Benguela – O mundo terá, esta quarta-feira, as atenções viradas para a cidade de Benguela, como testemunha da inédita Cimeira Multilateral sobre o Corredor do Lobito, um dos pontos altos da visita a Angola do Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
O encontro ocorre no Complexo Industrial Carrinho, localizado na zona da Taka, arredores de Benguela, com as presenças dos Presidentes de Angola, EUA, República Democrática do Congo (RDC), Zâmbia e Tanzânia, respectivamente, João Lourenço, Joe Biden,Félix Tshisekedi, Hakainde Hichilema e Samia Suluhu.
Os cinco líderes vão reunir-se nas instalações da maior unidade fabril do país, com os olhos postos na aceleração da atracção dos investimentos necessários para o Corredor do Lobito, que poderá interligar os oceanos Atlântico e Índico.
Como disse, recentemente, a directora de Assuntos Africanos no Conselho de Segurança Nacional norte-americano, Frances Brown, o seu país já mobilizou, até agora, milhares de milhões de dólares para esse projecto, e “Joe Biden vai envolver-se com vários componentes desse esforço de infra-estrutura e elevá-los-á”.
Na ocasião, a coordenadora da Parceria para Infra-Estruturas e Investimentos Globais (PGI) no Departamento de Estado norte-americano, Helaina Matza, afirmou que os EUA são um membro importante do projecto, especialmente para a sua segunda fase.
Esta fase inclui a construção de 800 novos quilómetros na linha ferroviária que atravessa Angola, Zâmbia e RDC, que se somarão aos 1.344 quilómetros já existentes e que estão a ser renovados, lembrou Matza.
O objectivo, assinalou, é reduzir o tempo de trânsito da Zâmbia e Sul da RDC até ao Porto angolano do Lobito, dos actuais cerca de 45 dias para menos de uma semana.
A coordenadora frisou que esses investimentos ferroviários fazem diminuir os custos e os tempos de transporte terrestre, abrem o acesso a terras agrícolas aráveis e reforçam a cadeia de abastecimento para minerais energéticos críticos, “impulsionando o crescimento económico resiliente ao clima na região”.
Nos últimos 18 meses, os EUA mobilizaram quase cinco mil milhões de dólares para o próprio corredor e para “investimentos em novos projectos de energia limpa, incluindo energia solar”, bem como outras iniciativas de apoio à população e pequenos agricultores.
Os EUA assumem um papel fundamental no apoio ao desenvolvimento do Corredor, incluindo investimentos em infra-estruturas e equipamentos, bem como medidas para a facilitação do comércio e do trânsito.
Há ainda investimentos nos sectores relacionados com o fomento do crescimento sustentável e inclusivo e outros de capitais (cadeias de valor agrícola, energia, transporte/logística, educação e formação técnica e profissional) em Angola, na RDC e na Zâmbia.
Corredor do Lobito
Com gestão privada por um período de 30 anos, através do Consórcio ‘Lobito Atlantic Railway’, formado pelas empresas Vecturis, Trafigura e Mota Engil, o Corredor do Lobito integra o Porto, o Terminal Mineiro, o Aeroporto Internacional da Catumbela e o Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB), cuja linha se estende por mil 344 quilómetros de extensão até ao Luau, no Moxico.
Dado o papel estratégico para o desenvolvimento económico regional, foram investidos mais de dois mil milhões de dólares na reabilitação e modernização das infra-estruturas e meios circulantes do Corredor, com vista a dinamizar o transporte de mercadorias diversas, beneficiando os três países fronteiriços.
O Executivo angolano já projecta a construção da linha de 259 quilómetros de extensão, que vai ligar o país à Zâmbia, partindo do município de Luacano (Moxico) até à região fronteiriça zambiana de Jimbe.
A recuperação das vias-férreas da Zâmbia e da RDC é fundamental para permitir a sua interligação ao CFB, na zona do Luau, na fronteira de Angola, e, com isso, revitalizar o transporte de minério para o Lobito.
As duas principais infra-estruturas do Corredor, designadamente o Porto do Lobito e o CFB, preparam-se para enfrentar o desafio que se avizinha, por via dos novos investimentos, assim como do interesse norte-americano e da União Europeia (UE) em aumentar o movimento de carga na região.
Com as infra-estruturas do Corredor do Lobito (Porto, Terminal Mineiro, CFB e Aeroporto) e o seu potencial agrícola, pesqueiro e salineiro, a província de Benguela e o país, de forma geral, vão registar, num futuro próximo, um grande crescimento económico, rumo ao seu desenvolvimento.
O acordo de criação da Agência de Facilitação de Transporte de Carga do Corredor do Lobito vai acelerar o crescimento do comércio doméstico e transfronteiriço, através da implementação de instrumentos harmonizados de facilitação do comércio, promovendo a participação efectiva de pequenas e médias empresas em cadeias de valor.
O Corredor do Lobito apresenta uma rota estratégica alternativa para os mercados de exportação da RDC e da Zâmbia e oferece a rota mais curta que liga as principais regiões mineiras dos dois países encravados ao mar.
