em declarações à imprensa, no final da actividade, o presidente da Fundação Sagrada Esperança, Roberto de Almeida, qualificou Uanhenga Xitu como uma pessoa engajada na luta pela independência de Angola e com preciosos legados político e literário que até hoje influenciam gerações.
Lembrou que o nacionalista viveu em cativeiro durante dez anos, foi um militante defensor dos oprimidos e serviu Angola em várias áreas de governação e diplomacia, porquanto, é uma pessoa que os angolanos devem respeitar e celebrar.
Recordou ainda grandes momentos na companhia de Uanhenga Xitu, como almoços em sua casa e encontros com outros escritores, mencionando momentos na Cabala, à margem do Rio Kwanza, onde o escritor possuía uma casa e planeava desenvolver um empreendimento turístico.
Sobre a iniciativa de homenagear Mendes de Carvalho "Uanhenga Xitu", Roberto de Carvalho sublinhou que a figura tinha muita acção positiva, pelo que realçou a importância de reavivar o panorama literário do país, que, em sua opinião, enfrenta desafios de afrouxamento e declínio.
Enfatizou a necessidade de se encorajar os escritores actuais e mencionou "Mestre Tamoda" como a obra mais emblemática de Uanhenga Xitu, que retrata um homem de origem humilde, nascido no mato, que busca ascender socialmente e estuda dicionários para utilizar palavras difíceis.
Referindo-se à influência das obras do escritor na educação da juventude, disse que elas podem ilustrar a vida simples de um personagem que se esforça para melhorar.
Por sua vez, o embaixador José Marcos Barrica, director-geral da Academia Diplomática Venâncio de Moura, considerou Uanhenga Xitu como um “patrimônio e monumento que transcende a dimensão literária, política, cultural, diplomática e humanística”.
Salientou que teve a oportunidade de conviver com o nacionalista, descrevendo-o como uma pessoa extraordinária, cujo exemplo é valioso nos dias de hoje, pois celebrá-lo é um reconhecimento necessário e um tributo a um cidadão intrépido e convicto.
O palestrante Joaquim João Martinho, que abordou o tema "Nacionalismo Linguístico em Uanhenga Xitu", descreveu o centenário do escritor como uma ocasião para reconhecer a sua importância na construção da identidade africana.
Disse que as obras de Xitu são uma ferramenta para contar a história do povo, e que o evento representou uma oportunidade para testemunhar os ensinamentos de um ancião que encontrou na ficção cultural o meio para transmitir as suas ideias, convicções e educar as novas gerações.
Frisou ainda que o escritor utilizava uma linguagem que tinha uma agenda política reivindicativa, buscando desconstruir a norma do português europeu e, desse ponto de vista, imprimir uma nova linguagem híbrida, originada da fusão entre o português e o kimbundu.
Na sua óptica, com a figura de "Mestre Tamoda" (livro), Uanhenga Xitu procurou mostrar que era possível fazer activismo cultural.
Já Hélder Simbai, que analisou a personalidade do nacionalista a partir da obra "O Ministro", considerou Mestre Tamoda uma das figuras mais emblemáticas da literatura, por conseguir criar um imaginário ao ponto de desafiar outros autores a tentarem imitá-lo, muitas vezes sem sucesso.
Helder Simbai cimentou a característica única de Xitu, cujas histórias não deixam ninguém indiferente.
No contexto político da sua época, o também escritor e político revelou situações que aconteceram sem medo. “ Defendo a continuidade do legado de Uanhenga Xitu através da inclusão das suas obras no plano nacional de leitura e nos manuais escolares”, disse.
Caracterizou, de igual modo, o escritor como uma das figuras mais emblemáticas e notáveis na Assembleia Nacional (AN), destacando-se por colocar-se no lugar do povo.
Em saudação ao centenário do escritor, a Academia Diplomática Venâncio de Moura e o Instituto Internacional da Língua Portuguesa do Ministério da Educação realizaram o evento denominado "O Escritor e a Sua Época", com o intuito de preservar as contribuições daqueles que ajudaram a moldar o país.
Nesta primeira edição, Uanhenga Xitu, autor das obras "O Ministro", "Mestre Tamoda" e "Discurso do Mestre", entre outras, foi o primeiro homenageado. Na segunda edição, marcada para 27 de Setembro, será homenageado o escritor António Jacinto.
Uanhenga Xitu é o pseudónimo literário de Agostinho Mendes de Carvalho. Foi membro do Bureau Político e Comité Central do MPLA (partido no poder) e co-fundador da União dos Escritores Angolanos (UEA), tendo falecido em Luanda a 13 de Fevereiro de 2014, vítima de doença.
GIZ/MDS