Luanda - A nacionalista angolana Luzia Inglês “Inga” destacou, sexta-feira, o sacrifício e bravura dos milhares de angolanos da região da Baixa de Cassanje, província de Malanje, que deram corpo à luta pelos direitos sociais e civis contra o colonialismo português.
Em entrevista à ANGOP a propósito do 4 de Janeiro, Dia dos Mártires da Repressão Colonial, que hoje (sábado) se assinala, a nacionalista salientou o facto destes camponeses não terem pegue em armas, sendo pois uma revolta pacifica.
Emocionalmente falando sobre esta região, Malanje, onde nasceu a sua progenitora, salientou que esta foi uma revolta de angolanos, camponeses, ocorrida no ano de 1961, que já estavam cansados da forma como eram explorados.
A antiga combatente da guerrilha anti-colonial destaca também o facto desta (revolta) ter ocorrido numa altura em que também os políticos, noutras regiões, estavam já preparados para também fazer surgir outros eventos, como foi o caso do 4 de Fevereiro, data do início da Luta Armada.
Na opinião de Luzia Inglês “Inga”, depois de quase 500 anos de colonização em Angola, esta foi uma demonstração dos angolanos de que estavam cansados.
“Os camponeses já estavam cansados de serem explorados, não podiam fazer trabalhos nas suas próprias terras. As boas terras pertenciam aos colonos e eles tinham de trabalhar para estes, sendo que muitas vezes não eram pagos, quando o fossem era uma ninharia, o que praticamente se consubstanciava em trabalho escravo”, argumentou.
Por este facto, considera que deve-se educar a juventude para que possa respeitar o sacrifício das anteriores gerações, que muito fizeram para que houvesse a libertação do jugo colonial.
“Infelizmente as associações e alguns grupos políticos não têm feito o devido trabalho com as comunidades para educarmos a juventude que hoje apresenta grandes debilidade e muitas vezes querendo ter benéficos sem sacrifícios”, disse.
Disse ainda que estes sacrifícios significam “um maior empenho no trabalho para o desenvolvimento desta pátria pela qual muitos de nós lutaram no sentido da conquista da independência que está a caminho dos seus 50 anos”.
Para esta nacionalista, tem havido muitas falhas no processo de transmissão de conhecimentos sobre a importância e valorização de aspectos ou datas como o 4 de Janeiro, sobretudo por parte de associações, igrejas ou mesmo de organizações políticas, daí o facto de as novas gerações não dominarem perfeitamente os meandros e contornos destes acontecimentos.
No entanto, elogiou o papel da comunicação social, porque neste contexto alguma coisa tem sido feita para não deixar que a história se apague.
A 4 de Janeiro de 1961 trabalhadores agrícolas camponeses da Baixa do Cassange empregados pela Companhia Geral dos Algodões de Angola (COTONANG), empresa luso-belga proprietária de latifúndios de plantação de algodão, paralisaram suas actividades exigindo melhores condições de trabalho e de vida, contra o atraso no pagamento de salários e contra a cultura forçada de algodão.
Entre estes, teve um grande peso a obrigatoriedade imposta pelo regime colonial da produção da cultura do algodão no território da Baixa do Cassange, numa comunidade de camponeses que até então vivia da produção agrícola.
Para conter a revolta, as autoridades coloniais encetaram uma brutal repressão que levou à morte de milhares de angolanos.
O 4 de Janeiro de 1961 é uma data fundamental no processo de luta pela independência de Angola. MEL/SC