Luanda - Angola celebrou hoje, 4 de Janeiro, o Dia dos Mártires da Repressão Colonial, em memória aos acontecimentos do ano de 1961, na província de Malanje, quando milhares de camponeses na época foram mortos barbaramente pelo regime colonial.
O episódio ficou conhecido como “Massacre da Baixa de Cassanje”, pela morte de perto de seis mil agricultores angolanos por reivindicarem contra os preços baixos do algodão, praticados pela Companhia Geral de Algodão “Cotonang” pelos maus tratos impostos pelo opressor português.
Hoje, 63 anos depois, o acto central das comemorações da efeméride ocorreu no município do Xá-muteba, província da Lunda-Norte, sob lema “Com o espírito do 4 de Janeiro, antigos combatentes unidos para o desenvolvimento de Angola”.
A História conta que os únicos rendimentos dos agricultores, na altura, apareciam no final de cada campanha, com a venda obrigatória do algodão à empresa Cotonang, que estabelecia preços reduzidos e frequentemente comprava produtos de primeira classe a valores de segunda.
Na antiga administração colonial, o Imposto Geral Mínimo (IGM) subia com frequência, sendo que houve uma altura em que saiu de 250 para 350 escudos.
Um camponês contratado, para pagar o (IGM), tinha que vender pelo menos 10 sacos de 50 quilos de algodão ou era obrigado a contrair dívidas para o amortizar na colheita seguinte.
Segundo o historiador João Reis, o 4 de Janeiro reveste-se de extrema importância, na medida em que marca um dos primeiros momentos da revolução dos angolanos contra a colonização portuguesa.
O académico lamenta o facto de a nova geração não saber muita coisa sobre o Dia dos Mártires da Repressão Colonial porque “muito se fala sobre a data, pouco se transmite sobre a mesma”.
Portanto, apela para a necessidade de se trabalhar com os historiadores para transmitir os conhecimentos à nova geração sobre a importância e o impacto social de que se revestem os factos ocorridos na referida data em causa.
Polémica das compensações
Quanto às reivindicações de algumas associações sobre a compensação, por parte de Portugal, decorrentes dos eventos da Baixa de Cassanje de 1961, o sociólogo José Ventura entende que este país europeu não deve nada a Angola, uma vez que os acontecimentos fazem parte de um processo histórico, político e económico do expansionismo português.
O sociólogo avança ainda que, a nível de Portugal, as opiniões divergem, sendo que umns acreditam e pensam que o país devia olhar para esta questão, com o fim de ajudar os países colonizados.
“Ajudar é uma coisa e retribuir outra. Pagar pelos danos ou por aquilo que foram as suas práticas colonizadoras não”, sublinhou.
José Ventura entende que Portugal pode contribuir com o seu conhecimento em várias áreas, como tecnologia e agropecuária, uma vez que Angola mantém uma relação profícua com este país.
De acordo com o Boletim Informativo do Governo de Angola, publicado na época, os soldados que dispararam as primeiras horas da manhã de 4 de Janeiro de 1961 tinham acampado, desde às 17 horas do dia 3 de Janeiro, no domingo, na sede municipal do Quela.
Este acto deu sequência a outros, tais como o do 4 de Fevereiro de 1961, em que um grupo de bravos angolanos, melhor organizados, armados de catanas, atacou cadeias e outras posições da Polícia Política Portuguesa (PIDE-DGS).
Os sobreviventes remeteram-se à clandestinidade e depois à guerrilha. Um mês depois, entre 15 e 18 de Março, eclodiu outra revolta com ataques às fazendas de Café dos Dembos, Úcua, Negage e Nambuangongo.
A Baixa de Cassanje é uma imensa depressão geográfica, com 80 mil quilómetros distribuídos entre Malanje e as Lundas.
O espaço compreende as aldeias de Cambo Sunginge, Zungue, Kanzage, Wholo dia Coxi, Santa Comba, Mulundo, Teca dia Kinda, Xandel, Moma, longo Milando e Massango (Forte República) nos municípios de Cahombo, Marimba, Cunda Dia Baze e Quela. EH/IZ