Luanda - A pouco menos de 24 horas para a abertura da campanha eleitoral em Angola, a decorrer nos próximos 30 dias, multiplicam-se os apelos da sociedade civil para a necessidade da tolerância e do respeito mútuo entre os concorrentes.
Os apelos para a contenção, nesse período marcante do país, surgem de várias organizações sociais, que recomendam aos actores políticos envolvidos na disputa eleitoral uma postura exemplar e respeito pelos fundamentos democráticos.
Para este período, que antecede a votação de 24 de Agosto, os angolanos, residentes no país e na diáspora, são chamados a preservar a paz e a estabilidade política.
No entender das organizações da sociedade civil, as formações validadas pelo Tribunal Constitucional para disputar as eleições gerais devem ter em conta, fundamentalmente, a necessidade do civismo durante a campanha.
Angola vai a votos pela quinta vez na sua história, desde que se tornou independente a 11 de Novembro de 1975, num dos sufrágios considerados por especialistas um dos mais difíceis, sobretudo pelo contexto da realização.
No total, sete partidos políticos e uma coligação de partidos estão habilitados a participar do sufrágio, para disputar, palmo-a-palmo, o voto dos 14 milhões, 399 mil e 391 eleitores inscritos pela Comissão Nacional Eleitoral (CNE).
De acordo com as representações da sociedade civil ouvidas pela ANGOP, é fundamental que os concorrentes preparem os militantes e simpatizantes para a necessidade de serem tolerantes, apesar das diferenças políticas e ideológicas.
Invocam a necessidade de os competidores olharem para o futuro e o bem-estar das comunidades como o principal objectivo a atingir nos próximos cinco anos de governação, bem como a contínua afirmação de Angola no concerto das nações.
Para o chefe da Missão de Observação Eleitoral, Dom Gabriel Mbilingui, é fundamental que os actores políticos do país tenham moderação nos discursos.
O responsável aconselha-os a manterem-se firmes e a respeitar o processo democrático, augurando que as eleições gerais deste ano sejam livres, justas e transparentes.
A secretária-geral do Conselho de Igrejas Cristãs em Angola (CICA), Deolinda Teca, apelou aos concorrentes para respeitarem a diferença, sublinhando que não se devem olhar como inimigos, mas, sim, como adversários políticos.
“Não gostaríamos de que os políticos trouxessem situações que belisquem a harmonia, a paz e a estabilidade em Angola, razão pela qual devem evitar discursos musculados que não devem ocorrer na praça pública e política”, aconselhou.
O presidente do Fórum Local de Educação, Nelson Paulo, apelou à sociedade para promover, nesta fase, a paz, a reconciliação nacional e a estabilidade política do país.
É de opinião que os actores políticos, sobretudo os partidos que beneficiam de recursos públicos e outras regalias sociais, estão desafiados a pensar no interesse nacional, em detrimento dos interesses de grupo, a fim de ajudarem a preservar a paz.
Apelou às igrejas para ajudarem neste processo, disponibilizando conhecimento científico para subsidiar a forma de agir de toda a sociedade.
Para tal, sugeriu que recorressem aos órgãos de comunicação social e outros afins, para fazerem chegar a mensagem ao maior número de angolanos, incluindo na diáspora.
O líder associativo apontou o diálogo como uma ferramenta fundamental para promover a confiança, tendo sugerido a criação de alguns espaços onde todos possam falar de forma aberta, envolvendo pessoas e instituições isentas.
Referiu que os partidos políticos e a sociedade devem ter boa postura, assente na tolerância, para se evitar que o processo resvale para eventuais conflitos.
Eleições transparentes
O diretor-geral da Acção para Desenvolvimento Rural e Ambiente (ADRA), Carlos Cambuta, apelou aos partidos ou coligações de partidos políticos e aos cidadãos, em geral, para optarem por uma conduta cívica.
Disse esperar que a sociedade olhe para as eleições como uma oportunidade para eleger o partido ou a coligação de partidos que estejam à altura de dirigir o país, tendo em conta os desafios do presente e do futuro.
“Os cidadãos devem assumir um comportamento baseado no respeito plural e na vontade de contribuir para a consolidação da paz e da reconciliação nacional”, disse.
Aconselhou os actores políticos a evitar discursos insultuosos e a passar à sociedade ideias positivas sobre a resolução dos variados males que enfermam o país.
Carlos Cambuta defendeu, igualmente, que as denúncias sobre fraudes eleitorais sejam encaradas como preocupação por todas as instituições e por todos os cidadãos.
“O país deve superar este desafio – confiança - com determinação, isto é, as denúncias sobre fraudes têm de ser acompanhadas de meios objectivamente verificáveis e, estando provadas, devem imediatamente ser corrigidas, sem prejuízo ao calendário conducente à realização das eleições. Deste modo, todos os cidadãos com capacidade eleitoral participam no pleito com o sentimento de maior segurança”, sublinhou.
Defendeu, também, que os órgãos de comunicação social públicos e privados reservem tratamento igual a todos os concorrentes, sobretudo no que diz respeito à cobertura jornalística dos actos políticos de massa.
Solicitou, inclusive, que os partidos políticos evitem ataques pessoais, porque em nada contribuem para o bom ambiente eleitoral necessário para o país.
“Apelamos, por esta razão, aos partidos concorrentes para optarem pelo debate de ideias sobre os variados assuntos de interesse nacional”, comentou.
Angola conta, estimadamente, com 33 milhões, 97 mil e 671 habitantes, segundo dados recentes divulgados pelo Instituto Nacional de Estatísticas (INE).
Destes, 64,9 por cento é jovem, estimando-se em 21 milhões, 475 mil e 348 pessoas com idade igual ou inferior a 25 anos.
Para as eleições gerais deste ano, são esperados 14 milhões e 399 mil eleitores, dos quais 22.560 no estrangeiro.
As eleições deste ano, que terão pela primeira vez a participação dos angolanos na diáspora, são as quintas da história de Angola, depois das de 1992, 2008, 2012 e 2017.
A votação no exterior ocorrerá em 12 países e 26 cidades, tais como África do Sul (Pretória, Cidade do Cabo e Joanesburgo), Namíbia (Windhoek, Oshakati e Rundu), República Democrática do Congo (Kinshasa, Lubumbashi e Matadi), Congo (Brazzaville, Dolisie e Ponta Negra) e Zâmbia (Lusaka, Mongu, Kolwezi).
Fora do continente, o voto será exercido no Brasil (Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo), na Alemanha (Berlim), na Bélgica (Bruxelas), em França (Paris), no Reino Unido (Londres), em Portugal (Lisboa, Porto) e nos Países Baixos (Roterdão).
O sufrágio anterior foi disputado a 23 de Agosto de 2017 por seis forças políticas, com a participação de 76,57 por cento dos pelo menos 9,3 milhões de eleitores.
O MPLA venceu por maioria absoluta, com 61 por cento dos votos, à frente da UNITA (26,67%) e da CASA-CE (9,44%).