Addis Abeba – O embaixador de Angola na Etiópia e representante permanente junto da União Africana (UA) e da UNECA, Miguel Bembe, enalteceu, quarta-feira, a cooperação em matérias de paz e segurança entre a organização continental e a Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
Ao apresentar uma moção de agradecimento no final da reunião inaugural de consultas entre o Conselho de Paz e Segurança (CPS) da UA e o Conselho de Mediação e Segurança (CMS) da CEDEAO, realizada em Abuja, Nigéria, o diplomata angolano destacou a importância da iniciativa que permitiu reiterar a necessidade da observância da tolerância zero, deliberada pela organização continental em todas as situações de mudanças inconstitucionais de governo.
Enfatizou o desejo dos participantes de harmonizar as diferentes abordagens e respectivas dinâmicas a nível continental e regional, e de promover uma advocacia colectiva destinada a mobilizar recursos para iniciativas de mediação e diplomacia preventiva, assim como para operações de paz.
O encontro saudou a decisão da União Africana de suspender seis dos seus Estados-Membros, devido a mudanças inconstitucionais de governo, designadamente o Burkina Faso, o Gabão, a Guiné, o Mali, o Níger e o Sudão.
Por isso, manifestou enorme preocupação face às situações pós-golpe de Estado que estão a tornar-se mais complexas pelo facto dos protagonistas demonstrarem enorme relutância em responder positivamente aos esforços regionais e continentais destinados a assegurar transições harmoniosas.
Os participantes reconheceram que o continente africano pode ser classificado como o epicentro do terrorismo a nível mundial, dado que cinco dos dez países mais afectados pelo terrorismo em termos globais se situam em África (Burkina Faso, Mali, Somália, Nigéria e Níger, por ordem decrescente de magnitude).
De acordo com os dados fornecidos pelo Centro Africano de Estudos e Investigação sobre o Terrorismo (ACSRT), só em 2023, África assistiu a mais de três mil ataques terroristas, que resultaram em mais de 15 mil e 500 mortes, tendo uma proporção significativa dessas tragédias ocorrido na região do Sahel.
“Os números reflectem um aumento acentuado tanto na frequência como na fatalidade dos ataques, o que significa uma escalada preocupante das capacidades e do alcance das facções terroristas”, refere a nota conceptual da reunião conjunta entre o CPS da organização continental e o CMS da CEDEAO.
O documento revela que o Sahel está a enfrentar um aumento dramático do terrorismo e do extremismo violento, devido a actividades terroristas entre 2007 e 2023, e que os seus riscos de propagação no continente são ainda mais exacerbados pelo aumento e pela vaga de mudanças inconstitucionais de governo e pela instabilidade política que lhes está associada.
“Da região do Sahel ao Corno de África, da bacia do Lago Chade à região dos Grandes Lagos, a atenção das autoridades estatais parece ter-se desviado do reforço das operações de luta contra o terrorismo para a segurança política e a consolidação do poder, oferecendo assim um refúgio aos grupos terroristas que gozam de liberdade de circulação nos seus corredores de mobilidade”, lê-se na nota.
Os participantes do evento concluíram que os frequentes ataques terroristas em alguns países do continente, agravados pela instabilidade política, incluindo múltiplos golpes de Estado, e a crise humanitária, criaram um ambiente precário que facilita a propagação dos grupos terroristas.
Estes grupos exploram as queixas locais, as fracas estruturas de governação e as disparidades socioeconómicas para expandir a sua influência, combinando tácticas tradicionais de terror com a criminalidade organizada para financiar as suas operações e reforçar as suas capacidades operacionais.
A reunião, que contou com a participação dos comissários para os assuntos Políticos, Paz e Segurança da UA e da CEDEAO, o nigeriano Bankole Adeoyee o ganense Abdel-Fatau Musahr, espectivamente, foi co-dirigida pela representante permanente da Gâmbia junto da organização continental, Jainaba Jagne, que preside o CPS neste mês de Abril e pelo representante permanente da Nigéria junto da CEDEAO e presidente do CMS, Musa Nuhu. ART