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Instabilidade no Leste de Angola tem motivação externa

     Política              
  • Luanda • Segunda, 01 Fevereiro de 2021 | 22h34

Luanda – O bastante antigo sonho de estabelecimento de um império Lunda Tshokwe é, claramente, a causa principal da instabilidade que se vive no Leste de Angola.

O ponto mais crítico dessa ambição registou-se na localidade diamantífera de Cafunfo, na província da Lunda Norte, na madrugada de 30 de Janeiro de 2021.

Esse império estender-se-ia às províncias angolanas da Lunda Norte, Lunda  Sul e Moxico ao chamado Grande Katanga, República Democrática do Congo (RDC), até à fronteira da Zâmbia (cintura de cobre).

Cafunfo, uma localidade da província da Lunda Norte (Nordeste), acordou sábado, 30, sob um fogo intenso, que opôs a Polícia Nacional de Angola e 300 insurrectos, que se diziam pertencer ao protectorado da Lunda Tshokwe, que é, em Angola, o cavalo de Tróia para o ressurgimento do dito império Lunda Tshokwe.    

Das escaramuças, resultou a morte de alguns rebeldes e o ferimento de outros, enquanto da parte do Governo  ficaram feridos um oficial das Forças Armadas Angolanas (FAA) e um agente da Polícia Nacional.

Segundo o comandante-geral da Polícia Nacional, Paulo de Almeida, que visitou o local no domingo, os rebeldes tinham por missão ocupar a esquadra da polícia, hastear a sua bandeira no lugar do símbolo nacional, naquilo que considerou um “atentado” contra o poder instituído.

"Foi uma rebelião que pretendia atentar contra o poder instituído”, munida de armas de guerra, objectos contundentes  e outros meios de arremesso, que tinham como alvo inicial os agentes da Polícia Nacional, explicou o responsável da Polícia angolana.

Pela gravidade da tal rebelião, está em curso uma investigação, cujo fim último será a responsabilidade criminal dos seus autores, nos termos da lei, ao mesmo tempo que as forças de defesa e segurança continuarão firmes e determinadas no seu esforço da manutenção da ordem. 

Um dado importante a reter é que, em 2007, cinco anos depois do fim da guerra em Angola, em Abril de 2002, as Forças Armadas Angolanas (FAA) decidiram repor as fronteiras angolanas nos marcos herdados do colonialismo.

Tratava-se de um vasto território, então abandonado pela UNITA, mas onde se haviam introduzido muitos congoleses, por motivos do garimpo de diamantes.

Na altura, o acto do Exército angolano foi classificado pelas autoridades congolesas, particularmente os deputados nacionais, como uma tentativa de  Angola ocupar o seu território de Kahemba, localidade fronteiriça com as províncias  angolanas de Malanje e da Lunda Norte.

O assunto foi resolvido no Museu de Tervuren, município belga do distrito de Leuven, na presença da Bélgica e de Portugal, que deram razão a Angola, dizendo que não havia ocupado nenhum território congolês.

Fontes conhecedoras do dossier revelaram, na altura, que a propaganda dos deputados congoleses tinha o apoio de uma “força externa”, cujo objectivo era o de desestabilizar a região, à semelhança do Leste da RDC.

A amplitude do acto

Numa perspectiva mais realista, dificilmente se pode encarar as acções de Cafunfo como actos “isolados e locais”, como aparentam ser, embora, oficialmente, nos mais de 10 anos da sua existência, o auto-denominado protectorado da Lunda Tshokwe tenha realizado várias manifestações em diversas localidades da Lunda Norte, em prol da sua efectivação.

Essas manifestações “independentistas” não incluem a grande maioria dos povos angolanos daquela região, mas devem ser vistas numa perspectiva do império Lunda Tshokwe, que tem uma das suas sedes em Mussumba, na RDC.

Por exemplo, existe, há vários anos, no grande Katanga, um movimento rebelde chamado “Bakata Katanga”, cujo líder se chama Gédéon Kyungu. 

Este  tem cometido vários crimes de raptos e de matanças das populações locais, em nome da “independência” da região, à moda de Moise Tshombé, mas, aparentemente, ele beneficia de uma atenuante das autoridades daquela região.

Em Setembro de 2020, centenas de seus militantes, munidos de armas do tipo AK-M, arcos, flechas e machados, atacaram a cidade de Lubumbashi, capital da província do Alto Katanga, para exigir a independência daquela região, rica em cobre e cobalto. 

No início de Janeiro último, deputados catangueses à Assembleia Nacional, num comunicado por eles lido perante a imprensa, ameaçaram desintegrar a província da RDC, pelo facto de a Frente Comum para o Congo (FCC), dirigida por Joseph Kabila, ter perdido a maioria governativa.

A 16 do mesmo mês, o pastor Ngoy Mulunda, antigo presidente da CENI, em 2011, foi interpelado pelos serviços secretos, julgado, condenado a três anos de prisão e a pagar uma multa de 500 mil francos congoleses, por, durante a missa alusiva à morte de Laurent Kabila, falecido a 16 de Janeiro de 2001, ter defendido a secessão de Katanga, enquanto os seus seguidores exibiam uma bandeira atípica, diferente daquela que está em vigor no país.

De facto, existe, há vários anos, uma efervescência independentista na província congolesa do Lwalaba, defendendo o restabelecimento do império Lunda Tshokwe, no seu formato pré-colonial. Por isso, não se descura o facto de o chamado protectorado Lunda Tshokwe ser o seu cavalo de Tróia, em Angola. 

Tal como no caso Kahemba, não se descarta a hipótese de a mesma força estranha ter envolvência com o objectivo de controlar a maior zona do mundo rica em minérios diversos. 

Saliente-se que, na província de Lwalaba, está o aeroporto militar de Kamina, construído como reduto da Bélgica, após a Segunda Guerra Mundial. 

No seu regime, que vigorou durante a guerra fria, Mobutu Sese Seko escolheu-a para tentar fabricar mísseis, com a ajuda da antiga Alemanha Federal.

Segundo o Wikipédia, o império Lunda Tshokwe (1590-1887) foi uma confederação pré-colonial de Estados, onde estão hoje implantadas a República Democrática do Congo, o Nordeste de Angola e Noroeste da Zâmbia. 

O seu Estado central ficava nas actuais províncias congolesas de Tanganyika, Alto Lomami, Lualaba e Alto Katanga (estas quatro províncias compunham a província de Katanga, mas tomaram o formato actual, por força da Constituição de Fevereiro de 2006, em vigo)r.





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