Em Angola, o Corredor liga 40% da população do país, e estão a decorrer vários investimentos de grande envergadura na agricultura e no comércio nas províncias de Benguela, Huambo, Bié e Moxico, regiões atravessadas pelo CFB.
A assinatura do instrumento jurídico cria um quadro para os três países-membros da SADC desenvolverem conjuntamente leis, políticas, regulamentos e sistemas de corredores ‘harmonizados’, incluindo o desenvolvimento de infra-estruturas de forma coordenada e coerente.
A perspectiva é obter o alinhamento com o tratado da organização regional, protocolos e quadros de desenvolvimento, tais como o Plano Indicativo de Desenvolvimento Estratégico Regional 2020-2030.
Impacto regional
O Corredor do Lobito tem uma importância estratégica para a região, uma vez que vai contribuir para a segurança alimentar e energética de Angola, da RDC e da Zâmbia, assim como para a criação de empregos nos três países.
Considera-se que o desenvolvimento do Corredor do Lobito é de capital importância para todos os integrantes desse projecto de grande envergadura e impacto interno e externo.
Vai impulsionar o agro-negócio, a indústria alimentar, o processamento de matérias-primas, designadamente de minerais críticos para a manutenção e o incremento da indústria automóvel, que vão circular e transpor fronteiras até aos mercados internacionais.
O Corredor do Lobito apresenta-se, também, como uma plataforma de dinamização das economias provinciais e nacionais, permitindo a criação de postos de trabalho directos e indirectos. Contribuirá, igualmente, de forma decisiva, para a coesão do crescimento económico do interior do país, fortalecendo as trocas comerciais entre osEstados que o integram, para além de permitir o acesso logístico de escoamento e importação de bens.
Porto do Lobito e CFB
O Porto Comercial do Lobito foi criado, em 1902, por decreto do então presidente do seu Conselho, Teixeira de Sousa, datado de 28 de Novembro desse mesmo ano.
Na mesma altura, o rei de Portugal, D. Carlos I, outorgou, em nome do Governo português, ao cidadão inglês Robert William o contrato de construção e exploração do CFB, com duração de 99 anos.
Nos termos da concessão, o CFB ligaria o Lobito ao Planalto Central, seguindo para o Leste, para atingir a fronteira luso-belga, onde havia a produção de minério para a exportação.
Ao iniciar-se, a 01 de Março de 1903, o trabalho de construção da linha-férrea, começava também a história do Porto do Lobito.
A primeira obra portuária construída no Lobito, que prestou relevantes serviços durante 30 anos, foi uma ponte-cais que, apesar da proximidade da terra, permitia a atracação simultânea de três unidades de longo curso e duas de cabotagem ou pequeno calado, obra que honrou o CFB, seu construtor.
Entre 1906 e 1911, para além de outros estudos anteriores, o capitão de engenharia Sebastião Nunes Matos e o engenheiro Carlos Roma Machado elaboraram estudos ligados à obra portuária.
A construção impunha-se com base na importância do Lobito como porto de tráfego internacional a que seria elevado, assim que o CFB atingisse a fronteira e fosse iniciado o serviço combinado, em ligação às linhas férreas dos países vizinhos, após a união dos carris daquele aos da linha do Caminho de Ferro do Katanga (RDC).
Várias foram as opiniões, de gente responsável, quanto à localização da obra portuária, até que, obedecendo ao estudo da planta de 1920, as construções foram adjudicadas, no ano seguinte, à firma inglesa Pauling & Company, iniciadas de imediato e terminadas a 31 de Janeiro de 1928.
Houve necessidade de reorientação diferente das obras,por motivo de urgência na sua conclusão, em face da Convenção Luso-Belga (Convenção Luso-Belga para o Estabelecimento de Comunicações entre Angola e Congo, actual RDC, de 9 de Abril de 1918).
A circulação ferroviária do Lobito (Km 0) ao Luau(Moxico), numa extensão de 1.344 quilómetros, foi reiniciada em 2013, após paralisação por longos anos,devido ao conflito armado, e na sequência da sua reabilitação e modernização do CFB, lançada em 2006,sob responsabilidade dos chineses da CR-20.
Em Tenque (RDC), o CFB encontra-se ligado aos sistemas ferroviários deste país e da Zâmbia. Através da ligação a esse último, é possível chegar-se à cidade da Beira, em Moçambique, e Dar-es-Salan, Tanzânia, junto ao oceano Índico.
Também se encontra ligado, indirectamente, ao sistema ferroviário da África do Sul. Desta forma, o CFB faz parte de uma rede ferroviária transcontinental.
Grupo Carrinho
O Grupo Carrinho foi fundado em 1993, na cidade do Lobito, província de Benguela, e conta com 6.800 trabalhadores espalhados pelo país.
É detentor de um Complexo Industrial composto por 17 fábricas, com capacidade de processar 2,4 milhões de toneladas de produtos diversos.
Possui, actualmente, a maior estrutura de armazenamento do país, com uma capacidade de 100 mil toneladas de cereais e 55 mil metros cúbicos de tanques. CRB/IZ