Ondjiva - O general na reforma Mateus Miguel Ângelo “Vietnam” afirmou que a Batalha do Cuito Cuanavale, decorrida no período de 15 de Novembro de 1987 a 23 de Março de 1988, foi determinante e necessária para resolver de forma decisiva o problema da invasão sul-africana a Angola e da libertação da África Austral.
Em declarações este sábado à ANGOP, o antigo comandante da brigada estacionária na região recordou os antecedentes políticos, sociais e económicos que estiveram na génese destes confrontos ocorridos na então província do Cuando Cubango, actual Cuando.
O general fez uma contextualização histórica nacional do período pós independência, que envolveu os três movimentos de libertação, recordando que, no teatro das operações, apenas o MPLA e a UNITA participaram da acção que envolveu três países (Angola, África do Sul e Namíbia).
Falou, ainda, da formação das alianças externas dos confrontos travados pelas FAPLA, apoiadas pela ex União Soviética e pelo Exército cubano contra as FALA da UNITA, apoiadas pelo Exército sul-africano e pelos Estados Unidos.
Outrossim, realçou a coragem e determinação dos angolanos na guerra que conduziu à libertação da África Austral, assim como o papel das forças cubanas na prestação da assessoria ao Exército angolano, na planificação e concepção de ideias executadas pelas FAPLA.
Neste contexto da autodeterminação da África Austral, disse ser oportuno destacar o grande contributo dos então comandantes Em Chefe José Eduardo dos Santos e Fidel de Castro, que não pouparam esforços em apoiar a luta dos povos oprimidos de África.
O general Vietnam debruçou-se ainda sobre o cronograma que marcou incisivamente a batalha do Cuito Cuanavale, nomeadamente, a invasão e ocupação do território da província do Cunene pelas forças sul-africanas, com o objectivo de neutralizar as forças da SWAPO e assumir o controlo deste território.
Explicou que a batalha foi uma sucessão de eventos iniciados no Cunene, com particular realce para o município da Cahama, razão pela qual há a necessidade de se transcrever a história da batalha do Cuito, colhendo depoimentos dos vários participantes na operação.
“O Cunene constitui, sem sombra de dúvidas, o símbolo da resistência das diferentes batalhas contra a ocupação sul-africana, com o início da invasão a Ondjiva, em 1981, e das diferentes batalhas travadas no Xangongo, no Cuvelai e Cahama, Tchipa e Calueque”, defendeu.
Disse que os sul-africanos temiam que este território podesse ser umas das principais fontes para a base da SWAPO e juntaram homens, unidades e teatro operativo que já dominavam e, em caso de risco, intervenção imediata.
Mateus Ângelo descreveu a valentia, determinação e ousadia demonstrada pelas forças durante estes confrontos, que levaram os sul-africanos a pensar que os combates estavam a ser feitos pelas tropas cubanas.
Enfatizou que este grande simbolismo demonstrado no teatro destas batalhas foi decisivo para a libertação da África Austral e culminou com a Independência da Namíbia, a libertação de Nelson Mandela e a eliminação do sistema do apartheid.
Defendeu uma reconstituição da história entre as partes, para que cada um possa dar o seu parecer e sugestões para descrever a história militar real de Angola.
O general lembrou que chegou ao Cuito Cuanavale sob ordem do então Comandante em Chefe, José Eduardo dos Santos, que orientou a movimentação da 10.ª Brigada estacionária de Lândana (província de Cabinda), da qual era comandante em substituição do general Eusébio de Brito, criando a 16.ª Brigada para defender a região.
“Vim como comandante de brigada e acabei por passar por todas as estruturas, depois de sucessivas nomeações, até chegar ao nível de chefe do Estado-Maior do Exercito”, recordou.
Os confrontos da Batalha do Cuito Cuanavale culminaram com a assinatura dos Acordos de Nova Iorque, dando origem à implementação da resolução 435/78 do Conselho de Segurança da ONU, levando a retirada das forças cubanas de Angola, a libertação de Nelson Mandela e a independência da Namíbia.
Este ano, o 23 de Março marca as celebrações do 37.º aniversário do Dia da Libertação da África Austral sob o lema ”preservar e valorizar as conquistas alcançadas, construindo um futuro melhor”.FI/LHE/IZ