Adis Abeba (Dos enviados especiais) – O Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, reiterou, este sábado, em Adis Abeba, o vínculo do seu país e povo com o continente africano.
Numa intervenção durante a abertura da 37.ª cimeira da União Africana (UA), Lula da Silva valorizou o seu regresso a África, prometendo colaborar para que este continente se possa tornar independente na produção de alimentos e energia limpa.
“É com grande alegria que volto, pela 21.ª vez, a África, agora novamente como Presidente do Brasil, para me dirigir aos líderes da UA. Venho para reafirmar a parceria e o vínculo do nosso país e do nosso povo com este continente irmão”, disse.
O estadista recordou que a luta africana tem muito em comum com os desafios do Brasil, onde mais da metade dos 200 milhões de brasileiros se reconhecem como afrodescendentes.
Afirmou que o Brasil quer crescer junto com África, mas sem ditar caminhos a ninguém, reconhecendo que este continente “tem enormes possibilidades para o futuro”.
Disse ter orgulho de dizer que milhares de africanos concluíram seus estudos no Brasil, que está disposto a “fazer ainda mais”, e prometeu ampliar o número de bolsas oferecidas para receber estudantes africanos em instituições públicas de ensino superior brasileiras.
Segundo Lula da Silva, o Brasil está disposto a desenvolver programas educacionais, em África, promover intenso intercâmbio de professores e pesquisadores e colaborar para que o continente negro possa tornar-se independente na produção de alimentos e energia limpa.
Convidou os africanos e os brasileiros a traçar os seus próprios caminhos na Ordem Internacional, criando uma nova governação global, “capaz de enfrentar os desafios do nosso tempo”.
Para Lula da Silva, já não vigoram as teses do Estado mínimo, sendo que planear o desenvolvimento agrícola e industrial “voltou a ser” parte das políticas públicas em todos os quadrantes.
As transições energética e digital exigem o incentivo e a orientação dos governos, defendeu, realçando que tentativas de restituir um sistema internacional baseado em blocos ideológicos “não possuem lastro na realidade”.
Conflitos mundiais
Sobre a actual conjuntura internacional marcada por conflitos, Lula da Silva disse que o momento é propício para se resgatar as melhores tradições humanistas dos grandes líderes da descolonização africana.
No seu entender, ser humanista hoje implica, por exemplo, condenar os ataques perpetrados pelo Hamas contra civis israelitas e exigir a liberação imediata de todos os reféns.
Ser humanista, continuou, impõe igualmente a rejeição à resposta desproporcional de Israel, que vitimou quase 30 mil palestinos em Gaza, em cerca de quatro meses, sendo as vítimas maioritariamente mulheres e crianças.
Destacou que a ofensiva militar de Israel em Gaza provocou o deslocamento forçado de “mais de 80% da população”.
Para o estadista brasileiro, a solução para essa crise só será duradoura se se avançar rapidamente na criação de um Estado palestino, reconhecido como membro pleno das Nações Unidas e uma ONU fortalecida com um Conselho de Segurança mais representativo, sem países com poder de veto e com membros permanentes de África e da América Latina.
Quanto à guerra na Ucrânia, afirmou que esta “escancarou” a paralisia do Conselho de Segurança da ONU com uma trágica perda de vidas cujas consequências são sentidas em todo o mundo, no preço dos alimentos e fertilizantes.
“Não haverá solução militar para esse conflito. É chegada a hora da política e da diplomacia”, sentenciou. IZ/ADR