Luanda - A enviada especial do presidente da Comissão da União Africana (CUA), Bineta Diop, defendeu esta quinta-feira, em Luanda, a necessedidade de dar-se maior espaço e atenção às mulheres em processos de prevenção e negociação de paz no continente.
Segundo Bineta Diop, é imperioso investir-se no género feminino, tendo em conta a capacidade e o papel que as mulheres podem desenvolver em questões e acções de pacificação e desenvolvimento de África.
A enviada especial da CUA dissertava sobre o tema o “papel das mulheres nos processos de paz, segurança e desenvolvimento”, no prosseguimento dos trabalhos da Bienal de Luanda 2023, iniciada esta quarta-feira na capital do país.
Considerou a possibilidade de os Estados implementarem, de forma efectiva, políticas que exijam, obrigatoriamente, a presença feminina na “mesa” de negociações, não sendo estas vistas como vítimas de guerras, mas sim parte integrante do processo, na condição de mediadoras.
Referiu que o continente está a mobilizar-se no sentido de ter instrumentos necessários em materias desta natureza.
Durante a sua intervenção, a enviada especial do presidente da Comissão da União Africana para as Mulheres, Paz e Segurança falou igualmente sobre a situação humanitária no Leste da República Democrática do Congo (RDC), em particular das mulheres, a qual considerou degradante, bem como defendeu o fim de guerras no continente, tendo se referido concretamente à região Nordeste, conhecida como “corno” de África.
No seu entender, a inclusão da agenda social e de segurança das mulheres num processo de paz origina maior sustentabilidade dos seus resultados na prevenção da guerra, visto que as preocupações mais profundas ligadas ao género são tidas em contas.
“Vemos que há políticas, mas essas políticas, repetidas, não estão a ser implementadas a nível nacional”, afirmou, salientando que o desnível ainda existe entre as políticas e a prática leva a necessidade de se redobrar os esforços.
Para Bineta Diop, é preciso apoiar as estrátegias tendentes a melhorar o quadro, uma vez que há mulheres africanas muito interessadas em jogar um papel activo na mobilização em favor da paz nos seus países.
Augurou, no entanto, que, no final da Bienal de Luanda 2023, possam ser encontradas medidas ou mecanismo concretos para que as mulheres venham a participar efectivamente das grandes decisões que concorram para a paz quer nos seus países como no continente de forma geral.
Foram igualmente oradoras as heroínas Lindiwe Sisulu, ex-ministra da Defesa da África do Sul, e a angolana Luzia Inglês, secretária regional da Organização Pan-africana de Mulheres para África Austral, cuja comunicação convergiu na necessidade de reconhecimento e maior afirmação do género, tendo em vista o desenvolvimento do continente em diversas áreas.
A sul-africana partilhou ainda experiências vividas enquanto dirigente e combatente.
Luzia Inglês lamentou o facto de existirem barreiras para a inclusão em maioria de representatividade de mulheres em delegações de alto nível para processo de mediação e negociação.
Para si, a classe deve exercer o seu pleno potencial como agente da paz, fazendo parte de qualquer agenda ligada à promoção de segurança, estabilidade política e reconciliação nacional.
Fez ainda referância a contribuição feminina nos efeitos da paz social, que no seu entender conquista-se diariamente, começando no lar, nas escolas e nas comunidades com as mulheres como principais “embaixadoras” desta causa.
Por sua vez, Suzi Barbosa, conselheira do Presidente da Guiné-Bissau, realçou a importância das políticas públicas para o empoderamento da mulher e pediu que se faça pressão sobre os decisores políticos no sentido de criarem condições de capacitação.
Lembrou ser o género feminino em maioria a nivel do continente, daí não poder ser dissociável do binóminio paz/desenvolvimento, pois tem o papel fundamental na sociedade de educadora.
Enfatizou que estas transmitem a cultura da paz na sociedade enquanto educam as famílias.
Sublinhou o impulsionar da resolução 13/25 criada pelo Conselho de Segurançad das Nações Unidas, que reconhece a importancia da mulher nos processos de prevenção e negociação da paz, mas reprovou o facto de o documento ter sido adoptado somente por 33 países, passados mais de 20 anos desde a sua existência.
Já o reverendo Kwabena Opuni-Frimpong centrou a sua intervenção em aspectos ligados ao papel do cristianismo e a relevância da igreja na esfera sócio-política de África, salientando a necessidade de sarar as amarguras da história das mulheres africanas e do continente. VC/SC