Luanda - Angola celebra hoje, sábado, o 36° aniversário da vitória da Batalha do Cuito Cuanavale sobre as Forças de Defesa da África do Sul do então regime do apartheid, um feito heróico nacional com repercussão regional.
Por Adérito Ferreira, jornalista da ANGOP
Como corolário do seu impacto regional, a efeméride é simultaneamente comemorada como Dia da Libertação da África Austral, que este ano entrou na sua sexta edição.
Na histórica batalha, que ganhou o cognome da vila do Cuito Cuanavale, na província do Cuando Cubango (sudeste do país), as forças governamentais, as então Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA), auxiliadas por tropas cubanas, quebraram o mito da invencibilidade do Exército sul-africano.
A intervenção sul-africana nos combates foi em apoio às extintas forças militares da UNITA, FALA, num conflito “interno” que se seguiu à proclamação da Independência Nacional, obtida a 11 de Novembro de 1975.
Travada entre 1987 e 1988, a 189 quilómetros a leste da sede provincial do Cuando Cubango, Menongue, a Batalha do Cuito Cuanavale é descrita em determinadas fontes como o maior confronto militar em Angola, o mais prolongado no continente africano, desde a II Guerra Mundial, e segunda maior batalha de terreno do século XX.
O seu desfecho ditou a expulsão das tropas do regime do apartheid que ocupavam a região, pondo em causa a integridade territorial e a soberania do país e ameaçando a estabilidade de toda a parte austral do continente.
Além de terminar com a longa hostilidade, o acontecimento estimulou a assinatura, a 22 de Dezembro de 1988, dos Acordos de Nova Iorque, que impulsionaram a implementação da Resolução 435/78 do Conselho de Segurança da ONU sobre a Independência da Namíbia, obtida a 21 de Março de 1990.
Os entendimentos de Nova Iorque também impuseram a retirada das forças cubanas e sul-africanas de Angola, o fim do regime de segregação racial, na África do Sul e, por conseguinte, a libertação de Nelson Mandela, depois de 27 anos de reclusão.
Como reconhecimento do papel desempenhado por Angola e dos benefícios que abrangeram parte considerável da região, a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) adoptou, em 2018, por unanimidade, o 23 de Março, como “Dia da Libertação da África Austral”.
No local dos eventos, encontra-se erguido hoje o Memorial "Vitória da Batalha do Cuito Cuanavale”, num espaço de 50 metros de comprimento, no qual está retratada a concentração das unidades militares das FAPLA, a sua caminhada para a vitória e as unidades em defesa da vila.
Há cerca de um ano, a província do Cuando Cubango foi palco de um exercício de manobras militares, assistido pelo comandante-em-chefe das Forças Armadas Angolanas (FAA), João Lourenço, igualmente Presidente da República.
Na ocasião, o estadista sublinhou que, em tempo de paz, as FAA têm a oportunidade de ajustar-se à ausência de um inimigo real identificado, reorganizar-se e modernizar-se com o que há de melhor no mundo em armamento, técnica e equipamentos militares.
As FAA, acrescentou, devem ser capazes de cumprir o papel que a Constituição e a lei lhes confere, a da defesa da Independência, da soberania nacional, da integridade territorial e do combate a qualquer tentativa de subversão do poder legitimamente constituído, a defesa da paz e da reconciliação nacional, da democracia para que Angola possa dedicar-se, sobretudo, ao desenvolvimento económico e social.
Com este propósito, e com vista a tirar-se o melhor proveito dos abundantes recursos naturais, culturais, históricos e humanos do Cuando Cubango, em particular do município do Cuito Cuanavale, com 60 por cento do seu território ainda minado, está em curso “um árduo trabalho de desminagem”, segundo informação recente de fonte do governo provincial.
A tarefa, a cargo de uma brigada de Engenharia Militar e da ONG britânica The Halo Trust, já permitiu a desminagem de mais de sete mil e 200 campos, propiciando a prática da agricultura no histórico município. ADR/VIC/IZ