Luanda - O nacionalista e antigo primeiro-ministro angolano, França Van-Dúnem, falecido no dia 12 deste mês, em Portugal, por doença prolongada, foi descrito, por familiares e amigos, como uma pessoa sem limites, com muitos admiradores e seguidores enquanto docente e servidor público.
Em declarações à imprensa, esse domingo, à margem do Velório no Quartel General do Exército (ex RI-20), o porta-voz da família, José Van-Dúnem, recordou que o seu irmão fez muito pelo país, exercendo funções como embaixador, vice-ministro das Relações Exteriores, ministro da Justiça, do Planeamento, presidente da Assembleia Nacional e vice-presidente do Parlamento Africano.
Referiu que o falecido tinha muitos amigos e que a sua verdadeira paixão e compromisso com a nação era a ligação com a academia, pois entendia que, formando concidadãos, estaria a dar um contributo inestimável ao desenvolvimento do país e para a melhoria da vida dos angolanos.
Acreditava que, com cidadãos formados, Angola seria mais forte, daí que, recentemente e mesmo doente, publicou a sua tese de doutoramento, passados 50 anos, porque era para si um contributo inestimável para a geração vindoura.
"O seu grande legado, para além da procura da excelência, é o compromisso que tinha com a vida dos angolanos e a capacidade de estabelecer pontes, visando encontrar os melhores caminhos para se atingir o bem-estar", ressaltou, José Van-Dúnem, sublinhando que França Van-Dúnem foi um homem de grandes convicções e de mente aberta.
Segundo o ex-ministro da Saúde, uma parte da família é religiosa e acredita que França Van-Dúnem lá no céu vai continuar a olhar pela família com a sua capacidade de orientar e guiar os valores que sempre defendeu, porquanto, foi um farol no seio familiar e que sempre passou grandes orientações.
Por sua vez, o professor universitário Carlos Feijó disse que França Van-Dúnem deu um grande contributo para o país e deve ser olhado em duas dimensões: política e universitária.
"Tive o privilégio de trabalhar com o professor França Van-Dúnem na dimensão política e colaborar para a coordenação governativa de Angola", regozijou-se, acrescentando que os cargos que exerceu demonstraram a sua capacidade e o conhecimento nos domínios das matérias governativas e políticas.
"Quanto à dimensão universitária, os dados biográficos falam por si, porque até hoje as suas obras e tese de doutoramento são reeditadas", salientou, referindo que a carreira universitária do professor França Van-Dúnem começou na universidade da Holanda e depois foi ao Burundi, onde, na área do direito público, lecionou diversas cadeiras por volta dos anos 70.
Afirmou que a carreira de França Van-Dúnem tem uma dimensão não só nacional, mas também internacional o que é muito raro acontecer.
De acordo com a reitora da Universidade Católica de Angola (UCAN), Maria da Assunção, falar do doutor França Van-Dúnem obriga a fazer um recuo da história, por ele ser um dos fundadores da da Universidade Católica de Angola.
"Enquanto primeiro-ministro, deu o suporte legal e contributo máximo. E continuou a dar o seu saber no ensino superior privado na Universidade Católica, onde leccionou, desde 2000, e foi fazendo carreira. No final foi-lhe atribuído o título de professor emérito, como um reconhecimento merecido", destacou a responsável à margem do velório.
Já o ministro do Turismo, Márcio Daniel, disse ter o privilégio de ser seu aluno e ter com o mesmo uma história muito pessoal.
“Pessoalmente, eu devo a minha dedicação académica ao professor França Van-Dúnem, porque foi graças a ele que me despertei para um caminho que podia estar a deixar de lado. Provavelmente, ele terá feito isso sem ter noção do impacto que teve nessa carreira que depois acabei por escolher e que hoje agradeço muito”, expressou.
O governante descreveu o professor França Van-Dúnem como uma grande pessoa, cheia de realizações, e que foi capaz de impactar tão positivamente outras vidas. Acrescentou ter sido uma pessoa muito simples e humilde.
Nascido a 24 de Agosto de 1934, em Luanda, Fernando José de França Van-Dúnem foi diplomata de carreira, primeiro ministro da República de Angola por duas vezes (91-92) e (96-99), primeiro presidente da Assembleia Nacional (92-96) e vice-presidente da União Africana e membro do Parlamento pan africano.
Morreu aos 89 anos de idade, e foi igualmente embaixador de Angola em Portugal e na Bélgica, vice-ministro das Relações Exteriores, ministro da Justiça e professor catedrático e titular na Universidade Católica de Angola.
Além fronteiras, foi, entre 1982 e 1986, embaixador de Angola em Portugal e Espanha, depois de ter desempenhado essas mesmas funções, entre 1979 e 1982, na Bélgica, Países Baixos e Comunidade Económica Europeia, actual União Europeia.
Neste domingo, o velório do nacionalista e antigo primeiro ministro angolano ficou marcado com uma missa de corpo presente realizada pelo bispo da igreja católica, Dom Filomeno Veira Dias, e uma homenagem da Universidade Católica de Angola. A cerimónia prossegue esta segunda-feira, no mesmo local, antes de rumar para o Cemitério do Alto das Cruzes.ECC/MDS